sexta-feira, outubro 04, 2019

TAP à espera da salvação no 2º semestre

Depois da tempestade que foi a divulgação antecipada de um prejuízo de €119,7 milhões da TAP no primeiro semestre — o pior resultado semestral desde a privatização —, o silêncio instalou-se. Tanto a companhia aérea como o Governo, que recebeu com bastante irritação os resultados, optam por não fazer comentários. Mas as poucas mensagens que passam vão no sentido de que as contas vão melhorar significativamente.
Sobre os maus resultados do primeiro semestre foram internamente apontados responsáveis, atendendo nomeadamente à quebra das receitas de passagens no Brasil. A culpa recaiu sobre Elton D’Souza, o responsável pela área de gestão de receitas, que saiu em julho para assumir a presidência da operação europeia da Netjets. A ideia de que é o responsável por parte do tropeção da TAP circulou logo na sexta-feira da semana passada assim que os resultados foram divulgados. Aliás, a par do aumento dos custos com o pessoal, o Brasil foi apontado como um dos dois fatores responsáveis pelo mau desempenho: a descida das receitas neste país, no semestre, foi de €43,1 milhões.

Elton D’Sousa, gestor goês de nacionalidade portuguesa, foi, porém, uma das duas pessoas que receberam o maior prémio de desempenho relativo aos resultados de 2018, ou seja, €110 mil. Porque é ele agora um dos grandes responsável pelo rombo nas contas do primeiro semestre, quando antes foi considerado excecional? Uma pergunta que fica sem resposta. Certo é que esta área, fundamental na engenharia do negócio, tem tido muita rotatividade dentro da TAP: Elton D’Souza é o terceiro responsável pela gestão das receitas desde a privatização e a companhia ainda não arranjou ninguém para o substituir, apesar de estar à procura no mercado internacional. Contactado pelo Expresso, Elton D’Souza não quis comentar.
Quem tem estado agora a reunir com a equipa que faz a gestão de receitas é Antonoaldo Neves, o presidente executivo da TAP. Uma sobrecarga, afirmam fontes da empresa que sublinham o facto da comissão executiva ser já de si “curta”. São três pessoas, duas delas com experiência limitada no sector. O administrador financeiro Raffael Alves, no sector da aviação tem apenas como experiência a direção financeira da Azul Linhas Aéreas Brasileiras de David Neeleman entre 2012 e 2017. David Pedrosa tem um percurso profissional ligado sobretudo aos transportes terrestres no Grupo Barraqueiro. A pressão é grande. Fonte do Governo disse ao Eco na sequência dos resultados que os executivos “deviam demitir-se”.
Novos aviões, mais custos
A penalizar as contas estão também os custos que a empresa está a ter com os novos aviões, a contratação e a formação de pilotos. Se a compra de novos aviões é uma das bandeiras da atual administração — havia 77 aeronaves e agora são 106 —, há um lado B nessa ambição, os custos. São os chamados custos de crescimento e eles no primeiro semestre chegaram aos €44 milhões, sabe o Expresso. Até final de junho juntaram-se à frota da TAP 15 aviões da Airbus (nove dos quais são A330 NEOs), tendo saído cinco aeronaves antigas. Aliás, esta semana o primeiro-ministro, António Costa, veio lembrar que o que descompensou o défice externo foi a importação de maquinaria, nomeadamente o peso do investimento nos aviões para a TAP. Os novos aviões ficam parados um a dois meses até obterem toda a certificação. Desde a privatização a empresa já contratou 2400 pessoas.
Se o primeiro semestre foi de agravamento face aos €90 milhões de prejuízo no primeiro semestre de 2018, todas as mensagens de dentro da TAP são de que haverá melhorias na segunda metade do ano, tradicionalmente mais promissora do ponto de vista das receitas, já que inclui o verão e o Natal. A TAP tem estado a crescer em número de passageiros transportados — em agosto houve um crescimento de 11% face a agosto de 2018. A companhia, sabe o Expresso, aumentou as receitas em cerca de 5% no terceiro trimestre deste ano. E espera que as contas continuem a melhorar até final do ano.
NÚMEROS
► €43,1 milhões foi quanto baixaram as receitas com a venda de bilhetes no Brasil
► €44 milhões é o custo semestral atribuído à entrada de 15 aviões na TAP, mais a formação da respetiva tripulação
► €119,7 milhões foi o prejuízo da TAP no primeiro semestre

106 é o número atual de aviões da TAP, eram 77 na altura da privatização (texto dos jornalistas do Expresso, Anabela Campos e Pedro Lima, com a devida vénia)

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