"Os programas de governo são uma obrigação da vida política. Mas o "novo Portugal" que o PS quer podia começar por os reformar
A uma semana das eleições europeias, das quais todos farão as clássicas leituras "domésticas", o PS apresentou o seu novo programa para governar o país.
Chamou-lhe Contrato para a Confiança, tem 28 páginas, cinco grandes temas e 80 "propostas".
O índice oficial não fala em "novo Portugal", mas é essa a proposta. O PS propõe, sem pudor, uma "nova forma de fazer política" e com isso criar "um novo caminho", "um novo tipo de desenvolvimento", uma "nova centralidade" e um "novo conceito estratégico".
Uma vez no poder, o PS vai "acabar", "revogar", "repôr", "eliminar" e "recusar" praticamente tudo o que hoje existe e tentar assim passar uma esponja sobre os últimos três anos de austeridade. O ponto 27, que já fez títulos de jornais e tv, diz: "Não aumentar a carga fiscal durante a próxima legislatura". O 30, "Não despedir funcionários públicos."
Infelizmente, como todos já percebemos, a austeridade vem com duas certezas inexoráveis: não poderá ser apagada e está para ficar, com ou sem Passos Coelho em São Bento.
Não é que o documento do PS não tenha ideias interessantes. Tem, muitas até e algumas absolutamente certeiras (como os pontos 66 e 70).
Mas está cheio de frases perfumadas tipo "a sociedade do bem-estar não é só PIB" ou "o emprego tem de estar no coração de todas as políticas". E de sonhos tirados da Gaveta do Eterno Futuro (lá está o potencial do porto de Sines do qual ouvimos falar desde os anos 1960, lá está o potencial do mar regressado nos anos 1990, lá está a língua portuguesa, o I&D...). E também de clichés ocos nascidos com a globalização, como a necessidade de se "trabalhar em rede". Para não falar na frase feita que ouvimos todos os dias alguém dizer: "Reformar o sistema de justic¸a" de modo a que tudo seja mais "célere". E de piscar o olho a todos os insatisfeitos - dos professores aos sindicatos, passando pelos pensionistas, os médicos e os juízes.
É verdade que nem os mais cínicos poderão dizer que é indiferente quem está no poder. O PS tem ideias diferentes das da coligação PSD-CDS. A mais relevante é provavelmente esta: "As reformas devem ser graduais." Gradual foi coisa maldita nos últimos três anos. E sabemos o resultado.
O problema é que o texto, como são sempre estes textos, no PS ou noutros partidos, são aquilo que não querem ser. Neste caso, um belíssimo rol de boas intenções, mas incapaz de seduzir ou mobilizar os cidadãos. A nova forma de fazer política podia começar por reformar este tipo de documentos" (Público)
A uma semana das eleições europeias, das quais todos farão as clássicas leituras "domésticas", o PS apresentou o seu novo programa para governar o país.
Chamou-lhe Contrato para a Confiança, tem 28 páginas, cinco grandes temas e 80 "propostas".
O índice oficial não fala em "novo Portugal", mas é essa a proposta. O PS propõe, sem pudor, uma "nova forma de fazer política" e com isso criar "um novo caminho", "um novo tipo de desenvolvimento", uma "nova centralidade" e um "novo conceito estratégico".
Uma vez no poder, o PS vai "acabar", "revogar", "repôr", "eliminar" e "recusar" praticamente tudo o que hoje existe e tentar assim passar uma esponja sobre os últimos três anos de austeridade. O ponto 27, que já fez títulos de jornais e tv, diz: "Não aumentar a carga fiscal durante a próxima legislatura". O 30, "Não despedir funcionários públicos."
Infelizmente, como todos já percebemos, a austeridade vem com duas certezas inexoráveis: não poderá ser apagada e está para ficar, com ou sem Passos Coelho em São Bento.
Não é que o documento do PS não tenha ideias interessantes. Tem, muitas até e algumas absolutamente certeiras (como os pontos 66 e 70).
Mas está cheio de frases perfumadas tipo "a sociedade do bem-estar não é só PIB" ou "o emprego tem de estar no coração de todas as políticas". E de sonhos tirados da Gaveta do Eterno Futuro (lá está o potencial do porto de Sines do qual ouvimos falar desde os anos 1960, lá está o potencial do mar regressado nos anos 1990, lá está a língua portuguesa, o I&D...). E também de clichés ocos nascidos com a globalização, como a necessidade de se "trabalhar em rede". Para não falar na frase feita que ouvimos todos os dias alguém dizer: "Reformar o sistema de justic¸a" de modo a que tudo seja mais "célere". E de piscar o olho a todos os insatisfeitos - dos professores aos sindicatos, passando pelos pensionistas, os médicos e os juízes.
É verdade que nem os mais cínicos poderão dizer que é indiferente quem está no poder. O PS tem ideias diferentes das da coligação PSD-CDS. A mais relevante é provavelmente esta: "As reformas devem ser graduais." Gradual foi coisa maldita nos últimos três anos. E sabemos o resultado.
O problema é que o texto, como são sempre estes textos, no PS ou noutros partidos, são aquilo que não querem ser. Neste caso, um belíssimo rol de boas intenções, mas incapaz de seduzir ou mobilizar os cidadãos. A nova forma de fazer política podia começar por reformar este tipo de documentos" (Público)