A pandemia fez elevar a popularidade de vários líderes mundiais nas sondagens, nomeadamente, como é natural, nos países onde a resposta foi mais eficaz. António Costa não foi exceção, com a maioria dos portugueses a fazerem uma avaliação positiva da gestão do coronavírus. Os analistas contactados pelo ECO apontam que a resposta unificada e conjunta levou a uma avaliação positiva do Governo, mas este efeito pode não durar. A tendência de subida do Governo é comprovada numa sondagem conhecida este domingo, que coloca o PS de António Costa próximo da maioria absoluta. A sondagem da Pitagórica para o Jornal de Notícias e para a TSF projeta um resultado de 44,8% para o PS, o valor mais elevado desde o início destes barómetros, em abril de 2019. Este barómetro, referente ao mês de maio, revela também que 74% dos inquiridos aprovam a forma de governar de Costa. Para além disso, a avaliação ao desempenho do Governo registou uma subida de cinco pontos, com 53% a dar uma nota positiva. Olhando para as sondagens, “o primeiro-ministro é claramente o ator que tem registado o maior aumento de avaliações positivas”, aponta Patrícia Silva, investigadora da Universidade de Aveiro, ao ECO. Após eleito, cerca de 40% dos inquiridos consideravam que o desempenho de António Costa seria positivo ou muito positivo. “No início de abril de 2020, após o segundo prolongamento do estado de emergência, mais de 70% dos inquiridos considerava como positivo ou muito positivo o desempenho do PM”, aponta. “Este aumento de quase 30 pontos percentuais é muito superior às variações que encontramos no caso das avaliações do Presidente da República (cuja avaliação de desempenho tem sido consistentemente positiva)”, acrescenta.
Marina Costa Lobo também sublinhou que as sondagens ICS-ISCTE “têm revelado a popularidade do primeiro-ministro”, com cerca de 70% dos inquiridos a concordar que o chefe do Executivo “tem lidado positivamente com a pandemia”. Mas não é apenas em Portugal que se sente esta tendência, aponta Patrícia Silva.
“Trata-se, na realidade, de um efeito do “rally around the flag”. Este é um efeito que sugere este sentimento de unidade nacional contra uma ameaça – neste caso, o vírus”, sublinha a investigadora. Este efeito é sentido “em cenários em que os cidadãos se sentem mais vulneráveis, tendem a depositar a sua confiança nos líderes políticos, na expectativa de que estes os protejam”.
Para além deste aspeto, a ajudar a consolidar avaliação positiva do chefe do Executivo “junta-se a ausência de uma forte oposição às medidas definidas“, aponta. No início da pandemia, o PSD, maior partido da oposição, adotou uma posição “colaborativa”, com Rui Rio a apontar que não era momento para “estados de alma”.
O professor de ciência política Pedro Adão e Silva também refere ao ECO que, a acrescer ao efeito que se sente nos momentos de crise, António Costa encontrou o “registo adequado a este momento”, passando do otimista irritante, como era referido, a um “realista irritante”, contribuindo para a avaliação dos portugueses.
No entanto, “este momento de cerrar fileiras tende a desaparecer com passar do tempo”, aponta o professor universitário. Após o embate inicial, “o consenso ao nível de apoio tenderá a diminuir”. Na segunda fase da resposta à pandemia, após a emergência sanitária, vai pesar na avaliação o estado da economia.
O politólogo José Adelino Maltez sublinha ao ECO que Costa, que falou muito e “montou um esquema de comunicação” durante a pandemia, está agora “dependente do que se decidir da Europa” para a recuperação económica. O Executivo está também “dependente da retomada empresarial e este mês vai ser decisivo” para a avaliação das consequências da pandemia, aponta.
Ministros não acompanham subida de Costa
Apesar do desempenho do líder do Executivo, nem todos os ministros acompanharam a evolução de Costa. “No início de abril, a avaliação da qualidade de desempenho do primeiro-ministro era superior à de outros ministros mais envolvidos, ou que se tornaram mais salientes perante a pandemia do Covid-19″, refere Patrícia Silva.
A investigadora aponta que “há vários ministros que têm uma avaliação mais negativa, como o ministro da Administração Interna, a ministra da Cultura e o ministro da Educação”, apesar de admitir que é “difícil estimar se esta avaliação negativa se deve à forma como os respetivos ministérios lidaram com a crise”.
