Segundo
o Expresso, num texto do jornalista Jorge Nascimento Rodrigues, "é
pouco provável que funcione a mistura de reformas estruturais e
austeridade", dizem os dois economistas a resposta publicada no "The
New York Times", a mesma posição que Rogoff dissera em entrevista recente
ao Expresso. "Reestruturações de divida significativas e assunção de
perdas sempre estiveram no centro das nossas propostas para os países da
periferia da União Europeia, onde é pouco provável que funcione a mistura de
reformas estruturais e austeridade", dizem Carmen Reinhart e Kenneth
Rogoff na resposta aos críticos que os acusam de "falcões" da austeridade.
No artigo de opinião que publicaram hoje no "The New York Times" em
resposta aos críticos ("Reinhart and Rogoff: Responding to Our Critics
"), os dois economistas referem que, para fazer baixar a dívida, existem
historicamente quatro soluções: crescimento fraco e austeridade durante longo tempo;
um processo moderado de aumento da inflação; repressão financeira; e
reestruturação de dívida. "Desde há muito que sublinhamos a necessidade de
se usar criativamente toda a caixa de ferramentas no rescaldo de uma crise
financeira que já não havia há 75 anos", referem.
A
melhor solução
Sobre
essa caixa de ferramentas, em entrevista recente ao Expresso, publicada na
edição impressa de 19 de março, Rogoff explicou as suas inclinações: "Há
de facto várias ferramentas para lidar com o sobreendividamento, como eu e
Carmen Reinhart temos apontado, e que não servem apenas para os mercados
emergentes. Uma delas é mais inflação. Outra é o que chamamos de repressão
financeira. Outra é a assunção de perdas pelos credores de dívida, que pode ter
várias modalidades. Esta última parece-me a melhor solução. A deflação interna
e a desalavancagem são socialmente altamente stressantes". Nessa
entrevista realizada no seu gabinete no Departamento de Economia da
Universidade de Harvard, em Cambridge, Boston, o economista referia que há o
risco dos países periféricos, incluindo Portugal, ficarem mergulhados durante
15 anos numa estagnação ou num crescimento muito baixo, inclusive com períodos
de recessão. "Espera-vos uma situação dessas, se não houver um assumir de
perdas pelos credores das dívidas. Dificilmente se pode imaginar que é
sustentável o que se está a passar em certos países da zona euro com recessões
que poderão ultrapassar os níveis dos indicadores durante a Grande Depressão
(dos anos 30 do século passado), por exemplo, com a taxa de desemprego em
certos casos. Eu perguntei a altos responsáveis europeus: acham mesmo que vão
poder ter estabilidade social nesses países? Se não houver incumprimentos de
dívida (defaults), como serão os próximos dez anos?". Num artigo relacionado com a resposta
publicada hoje ("Debt, Growth and the Austerity Debate"
) e também disponível no "The New York Times", os dois autores
referem que o seu conselho habitual é que se evite "uma retirada demasiado
brusca dos estímulos [económicos à retoma], uma posição idêntica à da maioria
dos economistas convencionais". E, logo adiantam: "Em alguns casos,
defendemos propostas mais radicais, incluindo reestruturações de dívida (uma
expressão polida para um incumprimento parcial), quer publica ou privada. (...)
Desde há muito somos a favor de assunção de perdas na dívida soberana e na
dívida bancária sénior na periferia da Europa (Grécia, Portugal, Irlanda e
Espanha) para desbloquear o crescimento". Falando sobre as soluções
baseadas na austeridade, Rogoff disse na já referida entrevista ao Expresso:
"As reformas estruturais ajudam em qualquer cenário, isso é verdade. Não
digo que não seja impossível. Mas, as reformas estruturais são, aliás, difíceis
de medir. O nível de sobreendividamento é muito problemático, e provavelmente
necessita de renegociação". E concluía sobre o caminho na zona euro:
"O meu prognóstico é simples: as atuais políticas na zona euro terão de
ser modificadas".
Ora
atacados pela direita, ora pela esquerda
Na
resposta publicada no "The New York Times", Rogoff e Reinhart
recordam o artigo que publicaram em 2012 no "Journal of Economic
Perspectives", onde no último parágrafo referiam: "Este artigo não
deve ser interpretado como um manifesto para uma desalavancagem rápida da
dívida pública exclusivamente pela via da austeridade orçamental num ambiente
de desemprego elevado. A nossa revisão da experiência histórica também sublinha
que, excetuando situações de bancarrota total ou seletiva da dívida pública, há
outras estratégias para lidar com a dívida pública excessiva, incluindo a sua
reestruturação e uma pletora de conversões de dívida (voluntárias ou de outro
modo)". A finalizar a resposta publicada hoje, os dois economistas referem
os ziguezagues da crítica a que têm sido submetidos: "Na campanha
(eleitoral presidencial norte-americana), fomos muito criticados pela direita
porque teríamos permitido que o nosso trabalho fosse usado por outros como uma
racionalização da razão de uma retoma fraca do país depois da crise financeira.
Agora, somos atacados pela esquerda - sobretudo por aqueles que acham que os
riscos de uma dívida pública elevada não devem ser parte da conversa sobre
políticas". No já referido artigo relacionado com a resposta de hoje,
Reinhart e Rogoff afirmam que o seu artigo de 2010 (que foi criticado na semana
passada) foi "muitas vezes exagerado ou deturpado". "Em virtude
dos debates que ocorriam no mundo industrializado, de Washington a Londres, a
Bruxelas ou a Tóquio, àcerca do melhor caminho para a retoma económica saindo
da Grande Recessão, o artigo, juntamente com outra investigação que tinhamos
publicado, foi frequentemente citado - e, muitas vezes, exagerado ou deturpado
- por políticos, comentadores e ativistas atravessando o espectro
político", referem.