“Púrpura Trombocitopénica obrigou Igor Pita a
anunciar a reforma antecipada; fez a estreia na Liga em 2007, foi internacional
sub-21 e quer continuar ligado à modalidade.
Igor Pita fez a
sua estreia na Liga com apenas 18 anos, em 2007. Promessa do Nacional da
Madeira, chegou à seleção nacional de sub-21. Entretanto, rumou ao continente e
foi campeão da Liga de Honra pelo Beira Mar. Tinha um futuro radiante à sua
espera. Porém, tudo mudou.
A certa altura,
o jovem percebeu que teria de abandonar o futebol para preservar a sua vida. No
ano passado, foi parar ao hospital e – após uma interminável bateria de exames
– ouviu o diagnóstico que motivou a reforma precoce: Púrpura Trombocitopénica.
O lateral
esquerdo tinha assinado contrato com o União da Madeira em junho de 2013 mas
não chegou a iniciar a temporada.
A
doença sanguínea, que provoca uma grande redução do nível de plaquetas,
justificou o adeus aos relvados com apenas 24 anos.
«Foi
como uma seta no coração mas tenho a consciência que podia ter sido mais grave.
Aquele período em que não sabia o diagnóstico foi horrível. Felizmente, a minha
família ajudou-me bastante. Foi difícil terminar a carreira mas explicaram-me
que uma pancada em treinos ou jogos podia causar uma hemorragia e aí podia ser
trágico.»
A
carreira profissional terminou abruptamente. Mas essa nem foi a pior notícia
para Igor Pita. O ex-jogador faz uma confissão tocante ao Maisfutebol.
«Eu
sei que o futebol profissional ia terminar de qualquer forma. Fossem mais dez
anos, mas ia terminar. Mas sabe o que me custa mesmo? Estarem a chegar as
férias e saber que não posso jogar com os amigos como fazia. Que não posso
mesmo participar em jogos, nem a brincar, porque corro riscos. É o que mais
gosto de fazer e não é fácil imaginar-me sem isso.»
Igor
aprendeu a viver para o futebol e, depois de pendurar as chuteiras
precocemente, pretende continuar ligado à modalidade. Nesta altura, aliás,
abre-se uma boa perspetiva para o seu futuro imediato.
«Espero
que continuem a ouvir falar de mim, agora do outro lado. Seja na formação ou em
outras funções, quero ficar ligado ao futebol. É o que sei fazer. Vou também
adquirir conhecimentos e formar-me para dar um contributo válido.»
A
estreia e o primeiro sinal em 2007
Natural
da Camacha, Igor Pita fez a sua estreia pela equipa sénior do Nacional a 27 de
outubro de 2007. O irmão Pedro também representava a formação insular. O
primeiro jogo foi um teste de fogo: surgiu no onze para a receção ao Sporting
(0-0).
«Tinha
18 anos e é um momento que guardarei para sempre na memória. Foi um dos marcos
na carreira. Para além disso, fui internacional por Portugal entre os sub-18 e
os sub-21. Ouvir o hino nacional e vestir aquela camisola também é algo
inesquecível»
Curiosamente,
os primeiros indícios sobre o seu problema surgiram nessa altura.
«A
primeira vez que detetaram um número de plaquetas baixo foi também em 2007. Mas
a verdade é que nunca, em nenhum clube, me disseram nada sobre o assunto, me
disseram que podia ser algo grave. Continuei a jogar como se nada fosse.»
Na
época seguinte, Igor fez uma dezena de jogos pelo Nacional e chegou à seleção
de esperanças de Portugal. Cinco internacionalizações em 2009, a última das
quais frente a Angola. Nessa equipa das Quinas estava Fábio Faria, outro jogador que teve de abandonar a carreira devido a
problemas de saúde.
O
único título em Aveiro com Leonardo Jardim
O
promissor lateral deixou a Madeira e rumou a Aveiro por empréstimo do Nacional.
No Beira Mar, com Leonardo Jardim, fez trinta jogos entre todas as competições
e contribuiu para o título da Liga de Honra, o único na sua carreira sénior.
«Foi
um ano fantástico, com um grande grupo que superou muitos problemas, como
ordenados em atraso. Eu já conhecia o Leonardo Jardim, já que sou da Camacha e
era iniciado do clube quando ele era o treinador. Desde essa altura que percebi
o seu valor e o que fez no Sporting não me surpreende. Era uma questão de
tempo.»
Mais
uma infeliz coincidência. Nesse plantel estava Bruno Conceição, guarda-redes que luta aos 32 anos contra um mieloma múltiplo.
O
passo em falso no caminho para o fim
Em
2010, Igor Pita terminou contrato com o Nacional da Madeira. O Beira Mar não
garantiu o jogador em definitivo e este rumou ao Chipre, aceitando o convite do
Doxa. Um passo em falso na carreira.
«Correu
tudo mal. Tive três roturas e não fui bem tratado. Aquilo lá era tudo amador.
Infelizmente, foi mesmo um passo em falso. Não me adaptei e decidi que tinha de
sair dali. Tinha 21 anos e não queria desaparecer.»
Igor
assinou com contrato de dois anos e meio com o Marítimo. Regressou à Madeira
para dar um novo impulso à sua carreira.
«Como
o Marítimo B estava na II Divisão, fui emprestado ao Belenenses. Fiz uma boa
época, o Marítimo B subiu entretanto e voltei para me afirmar e poder ser
chamado à equipa principal. Tudo corria bem até à receção ao FC Porto.»
A
3 de novembro de 2012, sem o saber, Igor Pita fez o último jogo da sua carreira
profissional.
«Fiz
uma rotura de ligamentos e tive de ser operado. Entretanto, no início de junho
de 2013, assinei contrato com o União da Madeira. Pouco depois, estava no
hospital para acompanhar o nascimento do meu segundo filho e senti-me mal. Fui
internado com uma infeção mas acabei nessa altura por descobrir o que realmente
se passava comigo.»
O
jovem tinha um número de plaquetas extremamente reduzido - «quando fui
internado, devia ter 150 mil e tinha apenas 20 mil» - e, após várias semanas de
análises, percebeu a verdadeira extensão do problema.
«Vários
especialistas disseram-me que não podia jogar mais futebol. Aliás, disseram-me
que nunca devia ter sido jogador, que foi uma situação de grande risco!»
O
futuro com a família, os livros e novos horizontes
Igor
Pita teve de aceitar esse destino. Felizmente, as análises realizadas pelos
pais e o irmão nada detetaram.
«As
análises aos meus genes também não detetaram nada, portanto é muito difícil que
os meus filhos venham a ter o mesmo problema. Isso são as boas notícias. Para
além disso, não tenho qualquer tipo de sintoma. Posso ter uma vida normal,
desde que me cuide e vá ao hospital de seis em seis meses para monitorizar os
níveis.»
Aos
24 anos, encara o futuro como ex-jogador de futebol. A reforma antecipada
permite um contacto mais regular com a família.
Sem
baixar os braços, Igor pensa já no passo seguinte. Projetos não faltam e o
esquerdino quer vencer em novas funções.
«Já
me estive a informar para completar o 12º ano e daí seguir para o ensino
superior na área do desporto. Quero aprender, evoluir e ficar ligado ao futebol
de outra forma. Só me vejo a fazer isso. Fico triste por a carreira ter acabado
tão cedo mas tenho um orgulho muito grande pelo que consegui em poucos anos.
Foi lindo enquanto durou.» (texto do jornalista do Mais Futebol, Vitor Hugo Alvarenga, com a devida vénia)



