quarta-feira, abril 06, 2011

Opinião: Facturas de gregos e irlandeses

"A maioria das pessoas ouve falar do FMI, de ajuda externa, de confusão entre FMI e Fundo Europeu Financeiro, mas ninguém lhes diz quais foram os custos, e que custos, que gregos e irlandeses tiveram de pagar por essa “ajuda”, disponibilidade que no texto ontem aqui publicado demonstrei que propiciou ao FMI lucros vergonhosos. Por outro lado, tal como acho que a Europa deveria agir de uma forma violenta e exemplar contra as agências de rating ligadas a interesses mafiosos americanos que actuam impunemente no nosso continente, tudo por causa da cotação da moeda e do controlo da economia e das finanças dos países mais vulneráveis, sou por princípio sempre a tudo o que dependa de interesses imperialistas americanos, particularmente no sector financeiro. Porque me cheira a máfia. Vejam bem: a crise de 2008 começou com o imobiliário nos EUA; levou à falência de várias instituições financeiras – um dos quais importante (Lehman Brothers) devido aos negócios que tinha na Europa, particularmente no sector bancário islandês, irlandês e de outros países europeus que resistiram melhor – mas esses bandalhos mafiosos das agências de notação financeira nem um sinal deram a tempo, advertindo os mercados para essa possibilidade. E se um dia, repito, se um dia, o povo português perder a sua calma e resolver agir pelos seus meios nos protestos contra essa gente, acho normal e compreensível Porque já é demais. Mas afinal, qual foi a factura paga pelos irlandeses e pelos gregos, depois de terem recorrido à “ajuda” do FMI que leva a Europa, cada vez mais enfraquecida, indo a reboque, sem capacidade de se impor e de reagir, uma União Europeia que não passa hoje de um bando de palhaços, incapazes de defender os interesses da Europa e dos europeus? No caso da Irlanda qual foi a factura imposta, visando o objectivo de poupar 15 mil milhões de euros até 2014 (valor que depois subiu para 25 e que pelos vistos, face à situação da banca, poderá chegar aos 60 mil milhões…): · aplicação de um doloroso plano de austeridade interna com redução drástica de gastos públicos do orçamento estatal irlandês; ·supressão de 24.750 empregos públicos (7% do total), retornando ao nível de 2005, e ajustes na massa salarial global da ordem de 1,2 mil milhões de euros até 2014. Para isto, o governo reduzirá em 10% os salários dos novos funcionários em relação ao padrão actual e colocará em prática um novo plano de reformas de pessoal; · aumento do IVA de 21% para 22% até 2013 e a 23% em 2014, para arrecadar 620 milhões de euros a mais; · corte de 10% no salário mínimo (era de 1.500 euros); · aumento dos impostos sobre o rendimento; · corte nas pensões e nas reformas; · corte nos vencimentos da função pública; · aumento da taxas de matriculas escolares pagas pelos estudantes que passarão dos 500 euros actuais para cerca de 2000 euros; · revisão dos valores do subsídio de desempregados; · aumento da idade de reforma para os 66 anos em 2014, para os 67 em 2021 e para os 68 em 2028; · redução de 2,8 mil milhões de euros nos gastos sociais em quatro anos; · reintrodução em 2014 de um imposto sobre o consumo de água; · criação de um novo imposto destinado a financiar serviços públicos locais (receitas de 530 milhões de euros); · supressão ou redução de vantagens fiscais concedidas, numa poupança de 755 milhões de euros. No caso da Grécia, a previsão é para que o défice das contas públicas passe dos actuais quase 14% do PIB para 2,6% em 2014 – pese o facto da redução da despesa pública afectar o crescimento, que se cifrou em 4% do PIB em 2010, 2,6% em 2011, podendo apenas voltar ao terreno positivo (1,1%) em 2013 – implicou um conjunto medidas de austeridade, entre as quais destaco: · salários dos funcionários públicos durante pelo menos três anos, eliminação do 13º e 14º meses para todos os que ganhem mais 3.000 euros mensais. Os que ganhem menos que este valor