Há quem esteja a depositar esperança nos resultados eleitorais das
legislativas de 76 de Outubro, sobretudo em termos do que serão as votações dos
5 maiores partidos - PSD, PS, CDS, PCP e
Bloco.
Dizem os apologistas de um argumento plausível, que tratando-se de
eleições diferentes e não estando a governação regional em cima da mesa, é
natural que a abstenção aumente comparativamente com a anterior, e que as votações
dos partidos sejam substancialmente diferentes.
Ou seja, os eleitores que votaram Cafofo em 22
de Setembro não sei se estarão disponíveis para votar Carlos Pereira e Orlando
Câmara em 6 de Outubro. A começar pelo próprio universo eleitoral do PS.
Continuo a pensar que mais de 20 mil votos – no mínimo – obtidos pelo PS-M se
ficaram a dever a e à sua prometida mudança, e não ao PS que sozinho não vale
essa expressão eleitoral, nunca valeu. Aliás, até em termos financeiros o PS-M
tem que estar agradecido a Cafofo porque os resultados de 22 de Setembro permitem
aos socialistas locais, em queda desde
2004, resolver problemas financeiros complicados que existem nos outros partidos,
não sendo um exclusivo do PS ou do PSD.
Quanto ao PSD a expectativa (errada mas aceitável) é a de esperar - mas
pergunto se esse não foi o objectivo nas regionais de 22 de Setembro, salvo se a
política é mais maquiavélica do que se imagina... - que PCP e Bloco não votem
de uma forma tão acentuadamente útil a favor do PS. Isto porque tratando-se de
um acto eleitoral que, embora dele dependendo o futuro governo do país - e a
velha história da maioria absoluta em São Bento – persiste muita indefinição
num acto eleitoral que não assenta numa lista única mas em candidaturas
distribuídas por 23 círculos eleitorais (Continente, ilhas e emigração).
Mas será que alguém acredita que o PCP e o Bloco estariam interessados,
nas eleições regionais, que são as mais importantes de todas, em perder juntos
mais de 6.800 votos (12.100 votos se contarmos a JPP) e 3 deputados regionais (5 deputados
com a JPP)? Ou seja, o Bloco e o PCP têm apenas um eleitorado fixo que é muito
pequeno, que não garante sequer a certeza da eleição de mandatos - sobretudo o
Bloco – ambos vivendo por isso das oscilações ditadas pelas variações da política
interna e externa.
Acresce que os resultados das eleições regionais foram influenciadas por
três factores em concreto que associo:
- redução da abstenção por via de mais 15.600 eleitores votantes;
- menos 2.200 votos brancos e nulos;
- queda eleitoral dos partidos à esquerda (PCP, Bloco, JPP e PCTP) de mais de 13.600 votos;
- queda eleitoral na direita (CDS, PND, PNR) de 12.700 votos;
- queda eleitoral do PSD de 125 votos.
Estamos a falar de mais de 44 mil votos entre mais votantes, menos
brancos e nulos e perdas dos partidos. Basicamente constata-se que PCP e Bloco não controlam os eleitores que neles votam e que
em 22 de Setembro, estou convencido, votaram em Paulo Cafofo - mesmo não sendo eleitores
do PS - na expectativa de uma mudança política que ficou a cerca de 5.000 votos
de acontecer e sem saberem bem do que se tratava.
É por isso possível e natural que o PCP e o Bloco voltem a uma votação
mais real - embora as candidaturas não tragam nada de novo aos madeirenses -
mas o mesmo se coloca, em termos de desafio que transcende as eleições de 6 de
Outubro, ao PSD e ao CDS. Desde logo a dissipação das dúvidas, uma espécie de
"legitimação" confirmada (cuidado com as aspas...) indirecta da potencial
coligação regional. Dificilmente o CDS, por razões políticas locais e nacionais,
elegerá de novo um deputado que já teve em S. Bento. Se o fizesse seria
surpreendente. Também não vejo o PSD com uma candidatura, apesar de liderada por
Miguel Albuquerque, susceptível de travar a influência dos ventos da governação
da geringonça na RAM, e de mobilizar eleitores numa dimensão susceptível de operar
qualquer mudança no previsível cenário de 3 mandatos. Menos que isso seria uma
derrota que poderia, no caso de ser extrapolada – penso que não faz sentido mas
há quem o faça – colocar muito em causa, pelo menos questionar muita coisa.
Por isso, julgo que se depois das regionais fosse possível apresentarem
as listas de candidatos à Assembleia da República, provavelmente as escolhas e
as estratégias dos partidos regionais seriam substancialmente diferentes (LFM)
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