"O Governo promete entrar num novo ciclo. Parece
que essa promessa ficará consubstanciada quando o Executivo apresentar ao
Parlamento a sua moção de confiança. Já aqui defendi que a apresentação dessa moção fez sentido,
justamente também porque podemos aquilatar as intenções da nova equipa de
Passos Coelho. Mas, por isso mesmo, e para que tudo não passe de outro conjunto
de mentirolas, mais ou menos bem argumentadas, recomendaria que a expressão não
fosse dada como sinónimo de crescimento económico, ou de folga nos sacrifícios
impostos aos cidadãos.
Um novo ciclo não é um novo desejo, ou um desejo
diferente de governar. Um novo ciclo teria de, imediatamente, lançar mais
dinheiro na Economia das pessoas (e não necessariamente só na das empresas, uma
vez que as empresas também dependem das pessoas, e não o contrário). Isso
significaria;
1) Baixa do
IRS
2) Baixa do
IVA
3) Baixa do
IRC
Como nada disto vai acontecer, não por maldade de quem
Governa, como alguma esquerda que adora pensamentos mágicos faz crer, mas
porque não há condições, o novo ciclo será tão doloroso como o antigo. Não digo
que o Governo não possa fazer umas flores, como baixar o IVA da restauração, ou
mesmo aumentar cinco euros o salário mínimo, mas compreendam por favor que nada
disso é significativo.
Chamar novo ciclo só porque mudaram as caras é
enganador. E a prazo os portugueses cobrarão esse engano. Como aliás, num outro
ciclo político, cobrarão ao PS um discurso de facilidades que os socialistas
sabem bem não poderem prometer porque não depende só da vontade do Governo
português restituir aos contribuintes o que lhes foi tirado e aos desempregados
o emprego de que se viram privados.
Quando estas duas coisas acontecerem, então, sim,
teremos um novo ciclo. Até lá, tudo não passará de slogans e intenções" (texto de Henrique Monteiro, Expresso com a devida
vénia)