Depois da tempestade que foi a divulgação
antecipada de um prejuízo de €119,7 milhões da TAP no primeiro semestre — o pior
resultado semestral desde a privatização —, o silêncio instalou-se. Tanto a
companhia aérea como o Governo, que recebeu com bastante irritação os
resultados, optam por não fazer comentários. Mas as poucas mensagens que passam
vão no sentido de que as contas vão melhorar significativamente.
Sobre os maus resultados do primeiro semestre foram
internamente apontados responsáveis, atendendo nomeadamente à quebra das
receitas de passagens no Brasil. A culpa recaiu sobre Elton D’Souza, o
responsável pela área de gestão de receitas, que saiu em julho para assumir a
presidência da operação europeia da Netjets. A ideia de que é o responsável por
parte do tropeção da TAP circulou logo na sexta-feira da semana passada assim
que os resultados foram divulgados. Aliás, a par do aumento dos custos com o
pessoal, o Brasil foi apontado como um dos dois fatores responsáveis pelo mau
desempenho: a descida das receitas neste país, no semestre, foi de €43,1
milhões.
Elton D’Sousa, gestor goês de nacionalidade
portuguesa, foi, porém, uma das duas pessoas que receberam o maior prémio de
desempenho relativo aos resultados de 2018, ou seja, €110 mil. Porque é ele
agora um dos grandes responsável pelo rombo nas contas do primeiro semestre,
quando antes foi considerado excecional? Uma pergunta que fica sem resposta.
Certo é que esta área, fundamental na engenharia do negócio, tem tido muita
rotatividade dentro da TAP: Elton D’Souza é o terceiro responsável pela gestão
das receitas desde a privatização e a companhia ainda não arranjou ninguém para
o substituir, apesar de estar à procura no mercado internacional. Contactado
pelo Expresso, Elton D’Souza não quis comentar.
Quem tem estado agora a reunir com a equipa que faz
a gestão de receitas é Antonoaldo Neves, o presidente executivo da TAP. Uma
sobrecarga, afirmam fontes da empresa que sublinham o facto da comissão
executiva ser já de si “curta”. São três pessoas, duas delas com experiência
limitada no sector. O administrador financeiro Raffael Alves, no sector da
aviação tem apenas como experiência a direção financeira da Azul Linhas Aéreas
Brasileiras de David Neeleman entre 2012 e 2017. David Pedrosa tem um percurso
profissional ligado sobretudo aos transportes terrestres no Grupo Barraqueiro.
A pressão é grande. Fonte do Governo disse ao Eco na sequência dos resultados
que os executivos “deviam demitir-se”.
Novos aviões, mais custos
A penalizar as contas estão também os custos que a
empresa está a ter com os novos aviões, a contratação e a formação de pilotos.
Se a compra de novos aviões é uma das bandeiras da atual administração — havia
77 aeronaves e agora são 106 —, há um lado B nessa ambição, os custos. São os
chamados custos de crescimento e eles no primeiro semestre chegaram aos €44
milhões, sabe o Expresso. Até final de junho juntaram-se à frota da TAP 15
aviões da Airbus (nove dos quais são A330 NEOs), tendo saído cinco aeronaves
antigas. Aliás, esta semana o primeiro-ministro, António Costa, veio lembrar
que o que descompensou o défice externo foi a importação de maquinaria,
nomeadamente o peso do investimento nos aviões para a TAP. Os novos aviões
ficam parados um a dois meses até obterem toda a certificação. Desde a
privatização a empresa já contratou 2400 pessoas.
Se o primeiro semestre foi de agravamento face aos
€90 milhões de prejuízo no primeiro semestre de 2018, todas as mensagens de
dentro da TAP são de que haverá melhorias na segunda metade do ano,
tradicionalmente mais promissora do ponto de vista das receitas, já que inclui
o verão e o Natal. A TAP tem estado a crescer em número de passageiros
transportados — em agosto houve um crescimento de 11% face a agosto de 2018. A
companhia, sabe o Expresso, aumentou as receitas em cerca de 5% no terceiro
trimestre deste ano. E espera que as contas continuem a melhorar até final do
ano.
NÚMEROS
► €43,1
milhões foi quanto baixaram as receitas com a venda de bilhetes no Brasil
► €44
milhões é o custo semestral atribuído à entrada de 15 aviões na TAP, mais a
formação da respetiva tripulação
► €119,7
milhões foi o prejuízo da TAP no primeiro semestre
► 106 é o
número atual de aviões da TAP, eram 77 na altura da privatização (texto dos jornalistas
do Expresso, Anabela Campos e Pedro Lima, com a devida vénia)
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