Li
no Publico num texto do jornalista Sérgio Aníbal que "na Grécia e na Irlanda, as previsões feitas
pela troika há um ano estão para já a cumprir-se, tanto para o défice
como para a dívida. No caso português, a troika tem vindo a admitir mais
derrapagens. Portugal foi, durante o último ano, o país entre os que estão
sujeitos a um programa de ajustamento da troika que mais falhou as suas
projecções para o défice público e a dívida. O Fundo Monetário Internacional
(FMI) – que faz actualmente as suas estimativas para as finanças públicas
portuguesas no âmbito das negociações do programa de ajustamento entre a troika
e o Governo – aponta na sua publicação semestral Fiscal Monitor,
publicada esta terça-feira, para um défice público em Portugal de 5,5% este
ano. Este é o valor acordado precisamente na sétima avaliação do programa concluída
em Fevereiro. Há seis meses, o valor previsto na mesma publicação do FMI era de
4,5% e há um ano de 3%. Revisões muito significativas das metas do défice que
têm vindo a ser acordadas entre o Governo e troika à medida que vão
sendo evidentes as dificuldades para atingir os objectivos traçados
inicialmente. No entanto, fazendo a mesma análise para os outros países
sujeitos a um programa de ajustamento, os resultados não são os mesmos. Na
Irlanda, a previsão para o défice deste ano é, no relatório publicado ontem, de
7,5%. A previsão apresentada pelo FMI há seis meses era exactamente a mesma,
enquanto há um ano se apontava para 7,4%. No
caso grego, com Atenas a ser várias vezes criticada por não cumprir as medidas
do programa, as metas para o défice deste ano parecem estar a ser cumpridas. A
previsão é neste momento de um défice de 4,6%, exactamente a mesma que era
feita há um ano. Para
Chipre, que também está a gora sob um programa de ajustamento, o FMI não
apresentou previsões "devido à actual crise". Em 2012, o falhanço de
Portugal nos objectivos do défice também foi maior do que o dos seus parceiros
da periferia. O valor final calculado pelo INE e Eurostat foi de 6,4%, após
diversas correcções aos dados inicialmente reportados pelas Finanças. Há um ano,
a troika apontava para 4,5%. Na Irlanda, o valor final do défice foi de
7,7%, contra uma previsão de 8,5% um ano antes. E na Grécia foi de 6,4%, um
resultado melhor do que os 7,2% iniciais. Para a dívida pública, os resultados
são semelhantes. O valor registado por Portugal - de 123% do PIB - ficou 3,9
pontos percentuais acima do previsto um ano antes. Uma diferença bastante maior
do que a dos outros países. Em
Espanha e Itália, dois outros países que já estiveram sob forte pressão para
pedirem um resgate, as previsões feitas pelo FMI há um ano para o défice em
2013 não foram também alvo de uma revisão tão profunda neste último relatório. Analisados
todos os 30 países classificados como avançados pelo FMI no seu relatório, só a
Eslovénia - que tem registado problemas graves nos últimos meses que podem
forçar o país a pedir um resgate - levou o FMI a uma correcção mais profunda da
meta do défice de 2013, de 4,2% para 6,9%. Além do Fiscal Monitor, o FMI
apresentou também ontem o World Economic Outlook, onde dá a conhecer as
suas projecções económicas para o planeta. Para os países onde a troika está
presente, a capacidade do FMI para antever a evolução da economia tem sido, no
último ano, nula. Há um ano, estava a apontar para 2013 como o início da
recuperação. A Grécia conseguiria uma variação nula do PIB, Portugal cresceria
0,3% e a Irlanda 2%. Os resultados são, decorridos três meses e meio do ano,
bastante decepcionantes. Afinal, a Grécia terá o seu PIB a recuar mais 4,2%, a
economia portuguesa cairá 2,3% e a Irlanda crescerá, mas apenas 1,1%. Recentemente,
o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, reconheceu a existência de erros
nas previsões, especialmente no cálculo do impacto da austeridade na economia. Agora,
o FMI volta a apostar numa retoma relativamente breve, a começar em 2014 nestes
três países. Portugal e Grécia crescerão em 2014 a uma taxa igual, de 0,6%, diz
o FMI, que mostra pouca confiança na capacidade portuguesa para crescer no
médio prazo. Para 2018, projecta um crescimento anual de 1,8%, menos do que os
2,7% da Irlanda e os 3,3% da Grécia"