Segundo o Público, num texto da jornalista Mariana
Oliveira, "Ana Leal está suspensa e impedida de entrar nas instalações
da estação de Queluz.Na manhã desta sexta-feira, a jornalista da TVI Ana Leal
recebeu uma nota de culpa que a suspende de funções e a informa que está
impedida de entrar nas instalações da estação televisiva até à conclusão do
processo disciplinar, aberto após uma participação da repórter ao Conselho de
Redacção contra uma notícia sua retirada do alinhamento do Jornal das 8 no
sábado de 26 de Janeiro, pela subdirectora Judite Sousa. A informação foi confirmada ao
PÚBLICO pelo advogado da jornalista, Ricardo Sá Fernandes. “É uma grande
surpresa porque estive com a Ana Leal quando foi ouvida durante o inquérito e a
matéria sobre a qual ela foi inquirida não tem qualquer relevância
disciplinar”, afirma o advogado. E acrescenta: “Recorreremos a tribunal se a
Ana for objecto de qualquer sanção disciplinar, por mais leve que seja”.Em
final de Março, o PÚBLICO noticiou que a TVI abriu um processo de inquérito, na
sequência da participação da jornalista Ana Leal ao Conselho de Redacção (CR).
Contactada então pelo PÚBLICO, a assessora de imprensa da TVI respondeu através
de um email: "A TVI não tem por hábito pronunciar-se sobre questões
internas, pelo que não se irá pronunciar sobre este assunto". Um advogado da estação de televisão
começara a ouvir, em meados de Março, vários dos envolvidos no episódio,
incluindo o director de informação, José Alberto Carvalho, e a subdirectora,
Judite Sousa. Igualmente inquirida foi a jornalista Ana Leal, o jornalista
Carlos Enes, elemento do CR e envolvido indirectamente no caso, a par de alguns
editores que combinaram as duas peças sobre o polémico Sistema Integrado das
Redes de Emergência e Segurança de Portugal, conhecido pela sigla SIRESP.
Em
causa, na notícia, estava o facto de o Departamento Central de Investigação e
Acção Penal (DCIAP), então dirigido por Cândida Almeida, ter avocado um
processo sobre a polémica parceria público-privada do SIRESP, mas depois ter
optado por não reabrir o caso. A
notícia de Ana Leal, que dava conta deste recuo do DCIAP numa altura em que se
aproximava a eventual renovação da comissão de serviço de Cândida Almeida (que
acabou por ser afastada pela nova procuradora-geral da República), deveria ter
sido emitida a 26 de Janeiro, a par de uma outra do jornalista Carlos Enes.
Esta última dava conta do não-funcionamento do SIRESP, durante a vaga de mau
tempo, ocorrida uns dias antes. Este sistema de comunicações custou ao Estado
mais de 500 milhões de euros, tendo a sua adjudicação dado origem a um
inquérito que acabaria arquivado em Março de 2008. A participação de Ana Leal
ao CR queixava-se da retirada da notícia do alinhamento e ignorava que a peça
tinha sido entretanto divulgada no 25.ª Hora, da TVI24, o que até os directores
ignoravam quando prestaram declarações ao PÚBLICO. A participação da jornalista
foi dirigida a José Alberto Carvalho e remetida aos elementos do CR, um órgão
que representa os jornalistas junto da direcção editorial. A repórter alertava
para situações que, do seu ponto de vista, podiam ter "repercussões
negativas para a imagem e credibilidade do jornalismo da TVI, bem como para o
prestígio dos seus profissionais". A participação visava, assim, "de
forma construtiva, esclarecer o que se passou". No início desta semana,
depois de conhecida a decisão da TVI de abrir o inquérito e temendo que Ana
Leal pudesse ser alvo de um processo disciplinar, seis membros do CR
confirmaram que o que analisaram foi um mero "pedido de esclarecimento da
jornalista" e não uma "participação de censura". Para clarificar
a questão, os membros do CR anexam à nota a acta da última reunião e a
participação de Ana Leal. Acrescentam que "o artigo 38 da Constituição da
República Portuguesa garante aos jornalistas o direito de participação na
orientação editorial dos órgãos de informação e o direito de elegerem o
CR".