Ainda assim, diz que é possível que seja o caso da Cultura e Educação. Nos últimos tempos, as ações de Graça Fonseca tem recebido críticas do setor que tutela, nomeadamente devido a um festival que iria ser organizado nas redes sociais e à falta de medidas de resposta à crise. Este descontentamento chegou a motivar protestos, que se realizaram no fim de maio e que se irão repetir esta semana.
Quanto a Eduardo Cabrita, esta avaliação “pode eventualmente ser explicada por ter sido o ministro que deu a cara pelo decreto que prorrogou o estado de emergência até dia 2 de maio, admitindo a manifestação do dia do trabalhador”, explica a investigadora. “Com efeito, cerca de 84% dos inquiridos não concordou com a autorização dada à CGTP para uma comemoração do 1º de Maio”, acrescenta.
Pedro Adão e Silva destaca também o caso da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. Ana Mendes Godinho “tinha um perfil mais adequado” ao momento que se vivia antes da pandemia, de crescimento económico e de modernização do funcionamento da Administração Pública, explica o professor universitário. “Esse contexto desapareceu e a ministra não tem o perfil adequado”, aponta, sendo que a falta de ligações à área, desta ministra que era secretária de Estado do Turismo, também dificulta a atuação neste contexto. As constantes alterações às regras definidas para os diferentes apoios sociais também não ajudam a dar uma imagem de solidez técnica. Só o regime de lay-off simplificado sofreu pelo menos quatro alterações.
Por outro lado, Adelino Maltez defende que “ninguém se destacou”, sendo que este é um esforço de equipa. Visão partilhada pelo investigador de ciência política António Costa Pinto, que refere ao ECO que não se registaram “erros de performance” significativos, sendo que “só o primeiro-ministro teve uma resposta individual enquanto líder político do Governo, muito mais intervencionista” do que noutros momentos.
Comparando assim a avaliação dos ministros durante esta crise pandémica com outros picos de saliência de crise, como por exemplo nos incêndios, não se detetaram “ainda quer erros de performance quer ineficácias notórias que levem a demissão ou mudança de nenhum ministro em particular”, aponta. O único caso durante este período foi o de Centeno, devido à polémica relacionada com o Novo Banco, que não esteve, no entanto, ligado à pandemia, recorda.
Portugueses veem com bons olhos ministros da Saúde, Finanças e Economia
Quanto a ministros que se tenham destacado pela positiva, Patrícia Silva aponta que “os dados disponíveis sugerem que a avaliação dos portugueses é positiva relativamente ao desempenho da ministra da saúde”. A ministra esteve debaixo de fogo devido a dificuldades no Serviço Nacional de Saúde, mas a “forma como Portugal tem sido considerado um bom exemplo quanto à forma como tem lidado com o Covid, terá também impactos expectáveis sobre a avaliação do desempenho de Marta Temido”, salienta.
Ainda assim, sublinha que, apesar de a ministra ser apontada entre as melhores, também vários portugueses a colocam entre os ministros com pior desempenho, sendo assim uma figura polarizante.
Já Pedro Adão e Silva aponta que, com a pandemia, a Saúde assumiu uma “centralidade” que normalmente não teria e Marta Temido “tem tido capacidade de resposta e encontrou o registo adequado ao momento”. O comentador aponta que a resposta à pandemia ajudou esta ministra que “era vista como tendo fragilidades políticas”.
A investigadora adianta também que a última sondagem da Intercampus “sugere que Mário Centeno se mantém como o ministro com a avaliação mais positiva”, apesar de ressalvar que o trabalho de campo do estudo foi anterior às polémicas relacionadas com o Novo Banco.
Entretanto, no dia em que o Conselho de Ministros aprovou o orçamento suplementar, foi confirmado que Centeno vai mesmo deixar o cargo. Será substituído pelo secretário de Estado do Orçamento, João Leão, que vai tomar posse enquanto responsável pela pasta das Finanças esta segunda-feira, dia 15.
Patrícia Silva aponta ainda que o ministro da Economia também tem sido positivamente avaliado. Pedro Adão e Silva refere que este ministro, “também por força das circunstâncias, ganhou centralidade que não teria” normalmente, sendo que o contexto deu uma “oportunidade para sobressair”.
Adelino Maltez refere que Pedro Siza Vieira deve ter sido o “ministro mais influente” na gestão da pandemia, apesar de não ser tão mediático. Ainda assim, o ministro deu várias entrevistas durante a pandemia, tendo aparecido também nas conferências de imprensa após as reuniões da Concertação Social, o que também contribuiu para retirar protagonismo a Ana Mendes Godinho (ECO digital, texto da jornalista Mariana Espírito Santo)
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