"Apresentei hoje de manhã a minha demissão do Governo ao
Primeiro-Ministro.
Com a apresentação do pedido de demissão, que é irrevogável,
obedeço à minha consciência e mais não posso fazer.
São conhecidas as diferenças políticas que tive com o Ministro
das Finanças. A sua decisão pessoal de sair permitia abrir um ciclo político e
económico diferente. A escolha feita pelo Primeiro-Ministro teria, por isso, de
ser especialmente cuidadosa e consensual.
O Primeiro-Ministro entendeu seguir o caminho da mera
continuidade no Ministério das Finanças. Respeito mas discordo.
Expressei, atempadamente, este ponto de vista ao
Primeiro-Ministro que, ainda assim, confirmou a sua escolha. Em consequência, e
tendo em atenção a importância decisiva do Ministério das Finanças, ficar no
Governo seria um ato de dissimulação. Não é politicamente sustentável, nem é
pessoalmente exigível.
Ao longo destes dois anos protegi até ao limite das minhas
forças o valor da estabilidade. Porém, a forma como, reiteradamente, as
decisões são tomadas no Governo torna, efetivamente, dispensável o meu
contributo.
Agradeço a todos os meus colaboradores no Ministério dos
Negócios Estrangeiros a sua ajuda inestimável que não esquecerei. Agradeço aos
meus colegas de Governo, sem distinção partidária, toda a amizade e
cooperação"