O Banif era o sétimo maior banco português quando, a 20 de dezembro de 2015, o Banco de Portugal ditou o seu fim. Sete anos depois, aquela intervenção da autoridade bancária acumula um prejuízo de praticamente 3 mil milhões de euros e é a quarta maior causadora de prejuízos desde, pelo menos, 2008. O banco - que em 2015 tinha o Estado como principal acionista e uma parcela mais limitada nas mãos da família do fundador Horácio Roque - consumiu 14% de todo o esforço financeiro que o Estado teve com os bancos entre 2008 e 2021, de acordo com os dados que o Tribunal de Contas publicou no seu Parecer da Conta Geral do Estado relativo ao ano passado. A intervenção no Banco Espírito Santo e a posterior operação de venda do Novo Banco são aquelas que mais custos tiveram para os contribuintes, num total de 8,3 mil milhões de euros, 37,6% do esforço total. Segue-se o BPN, responsável por 27,9% dos mais de 22 mil milhões de euros gastos líquidos dos contribuintes com a banca nacional. A Caixa Geral de Depósitos teve um encargo de 5,5 mil milhões de euros, que permitiu a sua limpeza, sendo que hoje em dia está a pagar dividendos para tentar compensar a ajuda estatal recebida – algo que o BPN, em liquidação, nunca conseguirá.
O mesmo acontece com o Banif, que não tem como compensar o grosso da ajuda estatal recebida. O Banif teve um custo de praticamente 3 mil milhões de euros apesar da sua dimensão reduzida – e que iria diminuir ainda mais se não tivesse sido alvo da medida. Uma situação que Carlos Costa, governador do Banco de Portugal na altura da resolução, disse ter sido prejudicada pela postura de António Costa, recém-empossado primeiro-ministro na altura.
Com quotas de mercado relevantes na Madeira e nos Açores, o Banif estava condenado a emagrecer ainda mais pela Comissão Europeia, que queria um corte significativo da sua atividade para não haver problemas concorrenciais, por estar prestes a falhar o seu plano de reestruturação.
OS TRÊS EX-BANIF
A intervenção do Banif ocorreu a 20 de dezembro de 2015, há exatos sete anos, uma semana depois de uma notícia a dar conta de que o banco seria encerrado. Ao contrário do que acontecera há mais de um ano com o BES, o Banco de Portugal optou pela sua divisão em três.
O Santander pagou 150 milhões de euros para ficar com os ativos (como créditos) que selecionou, os correspondentes passivos, ficando aqui os credores seniores do Banif, e beneficiando de uma limpeza de 2,2 mil milhões de euros estatais; foi criada uma entidade, a Oitante, para ficar com os ativos problemáticos, mas recuperáveis, como imóveis, fundos de reestruturação ou participações; mantiveram-se ativos e passivos irrecuperáveis no Banif, que seguiu para liquidação, sendo que aí continuaram os acionistas (como o Estado) e os credores subordinados.
Neste momento, em relação ao Banif que foi para o Santander, é difícil saber qual a continuação da sua atividade, já que tudo ali foi fusionado, ainda para mais quando depois se juntou o Banco Popular ao grupo. Houve, é certo, saída de trabalhadores no âmbito da reestruturação que o banco fez e que até passou por um despedimento coletivo.
A Oitante ficou na esfera do Fundo de Resolução, beneficiou de uma ajuda pública de mais de 700 milhões de euros, mas já conseguiu pagar toda a dívida que teve de assumir em 2015, pelo que por aqui eliminou-se o risco do Estado.
No caso do Banif, está em curso a liquidação judicial. Os acionistas tudo perderam, os credores subordinados esperam há anos por uma solução a desenhar pelo Governo com as autoridades de supervisão que não chega (Expresso, texto do jornalista Diogo Cavaleiro)
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