sexta-feira, dezembro 23, 2022

Sondagem Expresso/SIC: Costa aguenta. PS mantém-se, PSD não descola

 

“Já provei que não estou cansado.” Foi assim que António Costa terminou a intervenção que fez esta quarta-feira no jantar de Natal do grupo parlamentar socialista, em Lisboa, e é isso que mostra a sondagem de dezembro feita pelo ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC: apesar de ter aumentado nos últimos três meses a percentagem de portugueses que considera “más” as medidas de combate à inflação tomadas pelo Governo, a popularidade do primeiro-ministro mantém-se positiva e o PS aguenta-se nas intenções de voto (37%). Nem a direita junta seria suficiente face à esquerda maioritária. Ao fim de nove meses com Governo de maioria absoluta e depois de uma semana marcada pela entrevista que António Costa deu à revista “Visão”, onde anunciou um défice mais baixo do que o previsto e onde usou um tom altivo muito criticado pela oposição, o inquérito feito a mais de 800 pessoas mostra que nem tudo corre mal ao Executivo, que se mantém estável não só nas intenções de voto como na perceção que os portugueses têm da sua atuação e daquilo que poderia estar a fazer para minimizar o impacto da inflação. 40% dos inquiridos dão uma nota positiva ao desempenho do Governo, com apenas 10% a considerarem o desempenho “muito mau” (13% há três meses). Ainda assim, sobe de 35 para 42 a percentagem dos que avaliam como “má” a prestação do Executivo, segundo o inquérito feito na primeira quinzena do mês de dezembro.

Cenário semelhante acontece quando a pergunta é sobre as medidas para aliviar o impacto da inflação, onde se inclui o cheque de 125 euros pago em setembro (mais 50 euros por filho independentemente do rendimento), ou o apoio de 120 euros pago às famílias mais carenciadas na primeira metade do ano. Esta sexta-feira será paga a última tranche de apoios pontuais, com as famílias mais vulneráveis a receberem 240 euros para compensar a subida generalizada dos preços dos bens essenciais mas aí, os portugueses inquiridos pela sondagem do ICS/ISCTE dão um cartão amarelo ao governo, com uma pequena parcela (14%) a considerar as medidas boas ou muito boas, e subindo de 36 para 43 a percentagem que as considera más ou muito más.

Esta quarta-feira, depois de ter sido audível o “desconforto” de alguns socialistas em relação aos ‘tiques’ de maioria absoluta revelados por Costa na entrevista, o primeiro-ministro procuraria explicar aos deputados do PS e aos membros do Governo presentes no jantar de Natal do grupo parlamentar que existe um “dever de diálogo” ao mesmo tempo que existe o “compromisso” da maioria de cumprir o programa com o qual foi eleita — sem “ansiedades” e sem a pretensão de fazer tudo num ano. Há quatro anos pela frente.

A dias de fechar o ano com um défice mais baixo do que o previsto, António Costa tem procurado responder às críticas — até internas — dos que acham que o Governo podia ter ido mais longe. Segundo Costa, o ajuste no défice aconteceu para o Governo entrar em 2023 menos “condicionado” pelos mercados e não propriamente para reter a receita adicional que arrecadou devido à inflação, essa foi devolvida a quem mais precisa. Para o primeiro-ministro, o Governo já gastou este ano em medidas extraordinárias “tanto como em medidas de apoio à covid-19”, mas para quase metade dos portugueses não chega.

Ainda assim, o PS aguenta o embate. Se as eleições fossem hoje, segundo o estudo, PSD, Chega e IL não seriam suficientes para formar Governo face a uma esquerda maioritária: o PS mantém-se nos 37% de intenções de voto, o BE sobe para 7% e o PCP, mesmo com a mudança de líder, sobe de 4% para 5%; o PSD não descola dos 29%, com o Chega a fixar-se nos 9%, o IL nos 2% e o PAN nos 3%. As eleições legislativas, contudo, estão longe no calendário e Costa quis deixar claro: “cansado” não está.

FICHA TÉCNICA

Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre 3 e 15 de dezembro de 2022. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do Iscte - Instituto Universitário de Lisboa (ISCTEIUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4 grupos), Instrução (3 grupos), Região (5 Regiões NUTII) e Habitat/Dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de Região e Habitat, foram selecionados aleatoriamente 83 pontos de amostragem onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições legislativas recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. Foram contactados 3010 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 809 entrevistas válidas (taxa de resposta de 27%, taxa de cooperação de 39%). O trabalho de campo foi realizado por 42 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 10). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 809 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. As percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto das jornalistas Rita e Sofia Miguel Rosa e infografia de  Sofia Miguel Rosa)

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