receberão apenas um abono de 1.000 euros mensais nos 13º e 14º meses (subsídio de Natal e férias); · congelamento total da contratação de funcionários públicos e redução de todos os pagamentos extraordinários de natureza salarial; · eliminação do 13º e 14º meses pagos a reformados e pensionistas que auferiram valores iguais ou superiores a 2.500 euros mensais, estabelecimento da idade mínima de reforma nos 60 anos (vejam o que se passa em Portugal sem grandes confusões….) e estabelecimento de um novo cálculo para pensões tendo por base toda a vida laboral e não apenas os últimos anos de trabalho e descontos sociais; · aumento de forma gradual até 2015 dos anos mínimos de descontos para a segurança social, de 37 para 40 anos, necessários à obtenção da pensão completa; · aumento do IVA para 23% (era 21%), aumento em 10 pontos dos impostos sobre o tabaco, álcool e combustíveis, criação de um imposto especial às empresas com maiores lucros e um rol imenso de medidas relacionadas com os prejuízos falsificados de empresas, jogos, produtos de luxo e propriedade de imobiliária; · liberalização da legislação laboral facilitando o despedimento com aplicação de indemnização mais reduzida; · venda ou redução do sector empresarial do Estado, redução da participação estatal em sectores onde ainda existe essa participação e liberalização da energia e dos transportes; · redução dos municípios e entidades administrativas locais de 1.300 para 340 para garantir poupança ao Estado; · o Estado injectará 17.000 milhões nos bancos e criará de um fundo para evitar ataques especulativos no sector. Comentários para quê? Basta lembrar o que o JM há dias noticiou com destaque para percebermos o que nos espera em caso de recurso ao FMI e que nunca é demais recordar: “Bastaram seis anos de governação socialista liderada por José Sócrates, desde Março de 2005, data em que o primeiro-ministro assumiu a liderança do Governo após o PS ganhar por maioria absoluta as eleições Legislativas nacionais, para que as contas do país descambassem, levando a que Portugal enfrente neste momento um cenário de crise que, tudo indica, terá como corolário que o País tenha de recorrer à ajuda externa, nomeadamente junto do FMI. Para atestar a gravidade da situação desta “herança socialista” basta comparar os gráficos que aqui publicamos com a situação em que o País se encontrava em Março de 2005, quando José Sócrates passou a ser o primeiro-ministro, com a situação actual. Assim, no que se refere ao défice, em Março de 2005 este ficava-se pelos 5,6%. Seis anos mais tarde o défice já atinge os 8,6%. No que se refere ao capítulo da despesa pública total em Março de 2005 esta situava-se nos 45,8% do PIB (70 mil milhões de euros), subindo agora para os 50,2% (86 mil milhões de euros). Quanto à dívida pública (Estado + Empresas públicas), em Março de 2005 esta era de 77,3% (118 milhões de euros), quase duplicando ao fim de seis anos. Agora é de 116,6%, atingindo os 201 mil milhões de euros. O endividamento externo também subiu em flecha durante os governos de José Sócrates. Assim, em Março de 2005 era de 67,6% do PIB, o que significava que cada português devia nesse ano 10 mil euros, sendo agora de 104,3%, com cada português a dever agora 17 mil euros. A subida do desemprego é também outra pesada herança das políticas socialistas. Em Março de 2011 havia no País 420 mil desempregados, o que correspondia a uma taxa de desemprego de 7,7%. Hoje, em Março de 2011 a taxa de desemprego está nos 11,1%, o que significa que 617 mil portugueses estão sem trabalho. Por último, mas não menos importante, o esforço fiscal em Portugal situa-se acima da média da União Europeia. Se em Março de 2005 esse esforço situava-se nos 10% acima da média, a verdade é que em seis anos o referido esforço duplicou, situando-se agora em 20% superior à média da União Europeia”. (LFM, hoje no Jornal da Madeira)

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