sábado, abril 27, 2013

EUA: As histórias mais comoventes dos atentados



A história de Adrianne Haslet
Adrianne Haslet era bailarina profissional. Era. Desde que, no passado dia 15 de Abril, participou na Maratona de Boston e entrou para as estatísticas como uma de mais de 260 feridos do atentado que tirou a vida a outras três pessoas, Adrianne deixou de poder dançar. No hospital, amputaram-lhe a perna esquerda abaixo do joelho. Está a recuperar e já consegue andar, com recurso a um andarilho. Dentro de algumas semanas, tudo depende de como correr a reabilitação, vai participar no programa Dancing with the Stars. Aos 32 anos, diz que se sente honrada com o convite e garante que, apesar de não ter sido informada de que papel vai desempenhar no programa, tenciona voltar a dançar. Só não será no Arthur Murray Dance Studio, onde trabalhava. Com a detonação da segunda bomba, Adrianne viu o próprio pé esquerdo ser projectado para mais de um metro de distância. Achou que ia morrer. Com o marido, capitão da Força Aérea, regressado há apenas duas semanas de uma missão de quatro meses no Afeganistão, conseguiu rastejar até à porta de um restaurante. Adam Davis, também ele ferido, mas com menor gravidade, tirou o cinto e com ele improvisou um torniquete para controlar a hemorragia da mulher. Foram levados para uma zona com dezenas de outros feridos. Alguém escreveu um número na cabeça de Adrianne, à laia de triagem. “Rezei para que o número fosse alto o suficiente para me garantir ajuda. Só gritava: «Sou bailarina! Sou bailarina! Por favor, salvem o meu pé!»”, recorda. Não salvaram. Mas Adrianne está determinada em superar o atentado. Nem ela nem o marido participaram na maratona deste ano, tiveram apenas o azar de terem resolvido ir passear para a zona da meta, mas na edição de 2014 ela faz questão de entrar. “Quero mesmo voltar a dançar e também quero correr a maratona no próximo ano. Posso ter de cruzar a meta de rastos, literalmente a rastejar, mas se isso significar que consigo acabá-la é o que vou fazer.”
A história de Victoria McGrath e Tyler Dodd
Entrou em histeria. Estilhaços de uma das bombas tinham acabado de lhe atingir a perna esquerda e Victoria McGrath, estudante, 20 anos, estava sozinha, cheia de dores e de medo. Só conseguiu acalmar quando um veterano da guerra no Afeganistão lhe agarrou na mão e tentou distraí-la com as suas próprias histórias. Disse-lhe que ele próprio tinha sido ferido em combate e que ia ficar tudo bem. Ela acreditou. Nove dias depois da tragédia, Victoria voltou a encontrar-se com Tyler Dodd, o tal veterano. Que afinal não era veterano nenhum mas um antigo funcionário de uma plataforma petrolífera, alcoólico em recuperação. Como seria de se esperar, foram pormenores que não macularam em nada o reencontro, em lágrimas, do par.Não importa que o Sargento Tyler me tenha mentido”, disse a rapariga, estudante da Northeastern University, perante as câmaras.
A história de Heather Abbott
A explosão partiu-lhe o tornozelo e destruiu-lhe uma série de pequenos ossos no pé. Foi operada mal chegou ao hospital. E três dias depois também. Foi nesse dia que recebeu a visita de Michelle Obama no quarto do hospital. E foi nesse dia que os médicos lhe fizeram a pergunta mais difícil a que já teve de dar resposta em 39 anos de vida: preferia amputar o pé ou ser submetida a uma série de outras operações dolorosas sem garantias sequer de poder voltar a andar? Depois de pesar os prós e contras, Heather Abbott optou pela primeira opção.Funcionária no departamento do recursos humanos de uma empresa de Porthsmouth, estado de Rhode Island, Abbott estava na fila para mostrar a identificação e entrar num bar, com um grupo de amigos, perto da zona da meta, quando aconteceu a primeira explosão. Ainda tentou fugir do passeio, a rastejar, mas o impacto da segunda bomba projectou-a contra a porta do bar. Perdeu os sentidos. Quando acordou estava caída entre a multidão em pânico. Pediu ajuda mas ninguém lhe ligou. Estava prestes a soçobrar quando uma mulher a agarrou pela roupa e a arrastou até ao exterior, enquanto repetia orações católicas. A caminho do hospital, fez um esforço enorme, diz, para não adormecer: “Pensei que se os fechasse podia nunca mais voltar a abri-los”.
A história da família Richard
Bill Richard esperava chegar a casa exausto mas feliz, depois de ter passado a tarde com a família a ver a maratona de Boston. Ao invés disso, quando regressou a Dorchester, Massachusetts, estava sozinho, ferido e devastado. Tinha acabado de perder o filho de oito anos, Martin, e a mulher, Denise, e a filha de seis anos, Jane, estavam no hospital gravemente feridas.Tinham acabado de comprar um gelado quando regressaram para a meta para assistir à chegada dos corredores. Eram 14h50 locais (19h50 em Lisboa). Subitamente, ouviu-se a primeira explosão. Doze segundos depois, a segunda. Martin teve morte imediata – outras duas pessoas morreram e 264 pessoas ficaram feridasA irmã mais nova de Martin, Jane, perdeu a perna na explosão. A sua mãe, Denise, tem sido submetida a inúmeras cirurgias ao cérebro. Henry, o irmão mais velho, e o pai, Bill, conseguiram escapar com ferimentos menores. “Ele era tão educado, bem composto, parecia até mais velho do que a realidade”, relembra um dos vizinhos da família, Christina Keefe. “Consigo vê-lo agora, a segurar no braço da mãe enquanto ela os levava a passear pelo bairro.”Na manhã de terça-feira, foram acesas velas na varanda da casa da família, e a palavra "paz" foi escrita a giz na calçada. "Quem o conhecia amava-o", disse Judy Tuttle, amiga da família. “Ele tinha aquele sorriso de um milhão de euros, e nunca sabíamos o que é que ele ia falar ou fazer. A Denise é a mãe mais espectacular que uma pessoa pode conhecer e Bill é um pilar para a comunidade. Não existe ninguém melhor do que eles." (fonte: revista Sábado, com a devida vénia)