Segundo
o Expresso, num texto do jornalista Jorge Nascimento Rodrigues, "os juros a dez anos subiram ao longo da
semana no mercado secundário. O risco de incumprimento aumentou. O BCE fala de
regresso das "tensões" no mercado da dívida soberana.A probabilidade
de incumprimento da dívida soberana portuguesa num horizonte de cinco anos
subiu de 23,56% para 24,79% entre 24 e 31 de maio, uma subida de mais de um
ponto percentual em uma semana, segundo dados da CMA S&P Capital IQ. Desde
21 de maio, quando Portugal saiu do "clube" da bancarrota, pela
primeira vez ao fim de três anos, a subida do risco foi de mais de dois pontos
percentuais, o que equivaleu ao reingresso do país no grupo das 10 economias
com mais alta probabilidade de entrar em incumprimento da dívida. E reentrou
para o 9º lugar, estando mais de um ponto percentual acima do risco do Iraque,
que ocupa a última posição.No mercado secundário, as yields das
obrigações do Tesouro (OT) a dez anos subiram. Fecharam a 31 de maio em 5,6%,
segundo dados da Bloomberg. Uma semana atrás tinham fechado em 5,54% e, aquando
da saída de Portugal do "clube" da bancarrota, no dia 21 de maio,
haviam fechado em 5,23%, um mínimo do ano. A trajetória de descida das yields
que acompanhara o regresso à emissão de dívida obrigacionista a dez anos pela
República Portuguesa (a 7 de maio) foi invertida. Nesse dia, as yields
fecharam em 5,52%. A taxa média de remuneração paga na emissão sindicada de 7
de maio foi de 5,65%.
Tensões
renovadas, diz o BCE
Este
movimento no mercado secundário da dívida reflete o que o Banco Central Europeu
(BCE), no seu relatório semestral sobre a situação de "estabilidade
financeira", divulgado a 29 de maio, designou como "tensões renovadas
nos mercados da dívida soberana, em virtude de crescimento fraco e abrandamento
da implementação das reformas". As "tensões" são visíveis se
avaliarmos o comportamento mensal das yields das obrigações dos países
periféricos. Com exceção de Portugal e da Grécia, as yields das
obrigações a dez anos de Espanha, Itália, Irlanda e Eslovénia subiram em termos
mensais. As subidas mais acentuadas registaram-se, entre 30 de abril e 31 de
maio, para as obrigações espanholas, italianas e eslovenas: de 4,14% para
4,44%; de 3,89% para 4,16; e de 5,87% para 6,13%, respetivamente. Naquele
período mensal, as yields das OT e dos títulos gregos a dez anos
desceram: de 5,71% para 5,6% e de 11,02% para 9,48%, respetivamente. O problema
é que a trajetória descendente - com as yields das OT a marcarem novo
mínimo do ano a 21 de maio e as yields das obrigações gregas a descerem
para 8,1% no dia seguinte - inverteu-se para os dois casos, e, nomeadamente na
última semana de maio, agravaram-se as subidas. No caso de Portugal, as
estimativas da OCDE para 2013 e as projeções para 2014 em três
indicadores-chave - défice, dívida e recessão - revelaram uma situação
preocupante aos olhos dos investidores internacionais. O rácio da dívida
soberana portuguesa poderá atingir 132,1% do PIB em 2014, sendo conhecido que
120% é o limite considerado para a sustentabilidade da dívida nas análises do
Fundo Monetário Internacional (FMI). O rácio do défice orçamental deverá
atingir 5,6% do PIB no final de 2014 (contra 4,5%, se a alteração de meta
pretendida por Lisboa para o próximo ano for aprovada pelo Conselho Europeu). A
recessão poderá ser maior este ano (contração de 2,7% em vez de 2,3%, segundo o
governo português) e a retoma mais enfezada para o ano que vem (crescimento de
0,2% contra 0,6%). Quanto à Grécia, apesar do FMI ter aprovado esta
semana as conclusões do terceiro "exame" ao andamento do segundo
programa de resgate a Atenas, o relatório deixa um "recado" - os
parceiros europeus no resgate têm de assegurar que tomarão mais medidas, se for
necessário, no sentido de "reduzir a dívida substancialmente abaixo de
110% em 2020". Os rumores de uma segunda reestruturação da dívida grega
alastram-se.
Reavaliação
à escala global
Outro
aspeto ressaltado pelo relatório do BCE já referido, é "a reavaliação do
prémio de risco nos mercados globais, depois de um período prolongado de fluxos
para locais seguros e em busca de yield". Os rumores sobre a
dimensão do "alívio quantitativo" (sigla QE, em inglês) alimentado
pela Reserva Federal norte-americana (Fed) a partir do verão, os temores de que
o Banco do Japão possa perder o controlo da situação no combate à deflação, e a
recessão na zona euro que poderá agravar ainda mais as crises de dívida nos
"periféricos" e arrastar alguns do "centro" para o remoinho
(tem-se falado da Holanda, ainda que esta tenha margem substancial de manobra),
provocaram nas últimas semanas um disparo nas yields das obrigações a
dez anos de quatro grandes economias - Estados Unidos, Japão, Alemanha e
França. O maior aumento de rentabilidade, nessa maturidade, foi o dos títulos
do Tesouro norte-americano, logo seguido pelas obrigações francesas. Em menor
grau para as obrigações alemãs (conhecidas pela designação de Bunds) e
japonesas. As yields dos títulos norte-americanos, em um mês,
saltaram de 1,67% para 2,13%. No caso das obrigações francesas de 1,71% para
2,08%. As yields dos Bunds subiram de 1,22% para 1,51% e no caso
dos títulos japoneses de 0,61% para 0,86%. O BCE reunirá o seu conselho a 6 de
junho e a Reserva Federal o seu comité a 18 e 19. Os investidores
internacionais estão de olho nos dois eventos e o impacto das suas decisões, ou
das palavras de Mário Draghi ou de Ben Bernanke, sentir-se-á. Apesar desta
volatilidade acrescida nos mercados da dívida - e também nas bolsas -, a economia
americana cresceu 2,4% em termos homólogos no primeiro trimestre deste ano e
3,5% no caso do Japão. A zona euro contraiu 1% no mesmo período"