terça-feira, abril 02, 2013

Financiamento das manifestações: Partidos, sindicatos e empresas apoiam

Escrevem os jornalistas do Jornal I, Carlos Diogo Santos e Pedro Rainho, que as "manifestações podem custar milhares de euros mas logística é toda cedida sem cobrança. Numa reportagem sobre os bastidores do Que Se Lixe a Troika (QSLT), o membro Marco Marques (igualmente militante do Bloco de Esquerda) explicou ao semanário “Expresso” que a organização da manifestação de 2 de Março tinha custado “cinco euros a cada um”. Ou seja, um total de 600 euros. A presença de dirigentes e militantes partidários no QSLT impõe a dúvida sobre o financiamento do movimento – não só desses partidos, mas também de sindicatos e empresas – que permitiu levar a cabo as manifestações dos últimos seis meses. Sobretudo as de grande dimensão que se verificaram em Lisboa. Nuno Ramos de Almeida, fundador do movimento, garante que todos os apoios vieram de “particulares”, mas a deputada do Bloco de Esquerda Ana Drago não esconde que é “obrigação” do partido “colaborar e estar presente em todos os espaços de contestação ao governo”. Fontes ligadas ao movimento explicaram ao ique parte desses apoios logísticos (cedência de infra-estruturas) provêm alegadamente das duas forças partidárias com maior representação (Bloco e PCP) bem como de outras entidades, ainda que garantam que tal suporte não se traduz em ajudas financeiras directas ao movimento. Segundo o i apurou, o palco, o jogo de luzes e a aparelhagem sonora montada no Terreiro do Paço na manifestação de 2 de Março poderá ter custado vários milhares de euros, dependendo o valor da empresa que fornecido o serviço.
No que respeita aos meios usados, existem diferenças entre as duas principais manifestações promovidas pelo QSLT. De uma carrinha estacionada na Praça de Espanha, com uma aparelhagem montada na parte de trás, a 15 de Setembro, o movimento passou para um palco e sistema de som instalados a um canto da Praça do Comércio, já no início de Março. Os membros do movimento recusaram explicar ao i quem cedeu tal infra-estrutura. Na primeira manifestação estava tudo por provar. A convocatória para o protesto de sábado tinha corrido durante semanas nas redes sociais, somando cerca de 80 mil confirmações de presença para o percurso entre a Praça José Fontana e a Praça de Espanha. Mas nos minutos que antecederam o arranque da marcha de três quilómetros tornava-se evidente que a manifestação ficaria para a história, dada a forte adesão popular. Na Praça de Espanha, para onde confluíram os cerca de 500 mil manifestantes, não havia mais que uma carrinha de caixa aberta, com um sistema de som montado, em cima da qual se apertavam, para ler o primeiro manifesto do movimento, cerca de uma dezena de subscritores do documento. “Conseguimos a carrinha e um sistema de som, mas mais que isso seria difícil”, disse a realizadora Ana Nicolau ao suplemento do “Público” “P3”, dias depois da iniciativa.
Mas tanto em Outubro de 2012, quando organizaram um evento cultural também na Praça de Espanha, como já em Março deste ano, os escassos meios de que falava a activista transformaram-se em fortes estruturas de apoio. No evento cultural, a organização montou um palco, sistema de som profissional e câmaras de vídeo para um evento contra a aprovação do Orçamento do Estado, cuja votação na Assembleia da República aconteceu no final desse mês. Em Março, ao chegar à Praça do Comércio depois de descerem a Avenida da Liberdade, os manifestantes depararam--se também com um palco. Foi aí que, cerca das 18h, quando ainda milhares de pessoas se dirigiam para o local, se cantou “Grândola Vila Morena”. “Podem dizer que promoveram das maiores manifestações da democracia portuguesa”, considera o politólogo Adelino Maltez. Em ambos os casos, a logística envolvida nas iniciativas poderia chegar aos milhares de euros, mas o custo exacto é incerto porque depende do equipamento usado, informação que só a empresa responsável pelo evento poderia disponibilizar. “Fizemos toda a actividade pagando-a nós. Houve depois apoios voluntários dados por pessoas. As estruturas utilizadas foram dadas como apoio gratuito, não houve nada que tivesse tido um pagamento, nem nada que fosse institucional”, sublinha Nuno Ramos de Almeida. O fundador do QSLT garante que, no conjunto dos apoios reunidos pelo grupo para as iniciativas realizadas, “não existem apoios partidários”. O i sabe que o grupo chegou a contactar a União de Sindicatos de Lisboa – afecta à CGTP, que se juntou ao protesto – para obter algum apoio técnico, nomeadamente com carrinhas de som, mas que o mesmo não chegou a concretizar-se. Ainda assim, alguns elementos do sindicato ajudaram, informalmente, na realização do evento.
Algum apoio chegou, e continua a chegar, através das colectividades da capital. Nomeadamente quando o movimento se junta em plenário – por norma, a cada duas semanas – ou quando os grupos de trabalho (Acção, Comunicação e Planeamento) se reúnem – uma vez por semana –, seja para a actividade normal, seja para preparar uma nova iniciativa. De resto, as informações concretas sobre quem cedeu todas as estruturas para o evento e que custo tiveram essas iniciativas serão conhecidas apenas por alguns dos elementos centrais do movimento. Com excepção para uma recolha de fundos entre os próprios elementos do QSLT, para a montagem de cartazes para uma manifestação".