quinta-feira, junho 18, 2020

Nota: sem pontes com Lisboa nada feito

Eu continuo na minha: sem pontes de diálogo entre o Funchal e Lisboa nada feito. E essas pontes - ridicularizadas e desvalorizadas em 2015 com os resultados que estão à vista de todos - não devem existir apenas para garantirem notícias de primeiras páginas ou fotografias encomendadas nos jornais. Nem precisam de ter como interlocutores forçosamente apenas a elite ministerial apesar de estarmos a falar de uma primeira fase desse diálogo institucional que na minha opinião é a mais importante porque é a esse nível que se parte pedra e desbravam caminhos. Este diálogo pode e deve ser feito com as chamadas "segundas linhas", mais discretas mas quase sempre mais eficazes. Mas tem que ser um diálogo olhos nos olhos, não por telefone, muito menos com recados pelos jornais, que funcionará apenas por iniciativa dos próprios, nunca marcados pelas desconfiança ou impulsionados por uns tipos que deontologicamente estão obrigados a ficar à margem da política e destes processos políticos que não lhes dizem respeito. Porque tão-pouco têm capacidade para isso.
Acham mesmo, com todos os defeitos e virtudes desse período marcante para a Madeira, que aquilo que a governação de AJJ conseguiu, em termos de relações com Lisboa - e é apenas disso que falo - aconteceu por acaso ou caíu do céu por milagre, acham mesmo que não houve sempre uma primeira e segunda fases de negociação, passadas nos bastidores, acham que não foram construídas e mantidas discretas as tais pontes de diálogo com Lisboa, acham que não foram muitas vezes negociadas, longe da ribalta, decisões mais tarde formalizadas e anunciadas? Se acreditam nisso, se acreditam que tudo funcionou ao acaso - e lembro que alguns, poucos, dos protagonistas desse tempo e dessas movimentações, estão vivos e podem testemunhar sobre isso - então fico estupefacto porque, pelos vistos, na política há quem ainda acredite no Pai Natal.
Construir pontes para o diálogo não é sinal de submissão, é tão somente acreditar nas pessoas e separar as águas e afastar influências malignas dos processo negociais, porque uma coisa são as "coisas" políticas e as politiquices idiotas que elas suscitam, outra coisa são as relações institucionais, ou mesmo relações pessoais entre protagonistas, que devem estar num patamar substancialmente distante e superior a tudo o que é politiquice pura e dura. (LFM)

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