A história de Adrianne Haslet
Adrianne
Haslet era bailarina profissional. Era. Desde que, no passado dia 15 de Abril,
participou na Maratona de Boston e entrou para as estatísticas como uma de mais
de 260 feridos do atentado que tirou a vida a outras três pessoas, Adrianne
deixou de poder dançar. No hospital, amputaram-lhe a perna esquerda abaixo do
joelho. Está a recuperar e já consegue andar, com recurso a um andarilho.
Dentro de algumas semanas, tudo depende de como correr a reabilitação, vai
participar no programa Dancing with the Stars. Aos 32 anos, diz que se sente
honrada com o convite e garante que, apesar de não ter sido informada de que
papel vai desempenhar no programa, tenciona voltar a dançar. Só não será no
Arthur Murray Dance Studio, onde trabalhava. Com a detonação da segunda bomba,
Adrianne viu o próprio pé esquerdo ser projectado para mais de um metro de
distância. Achou que ia morrer. Com o marido, capitão da Força Aérea,
regressado há apenas duas semanas de uma missão de quatro meses no Afeganistão,
conseguiu rastejar até à porta de um restaurante. Adam Davis, também ele
ferido, mas com menor gravidade, tirou o cinto e com ele improvisou um
torniquete para controlar a hemorragia da mulher. Foram levados para uma zona
com dezenas de outros feridos. Alguém escreveu um número na cabeça de Adrianne,
à laia de triagem. “Rezei para que o número fosse alto o suficiente para me
garantir ajuda. Só gritava: «Sou bailarina! Sou bailarina! Por favor, salvem o
meu pé!»”, recorda. Não salvaram. Mas Adrianne está determinada em superar o
atentado. Nem ela nem o marido participaram na maratona deste ano, tiveram
apenas o azar de terem resolvido ir passear para a zona da meta, mas na edição
de 2014 ela faz questão de entrar. “Quero mesmo voltar a dançar e também quero
correr a maratona no próximo ano. Posso ter de cruzar a meta de rastos,
literalmente a rastejar, mas se isso significar que consigo acabá-la é o que
vou fazer.”
A história de
Victoria McGrath e Tyler Dodd
Entrou em
histeria. Estilhaços de uma das bombas tinham acabado de lhe atingir a perna
esquerda e Victoria McGrath, estudante, 20 anos, estava sozinha, cheia de dores
e de medo. Só conseguiu acalmar quando um veterano da guerra no Afeganistão lhe
agarrou na mão e tentou distraí-la com as suas próprias histórias. Disse-lhe
que ele próprio tinha sido ferido em combate e que ia ficar tudo bem. Ela
acreditou. Nove dias depois da tragédia, Victoria voltou a encontrar-se com
Tyler Dodd, o tal veterano. Que afinal não era veterano nenhum mas um antigo
funcionário de uma plataforma petrolífera, alcoólico em recuperação. Como seria
de se esperar, foram pormenores que não macularam em nada o reencontro, em
lágrimas, do par.Não importa
que o Sargento Tyler me tenha mentido”, disse a rapariga, estudante da
Northeastern University, perante as câmaras.
A história de
Heather Abbott
A explosão
partiu-lhe o tornozelo e destruiu-lhe uma série de pequenos ossos no pé. Foi
operada mal chegou ao hospital. E três dias depois também. Foi nesse dia que
recebeu a visita de Michelle Obama no quarto do hospital. E foi nesse dia que
os médicos lhe fizeram a pergunta mais difícil a que já teve de dar resposta em
39 anos de vida: preferia amputar o pé ou ser submetida a uma série de outras
operações dolorosas sem garantias sequer de poder voltar a andar? Depois de
pesar os prós e contras, Heather Abbott optou pela primeira opção.Funcionária no departamento do
recursos humanos de uma empresa de Porthsmouth, estado de Rhode Island, Abbott
estava na fila para mostrar a identificação e entrar num bar, com um grupo de
amigos, perto da zona da meta, quando aconteceu a primeira explosão. Ainda
tentou fugir do passeio, a rastejar, mas o impacto da segunda bomba projectou-a
contra a porta do bar. Perdeu os sentidos. Quando acordou estava caída entre a multidão
em pânico. Pediu ajuda mas ninguém lhe ligou. Estava prestes a soçobrar quando
uma mulher a agarrou pela roupa e a arrastou até ao exterior, enquanto repetia
orações católicas. A caminho do hospital, fez um esforço enorme, diz, para não
adormecer: “Pensei que se os fechasse podia nunca mais voltar a abri-los”.
A história da
família Richard
Bill Richard
esperava chegar a casa exausto mas feliz, depois de ter passado a tarde com a
família a ver a maratona de Boston. Ao invés disso, quando regressou a
Dorchester, Massachusetts, estava sozinho, ferido e devastado. Tinha acabado de
perder o filho de oito anos, Martin, e a mulher, Denise, e a filha de seis
anos, Jane, estavam no hospital gravemente feridas.Tinham acabado de comprar um gelado
quando regressaram para a meta para assistir à chegada dos corredores. Eram
14h50 locais (19h50 em Lisboa). Subitamente, ouviu-se a primeira explosão. Doze
segundos depois, a segunda. Martin teve morte imediata – outras duas pessoas
morreram e 264 pessoas ficaram feridasA
irmã mais nova de Martin, Jane, perdeu a perna na explosão. A sua mãe, Denise,
tem sido submetida a inúmeras cirurgias ao cérebro. Henry, o irmão mais velho,
e o pai, Bill, conseguiram escapar com ferimentos menores. “Ele era tão
educado, bem composto, parecia até mais velho do que a realidade”, relembra um
dos vizinhos da família, Christina Keefe. “Consigo vê-lo agora, a segurar no
braço da mãe enquanto ela os levava a passear pelo bairro.”Na manhã de terça-feira, foram acesas
velas na varanda da casa da família, e a palavra "paz" foi escrita a
giz na calçada. "Quem o conhecia amava-o", disse Judy Tuttle, amiga
da família. “Ele tinha aquele sorriso de um milhão de euros, e nunca sabíamos o
que é que ele ia falar ou fazer. A Denise é a mãe mais espectacular que uma
pessoa pode conhecer e Bill é um pilar para a comunidade. Não existe ninguém
melhor do que eles." (fonte: revista Sábado, com a devida vénia)