sexta-feira, dezembro 30, 2022

Desabafando: qual a pressa, por....?!


Quando por causa desta crise política no governo de Costa se reclama a dissolução do parlamento e a convocação de eleições antecipadas - escassos meses depois das últimas que deram inesperada maioria absoluta aos socialistas - a sensação que ficamos é que, no caso do PSD, se trata apenas de mais de um discurso de vingança política e/ou de ajuste de contas, face a tudo o que se passou, de semelhante mas não igual, com o alucinante governo de Santana Lopes, depois da decisão de Jorge Sampaio ter aberto caminho à vitória de José Sócrates, com todas as consequências nefastas para o país que todos conhecemos. No caso do Chega e da Iniciativa Liberal é apenas o costumeiro show-off político para o espaço mediático, No caso do CDS é a tentativa de regressar ao parlamento - que ninguém sabe se o conseguiria, embora um deputado apenas fosse o objectivo - de onde foi escorraçado nas últimas legislativas, depois do partido se ter tornado uma absoluta e deprimente desnecessidade política, sem espaço e sem identidade própria. 

E dissolução do parlamento para quê? Para que o PS voltasse a vencer as eleições e uma mais do que provável não maioria absoluta lançasse o país numa instabilidade governativa num dos mais conturbados e exigentes períodos da sua história recente?!

Pressa idiota do PSD

É que no caso do PSD - espanta-me a pressa de Montenegro e da sua côrte quando me parece ser recomendável que o líder recente dos social-democratas ganhe ainda mais tempo para se "fazer" junto dos eleitores, deixando que o PS e o seu governo a derreter em lume brando mais algum tempo - a fome de poder e a psicose da submissão do partido às alegadas ambições presidenciais (?) de Passos Coelho, até podem levar o PSD a uma pulverização que lhe seria fatal. Montenegro, ainda e sempre conotado de passista, com tudo o que de negativo isso ainda representa, quer ganhar votos e eleições com Rangel e o Pinto Luz transformados nos papagaios de serviço do líder?! Por amor de Deus e dos santos, poupem-me. Ambos pretenderam concorrer à liderança do PSD, ambos foram derrotados e reduzidos à sua insignificância, ambos, que nem o partido ganharam ao contrário, muito menos alcançarão a opinião pública. E Montenegro insiste em tê-los como porta-vozes, sem encontrar novas caras, gente nova, nomeadamente mulheres que parece que só servem para a discussão das "cotas" nas listas!

Acresce que no caso do PS - e Costa - que muitas vezes escondem esses períodos negros da nossa história, vendendo outras narrações inventadas que visam apenas, apagar as responsabilidades históricas que tiveram, foi José Sócrates quem abriu caminho à chegada da troika a Portugal, em 2011, depois de Mário Soares o ter feito duas vezes antes dele...

"Caso" Santana foi um tempo de falta de legitimidade

No caso do governo de Santana, é sabido que ele só chegou onde chegou por ser o vice-presidente do PSD quando Barroso trocou São Bento pelo tacho em Bruxelas de Presidente da Comissão Europeia. Um Santana Lopes que não tinha, nunca teve, a legitimidade eleitoral nas urnas para ser primeiro-ministro e que, por isso, estava fragilizado e condenado ao fracasso desde o primeiro momento. Portanto, nada de comparações.

Julgo, para terminar, que reclamar - no caso do PSD - dissolução do parlamento e eleições antecipadas, mais do que causar irritação nos portugueses, cujas prioridades são claramente outras, isso dificilmente daria ao PSD a mais-valia eleitoral que ele pretende, cedo demais, obter. Quando nem o seu líder é suficientemente conhecido e muito menos respeitado pela opinião pública portuguesa. Porque o PSD nunca ganhará eleições contando apenas com os seus militantes ou simpatizantes, cada vez mais em menor número como as eleições o mostram. Por isso recomendo calma, muita calma, esperando que Montenegro e o PSD nunca deem um passo maior que a perna, aproveitando para fazer mudanças nos seus porta-vozes políticos, promovendo gente nova, novas caras, que sejam capazes de ganhar o respeito e credibilidade junto das pessoas, sobretudo fora do universo social e eleitoral natural do PSD. Depois o PSD terá de 4 anos para que muita coisa aconteça e para que aqueles que hoje "arrotam com a pança cheia" percam todo o ar que ainda lhes resta. Por isso concordo com Marcelo Rebelo de Sousa que recusa, e bem, promover soluções extremas para fazer o frete a partidos que ainda por cima estão condenados ao fracasso eleitoral porque nem uma alternativa consistente e segura foram  capazes de construir até este momento. (LFM)

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