sábado, abril 27, 2013

Polémica: Rogoff e Reinhart rejeitam colagem à austeridade...



Segundo o Expresso, num texto do jornalista Jorge Nascimento Rodrigues, "é pouco provável que funcione a mistura de reformas estruturais e austeridade", dizem os dois economistas a resposta publicada no "The New York Times", a mesma posição que Rogoff dissera em entrevista recente ao Expresso. "Reestruturações de divida significativas e assunção de perdas sempre estiveram no centro das nossas propostas para os países da periferia da União Europeia, onde é pouco provável que funcione a mistura de reformas estruturais e austeridade", dizem Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff na resposta aos críticos que os acusam de "falcões" da austeridade. No artigo de opinião que publicaram hoje no "The New York Times" em resposta aos críticos ("Reinhart and Rogoff: Responding to Our Critics "), os dois economistas referem que, para fazer baixar a dívida, existem historicamente quatro soluções: crescimento fraco e austeridade durante longo tempo; um processo moderado de aumento da inflação; repressão financeira; e reestruturação de dívida. "Desde há muito que sublinhamos a necessidade de se usar criativamente toda a caixa de ferramentas no rescaldo de uma crise financeira que já não havia há 75 anos", referem.
A melhor solução
Sobre essa caixa de ferramentas, em entrevista recente ao Expresso, publicada na edição impressa de 19 de março, Rogoff explicou as suas inclinações: "Há de facto várias ferramentas para lidar com o sobreendividamento, como eu e Carmen Reinhart temos apontado, e que não servem apenas para os mercados emergentes. Uma delas é mais inflação. Outra é o que chamamos de repressão financeira. Outra é a assunção de perdas pelos credores de dívida, que pode ter várias modalidades. Esta última parece-me a melhor solução. A deflação interna e a desalavancagem são socialmente altamente stressantes". Nessa entrevista realizada no seu gabinete no Departamento de Economia da Universidade de Harvard, em Cambridge, Boston, o economista referia que há o risco dos países periféricos, incluindo Portugal, ficarem mergulhados durante 15 anos numa estagnação ou num crescimento muito baixo, inclusive com períodos de recessão. "Espera-vos uma situação dessas, se não houver um assumir de perdas pelos credores das dívidas. Dificilmente se pode imaginar que é sustentável o que se está a passar em certos países da zona euro com recessões que poderão ultrapassar os níveis dos indicadores durante a Grande Depressão (dos anos 30 do século passado), por exemplo, com a taxa de desemprego em certos casos. Eu perguntei a altos responsáveis europeus: acham mesmo que vão poder ter estabilidade social nesses países? Se não houver incumprimentos de dívida (defaults), como serão os próximos dez anos?".  Num artigo relacionado com a resposta publicada hoje ("Debt, Growth and the Austerity Debate" ) e também disponível no "The New York Times", os dois autores referem que o seu conselho habitual é que se evite "uma retirada demasiado brusca dos estímulos [económicos à retoma], uma posição idêntica à da maioria dos economistas convencionais". E, logo adiantam: "Em alguns casos, defendemos propostas mais radicais, incluindo reestruturações de dívida (uma expressão polida para um incumprimento parcial), quer publica ou privada. (...) Desde há muito somos a favor de assunção de perdas na dívida soberana e na dívida bancária sénior na periferia da Europa (Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha) para desbloquear o crescimento". Falando sobre as soluções baseadas na austeridade, Rogoff disse na já referida entrevista ao Expresso: "As reformas estruturais ajudam em qualquer cenário, isso é verdade. Não digo que não seja impossível. Mas, as reformas estruturais são, aliás, difíceis de medir. O nível de sobreendividamento é muito problemático, e provavelmente necessita de renegociação". E concluía sobre o caminho na zona euro: "O meu prognóstico é simples: as atuais políticas na zona euro terão de ser modificadas".
Ora atacados pela direita, ora pela esquerda
Na resposta publicada no "The New York Times", Rogoff e Reinhart recordam o artigo que publicaram em 2012 no "Journal of Economic Perspectives", onde no último parágrafo referiam: "Este artigo não deve ser interpretado como um manifesto para uma desalavancagem rápida da dívida pública exclusivamente pela via da austeridade orçamental num ambiente de desemprego elevado. A nossa revisão da experiência histórica também sublinha que, excetuando situações de bancarrota total ou seletiva da dívida pública, há outras estratégias para lidar com a dívida pública excessiva, incluindo a sua reestruturação e uma pletora de conversões de dívida (voluntárias ou de outro modo)". A finalizar a resposta publicada hoje, os dois economistas referem os ziguezagues da crítica a que têm sido submetidos: "Na campanha (eleitoral presidencial norte-americana), fomos muito criticados pela direita porque teríamos permitido que o nosso trabalho fosse usado por outros como uma racionalização da razão de uma retoma fraca do país depois da crise financeira. Agora, somos atacados pela esquerda - sobretudo por aqueles que acham que os riscos de uma dívida pública elevada não devem ser parte da conversa sobre políticas". No já referido artigo relacionado com a resposta de hoje, Reinhart e Rogoff afirmam que o seu artigo de 2010 (que foi criticado na semana passada) foi "muitas vezes exagerado ou deturpado". "Em virtude dos debates que ocorriam no mundo industrializado, de Washington a Londres, a Bruxelas ou a Tóquio, àcerca do melhor caminho para a retoma económica saindo da Grande Recessão, o artigo, juntamente com outra investigação que tinhamos publicado, foi frequentemente citado - e, muitas vezes, exagerado ou deturpado - por políticos, comentadores e ativistas atravessando o espectro político", referem.