sábado, outubro 12, 2019

Nota: a esperteza saloia (tardia ) da JPP

Eu não vou discutir os argumentos colocados pela JPP no comunicado, até porque antes deles já me tinha referido a muitos deles, assumindo o ónus da crítica e do apoio, particularmente da rafeirada anónima que conspurca as redes sociais. O que se passou com a presidência da Assembleia Legislativa da Madeira nunca poderia ter acontecido, Nunca! Não falo em pessoas - embora reconheça que a ambição pessoal e outros atributos são naturais sempre que falamos em pessoas, em características humanas que de uma forma ou de outra toldam a nossa formação e as nossas virtudes e defeitos. Nada disso!
Falo e valorizo os procedimentos políticos adoptados e as formas pouco claras, inaceitáveis, como se chegou a esta situação claramente desenvolvida no submundo da política, longe de tudo e de todos. E não mudo nada do que disse.
Canárias exemplar
Lembro, porque nunca é demais referi-lo, um exemplo do que é a política protagonizada por gente com ética e valores:
  • o PSOE ganhou as eleições autonómicas em Canárias realizadas em Maio deste ano. Ganhou sem maioria absoluta, mas teve mais votos, mais deputados, apenas 25 num universo de 70, em que a maioria absoluta necessária é garantida apenas com 36 deputados.
  • o Presidente do parlamento das Canárias - proposto pelo PSOE - o socialista Gustavo Matos, licenciado em direito na Universidade de Canárias, mestrado na Universidade de Salamanca - foi eleito com 36 votos a favor, do PSOE, da Nueva Canarias, Podemos e Agrupacion Socialista Gomera e 33 votos em branco do PP e Coligacion Canária. Não se registaram votos contra!
  • o Presidente do Governo Autónomo das Canárias - Ángel Víctor Torres - é do PSOE, o partido mais votado, indigitado depois de um acordo político - o Pacto das Flores - que viabilizou um governo de coligação, que acabou com a liderança de Canárias, de 26 anos, da Coligación Canária, nacionalista. Torres obteve o apoio do PSOE "5 deputados), Nueva Canarias (5), Sí Podemos (4) e Agrupación Socialista Gomera (3), partidos que assinaram o acordo para o referido governo de coligação e votos contra da Coalición Canaria (19), PP (10) 2 Ciudadanos (2) - apenas dois deputados estiveram ausentes, um do PP e outra dos CC.

Intolerável mas...
O que ser passou na Madeira, repito, é intolerável, uma vergonha que em nada abona a favor da política e dos políticos. Ninguém sai bem desta cena absurda. Quando se misturam ambições, pressões, chantagens, negociatas, ameaças, etc, para se conseguirem determinados desideratos políticos, nada feito. É a política no patamar mais rasca. Que me remeteu obrigatoriamente para um período de desilusão e de reflexão sobre o meu próprio envolvimento na política e na militância partidária. Que a seu tempo terá um epílogo que eu acredito ser inevitável.
Mas a culpa disso é dos partidos e dos políticos, pela fragilidade que demonstram, pela incapacidade de se afirmarem entre os seus pares, de forma democrática e legitimada pela eleição, na tarefa imensa de credibilizar a política e os partidos e de denunciarem de forma peremptória, sem jogos duplos ou posturas cinzentas, tudo o que se passa quando são descaradamente pisadas as linhas vermelhas da tolerância, da ética e da verdade.
Caixa de pandora aberta...
A caixa de pandora foi aberta. A partir de agora vale tudo na política regional, qualquer deputado pode pressionar, ameaçar ou chantagear, porque  a política desceu ao ponto máximo de ficar a pouca distância entre a política-lixo e a política-trampa. Política e políticos cuja credibilidade, aos olhos das pessoas, está tão lá em baixo, onde nunca esteve. E não deixa de estar com tudo isto.
Mas há o mas e a sonsa JPP
Neste quadro entra (tardiamente) a JPP que aparece metida na "confusão" por optimismo e com claras intenções desestabilizadoras. 
A JPP, que sempre recusou qualquer entendimento com o PSD - repito, veremos em 2021 se precisará ou não... - aparece agora, depois de formalizado o acordo de coligação PSD-CDS, depois de formalizada a candidatura de JMR à liderança do parlamento - aceite pelos social-democratas, apesar da polémica, dos cacos que esse processo gerou e do rasto ameaçador que ainda subsiste nas bases do PSD - a tentar de forma sonsa e saloia gerar divisões na maioria, na expectativa e na esperança de que uma crise coloque em causa a coligação beneficiando isso as JPP e seus potenciais parceiros da esquerda (estou desejando de ver esta unidade de esquerda quando começar a pré-campanha eleitoral para as autárquicas de 2021...)
Se a JPP está contra JMR devia tê-lo dito aberta e publicamente em tempo útil. Se a JPP queria a recandidatura de Tranquada Gomes, que elogia, devia ter tomado logo no início do processo, e quando conheceu sinais de polémica, essa posição. Não o fez, preferiu ficar sentada de bancada a assistir, na certeza de que isso não esconde que foi um dos derrotados das eleições de 22 de Setembro, como outros o foram. Alguns até ganhando acabaram por não ganhar...
Admito mesmo que a JPP esteja contra a eleição de um partido - CDS - com 3 deputados, os mesmos da JPP, que perdeu mais de 9 mil votos (muito mais das perdas da JPP), que perdeu 4 deputados (o dobro das perdas da JPP), assuma a liderança do parlamento em circunstâncias estranha se lamentáveis que a história um dia vai contar, tenho a certeza disso. Admito isso. Mas esta posição súbita da JPP, na tarde de sexta-feira, mesmo que seja "justificada" pelas formalização da candidatura PSD-CDS, poderia ter sido tomada mais cedo. E mesmo que não tivesse efeito prático, confundia a abria uma nova frente. O problema é que a JPP acha que um entendimento parlamentar com o PSD é uma espécie de pandemia que a vai matar...
E agora?
Chegados a este ponto, temos o seguinte:
- PSD e CDS assinaram um acordo político com incidência parlamentar, pelo que devem cumprir o compromisso assumido entre ambos. A política está tanto na merda que era o que nos faltava termos partidos e políticos, causadores de tudo isto, a se mostrarem, incapazes de cumprirem os acordos que formalizam e assinam. Só nos faltava isso neste descrédito generalizado.
- se a JPP quer contrariam a candidatura do PSD-CDS convença os seus parceiros da esquerda - já que recusou qualquer entendimento com o PSD nesta matéria - a formalizarem uma candidatura à liderança do parlamento, contra JMR, mas que eu admito esteja eventualmente condenada ao fracasso e por isso compreensivelmente sem encontrar entusiasmo e candidatos disponíveis (acresce que o PS já formalizou a candidatura de Vítor Freitas à vice-presidência do parlamento)
- se por exemplo, JMR, alvo de ataques políticos e pessoais que em nada o beneficiam - e condeno o ataque pessoal que se mistura com a política porque isso não faz sentido e a vida de cada um a cada um pertence e diz respeito - por iniciativa própria abandonasse a candidatura - acreditam nisso?! - então julgo que a normalidade que a JPP reclama seria reposta. O que se fica a saber é que, em principio - o voto é secreto - JMR contará com os votos do PSD e do CDS mas já sabe que terá os votos contra da JPP. Resta saber o que PCP e PS farão... (LFM)

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