quarta-feira, junho 19, 2013

Opinião: "Portugal"

“Portugal é um país com toda a espécie de palhaçadas. Chamar palhaço ao político Cavaco Silva, que é Presidente da República, pode ser crime, sendo certo que o jornalista Miguel Sousa Tavares considerou que se excedeu mas, mesmo assim, o assunto gerou grande debate. Já o político Mário Soares, antigo presidente da República, acusar alguém de fazer chantagem sobre o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros e insinuar que Paulo Portas tem muito a esconder no caso dos submarinos é igual ao litro. Não se passa nada. Ficamos a saber que ser palhaço, em Portugal, é muito pior que ser chantagista ou corrupto. E ficamos a saber também que algumas pessoas podem dizer o que lhes apetecer, porque é igual ao litro. Sendo que quando isso acontece com Soares é triste.
Portugal é o país de toda a contestação. Contesta-se a existência de cursos superiores a mais, alguns com meia dúzia de alunos, e contesta-se que um qualquer governo queira pôr ordem nesta balbúrdia. Contesta-se a máquina do Estado por ser demasiado grande, e consumir gulosamente a nossa riqueza, e contesta-se que um qualquer governo queira aplicar uma banda gástrica no monstro. Contesta-se os governos pouco interventivos e contesta-se os que se metem em tudo e mais alguma coisa. Contesta-se os políticos que enganaram o povo e contesta-se o povo que não aplaude os políticos que prometem este mundo e o outro.
Portugal é o país do faz de conta. Faz de conta que a culpa é do outro e aí encontramos as nossas desculpas. Faz de conta que o problema é a austeridade que trouxe a pobreza, como se não soubéssemos que foi a falsa riqueza que trouxe a austeridade. Faz de conta que se aprendeu com os erros do passado, quando gritamos que os queremos cometer outra vez.
Portugal é o país em que o comentário político é feito maioritariamente por pessoas que António Variações bem definiu: "Tenho pressa de sair/ Quero sentir ao chegar/ Vontade de partir/ Para outro lugar." É por isso que se gerou um grande consenso sobre a necessidade de chamar a troika e aplicar um rigoroso plano de austeridade para agora parecer que ele nos foi imposto por alguém que nos quer mal. É por isso que a quase totalidade dos comentários pediam a saída de Sócrates e a chegada de Passos Coelho e agora, com a legislatura a meio, o que se pede é a partida de quem chegou. E voltará a repetir-se o refrão.

Portugal é um país que sofre, que vai sofrer ainda muito tempo, mas que tem de saber que a cirrose de um alcoólico não se cura com uma garrafa de vinho. O mesmo é dizer que o excesso de dívida não pode ser resolvido com mais dívida, mesmo que nos digam que é para pôr o País a crescer. A última vez que nos disseram isto, deu no que deu” (texto de Paulo Baldaia, DN de Lisboa, com a devida vénia)