sábado, abril 20, 2013

Rogoffgate: Afinal, economias muito endividadas até podem crescer...



Escreve o Dinheiro Vivo que "afinal, economias muito endividadas (mais de 90% de dívida pública) não tendem necessariamente para a recessão. Pelo contrário, cálculos refeitos com recurso a séries longas mostram, de forma inequívoca, que os países conseguem crescer e que a dívida não é o entrave que se diz ser. Razão: o estudo original está mal feito, sofreu pelo menos um erro grave no Excel, literalmente. A conclusão de três economistas - Thomas Herndon, Michael Ash e Robert Pollin, da Universidade de Massachusetts Amherst - caiu como uma verdadeira bomba num dos porta-aviões da teoria atual, que defende e sustenta as atuais políticas de austeridade conduzidas um pouco por todo o mundo e, com especial entusiasmo, em países sob ajustamento financeiro, caso de Portugal. O 'porta-aviões' em causa é o famoso estudo "Growth in a Time of Debt", publicado em 2010 por duas estrelas da academia, Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff. Este último economista até já veio a Portugal falar sobre o tema, a convite do Parlamento, e era tido como um dos maiores favoritos ao Nobel da Economia no ano passado.
O artigo "Does High Public Debt Consistently Stifle Economic Growth? A Critique of Reinhart and Rogoff", dos três investigadores de Massachusetts Amherst, desmonta de forma impiedosa os métodos duvidosos e, consequentemente, conclusões erradas a que chegaram Reinhart-Rogoff. De caminho põe em causa também os méritos que os levou ao trono da ciência económica que hoje está tão em voga na Europa, Estados Unidos, Japão e em instituições dominantes como FMI e OCDE.
“A taxa de crescimento real média do PIB para países com um rácio de dívida pública/PIB acima de 90% é, na realidade, 2,2% e não -0,1%” como concluem Reinhart-Rogoff (RR), disparam Thomas Herndon, Michael Ash e Robert Pollin.
Qual foi, então, o problema? Aparentemente, foram cometidos três erros crassos (alguns até se podem dizer pueris) na construção do modelos, na seleção dos dados e na utilização do Excel.
Conforme explicou ontem Mike Konczal, no blogue Next New Deal, do Instituto Roosevelt, aconteceram "exclusões seletivas" de observações (RR usaram apenas 96 anos de dados para países com mais de 90% de dívida quando na realidade dispunham de 110 anos de observações).
Os dados utilizados foram ainda "ponderados de forma não-convencional", o que acabou por favorecer a correlação entre mais dívida e menos crescimento.
Mas pior de tudo, é que o estudo tem um "erro de computação" no Excel. Basicamente, os economistas RR excluíram "acidentalmente" da análise uma parte de uma coluna com cinco países - Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá e Dinamarca. Um deles, a Bélgica, cresceu durante 26 a uma média de 2,6% com dívida acima de 90%, só para citar um dos casos mais sensíveis. Mas há outros relevantes que pura e simplesmente não entraram nas contas,
Ontem à tarde, Reinhart-Rogoff vieram defender-se, mas fugiram às críticas concretas, alegando que tinham medidas alternativas no estudo que batem certo. Na resposta, RR referem que uma outra medida (o crescimento mediano e não o médio) já é mais parecido com as conclusões de Thomas Herndon, Michael Ash e Robert Pollin.
Argumentaram ainda que o seu principal objetivo era comprovar a associação negativa entre dívida e crescimento e não que o alto endividamento leva a menos crescimento.
Alegar esta causalidade faz parte da cruzada de políticos, analistas e autoridades desde 2010 (o ano do estudo), que aproveitaram e citaram abundantemente as conclusões de RR para legitimar políticas que forçam a desalavancagem e o desendividamento como forma de terraplanar as economias para depois, dizem, lançar as bases de um crescimento mais "saudável" e "sustentado".
O artigo da dupla RR tem cido amplamente citado (mais de 500 vezes). Olli Rehn, o comissário europeu dos Assuntos Económicos, é um dos que ele recorreu.
Mas parece que as suas conclusões, se não forem falsas, podem estar totalmente inquinadas. É o que argumentam os economistas da Universidade de Massachusetts, que acabam por dar força à corrente keynesiana em que é a falta de crescimento que leva a mais dívida ( a maior carga de juros a pagar) e não o contrário.
Paul Krugman, o economista estrela de Princeton e laureado Nobel da Economia, também não perdeu tempo: "a resposta deles à nova crítica é mesmo, mesmo má", diz no seu blog do The New York Times.
Portanto, o debate a sério começou. Resta saber se ainda vai a tempo de reverter as espirais recessivas e o desemprego explosivo em vários países. Portugal, incluído".