"Aos
poucos instala-se a ideia de que Vítor Gaspar é o mal deste Governo. E que deve
ser afastado. Já. Ou talvez depois das autárquicas, em outubro. Ou talvez
depois da saída da troika, para o ano.
Gaspar
é insensível, não percebe nada de política, não tem credibilidade. Ok. E eu
pergunto, mas não haveria no Governo quem soubesse de política e fosse
sensível? Porque quanto à credibilidade, digamos que a de Gaspar é igual à de
qualquer outro que lá estivesse no momento. Ninguém tem o que em política se chama
credibilidade a aumentar impostos e cortar salários.
Entendamo-nos.
Gaspar foi um dos fiéis executores da política governamental. É certo que
assumiu um erro brutal: o de não ter começado pela reforma do Estado. Mas eu
aposto singelo contra dobrado que o primeiro-ministro, o ex-ministro Relvas e
muitos outros acharam essa ideia genial.
O
que faltou e falta ao Governo foi condução política. Em primeiro lugar,
estratégia - desde logo a de que tinha de ser o Estado o primeiro a dar o
exemplo no ajustamento (e não o último, como se está a ver, pois as famílias e
empresas já ajustaram). Em segundo lugar sentido de Estado e de compromisso - o
Governo não entendeu de que necessitava do PS e dos parceiros sociais para
trabalhar e que, começando ao contrário agora não pode contar com essa
disponibilidade.
Por
isso me parece que a ideia de afastar Gaspar nada tem a ver com a correção de
erros. Pelo contrário: parece-me que a ideia é afastar a cara da austeridade
para se poder voltar à política habitual - gastar o que não há, dizendo que a
crise acabou.
E
isso é o que me assusta" (texto de Henrique Monteiro, Expresso com a
devida vénia)