As projeções económicas para a economia portuguesa divulgadas esta quarta-feira são mais negativas do que as da Comissão Europeia ou do Fundo Monetário Internacional. A recessão em Portugal poderá ser ainda mais intensa. As novas projeções económicas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) são ainda mais pessimistas do que as estimativas já conhecidas. O cenário delineado pela organização aponta para uma queda do produto interno bruto (PIB) este ano que poderá superar os 11%. “Face a esta extraordinária incerteza, este outlook económico apresenta dois cenários possíveis: um em que o vírus continua a regredir e continua sob controlo e outro em que uma segunda vaga de contágio entra em erupção no final de 2020″, explica a economista-chefe Laurence Boone, citada no documento. Para Portugal, o cenário mais benigno desenhado pela OCDE indica que a economia poderá recuar 9,4% este ano, seguindo-se uma retoma de 6,3% no próximo. Mas a quebra poderá chegar, no cenário mais pessimista para 2020, a uma recessão de 11,3%. E nesse caso, o crescimento em 2021 espera-se em 4,8%.
“Ambos os cenários são preocupantes, pois a atividade económica não vai voltar e não pode voltar ao normal nestas circunstâncias. Até o final de 2021, a perda de rendimentos excede a de qualquer recessão anterior nos últimos 100 anos fora da guerra, com consequências terríveis e duradouras para pessoas, empresas e governos”, alerta Boone.
É já certo que o tombo na economia será intenso, mas esta é uma das projeções mais negativas, até mesmo no melhor cenário. Este compara com uma estimativa de recessão de 8% do Fundo Monetário Internacional (FMI), 6,8% da Comissão Europeia ou 7,5% do Conselho de Finanças Públicas.
O próprio Governo admite que assim seja, estimando uma queda de 6,9% do PIB. Mas tem defendido que sem as medidas “robustas”, como as que constam do Programa de Estabilização Económica e Social (PEES) — que vai injetar 5 mil milhões de euros na economia portuguesa –, “provavelmente” a queda do PIB no final do ano seria ainda maior.
Este tombo da economia portuguesa fica, ainda assim, abaixo do estimado para Espanha, França ou Itália, que poderá superar 14%, em 2020. Para a Zona Euro, a OCDE espera que o PIB afunde entre 9,1% e 11,5% este ano, seguindo-se uma retoma que poderá situar-se entre 3,5% e 6,5% em 2021.
Para o mundo, as projeções são de uma recessão entre 6% e 7,6% este ano. A retoma poderá ser de 2,8% a 5,2% em 2021. “Governos e bancos centrais puseram em curso uma série abrangente de políticas para proteger pessoas e negócios das consequências da paragem na atividade”, explica a economista-chefe da OCDE. Boone sublinha que, ainda assim, “a atividade económica colapsou por toda a OCDE durante os confinamentos, em 20 a 30% nalguns países“.
“Os governos vão ter de adaptar o apoio e acompanhar a transição, bem como permitir uma rápida reestruturação de empresas, sem estigmas para empreendedores, garantir rendimentos dos trabalhadores entre empregos, requalificar desempregados, ajudar na transição para novos empregos e na proteção social dos mais vulneráveis. Já tínhamos antes pedido um aumento do investimento público em tecnologias digitais e verdes para promover o crescimento sustentável a longo prazo e elevar a procura de curto prazo. Hoje, é ainda mais urgente, dado o forte impacto nas economias“, acrescentou (ECO digital, texto da jornalista Leonor Mateus Ferreira)
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