domingo, junho 02, 2013

Portugal regressa ao 'clube' da bancarrota



Segundo o Expresso, num texto do jornalista Jorge Nascimento Rodrigues, "os juros a dez anos subiram ao longo da semana no mercado secundário. O risco de incumprimento aumentou. O BCE fala de regresso das "tensões" no mercado da dívida soberana.A probabilidade de incumprimento da dívida soberana portuguesa num horizonte de cinco anos subiu de 23,56% para 24,79% entre 24 e 31 de maio, uma subida de mais de um ponto percentual em uma semana, segundo dados da CMA S&P Capital IQ. Desde 21 de maio, quando Portugal saiu do "clube" da bancarrota, pela primeira vez ao fim de três anos, a subida do risco foi de mais de dois pontos percentuais, o que equivaleu ao reingresso do país no grupo das 10 economias com mais alta probabilidade de entrar em incumprimento da dívida. E reentrou para o 9º lugar, estando mais de um ponto percentual acima do risco do Iraque, que ocupa a última posição.No mercado secundário, as yields das obrigações do Tesouro (OT) a dez anos subiram. Fecharam a 31 de maio em 5,6%, segundo dados da Bloomberg. Uma semana atrás tinham fechado em 5,54% e, aquando da saída de Portugal do "clube" da bancarrota, no dia 21 de maio, haviam fechado em 5,23%, um mínimo do ano. A trajetória de descida das yields que acompanhara o regresso à emissão de dívida obrigacionista a dez anos pela República Portuguesa (a 7 de maio) foi invertida. Nesse dia, as yields fecharam em 5,52%. A taxa média de remuneração paga na emissão sindicada de 7 de maio foi de 5,65%.
Tensões renovadas, diz o BCE
Este movimento no mercado secundário da dívida reflete o que o Banco Central Europeu (BCE), no seu relatório semestral sobre a situação de "estabilidade financeira", divulgado a 29 de maio, designou como "tensões renovadas nos mercados da dívida soberana, em virtude de crescimento fraco e abrandamento da implementação das reformas". As "tensões" são visíveis se avaliarmos o comportamento mensal das yields das obrigações dos países periféricos. Com exceção de Portugal e da Grécia, as yields das obrigações a dez anos de Espanha, Itália, Irlanda e Eslovénia subiram em termos mensais. As subidas mais acentuadas registaram-se, entre 30 de abril e 31 de maio, para as obrigações espanholas, italianas e eslovenas: de 4,14% para 4,44%; de 3,89% para 4,16; e de 5,87% para 6,13%, respetivamente. Naquele período mensal, as yields das OT e dos títulos gregos a dez anos desceram: de 5,71% para 5,6% e de 11,02% para 9,48%, respetivamente. O problema é que a trajetória descendente - com as yields das OT a marcarem novo mínimo do ano a 21 de maio e as yields das obrigações gregas a descerem para 8,1% no dia seguinte - inverteu-se para os dois casos, e, nomeadamente na última semana de maio, agravaram-se as subidas. No caso de Portugal, as estimativas da OCDE para 2013 e as projeções para 2014 em três indicadores-chave - défice, dívida e recessão - revelaram uma situação preocupante aos olhos dos investidores internacionais. O rácio da dívida soberana portuguesa poderá atingir 132,1% do PIB em 2014, sendo conhecido que 120% é o limite considerado para a sustentabilidade da dívida nas análises do Fundo Monetário Internacional (FMI). O rácio do défice orçamental deverá atingir 5,6% do PIB no final de 2014 (contra 4,5%, se a alteração de meta pretendida por Lisboa para o próximo ano for aprovada pelo Conselho Europeu). A recessão poderá ser maior este ano (contração de 2,7% em vez de 2,3%, segundo o governo português) e a retoma mais enfezada para o ano que vem (crescimento de 0,2% contra 0,6%). Quanto à Grécia, apesar do FMI ter aprovado esta semana as conclusões do terceiro "exame" ao andamento do segundo programa de resgate a Atenas, o relatório deixa um "recado" - os parceiros europeus no resgate têm de assegurar que tomarão mais medidas, se for necessário, no sentido de "reduzir a dívida substancialmente abaixo de 110% em 2020". Os rumores de uma segunda reestruturação da dívida grega alastram-se.
Reavaliação à escala global
Outro aspeto ressaltado pelo relatório do BCE já referido, é "a reavaliação do prémio de risco nos mercados globais, depois de um período prolongado de fluxos para locais seguros e em busca de yield". Os rumores sobre a dimensão do "alívio quantitativo" (sigla QE, em inglês) alimentado pela Reserva Federal norte-americana (Fed) a partir do verão, os temores de que o Banco do Japão possa perder o controlo da situação no combate à deflação, e a recessão na zona euro que poderá agravar ainda mais as crises de dívida nos "periféricos" e arrastar alguns do "centro" para o remoinho (tem-se falado da Holanda, ainda que esta tenha margem substancial de manobra), provocaram nas últimas semanas um disparo nas yields das obrigações a dez anos de quatro grandes economias - Estados Unidos, Japão, Alemanha e França. O maior aumento de rentabilidade, nessa maturidade, foi o dos títulos do Tesouro norte-americano, logo seguido pelas obrigações francesas. Em menor grau para as obrigações alemãs (conhecidas pela designação de Bunds) e japonesas. As yields dos títulos norte-americanos, em um mês, saltaram de 1,67% para 2,13%. No caso das obrigações francesas de 1,71% para 2,08%. As yields dos Bunds subiram de 1,22% para 1,51% e no caso dos títulos japoneses de 0,61% para 0,86%. O BCE reunirá o seu conselho a 6 de junho e a Reserva Federal o seu comité a 18 e 19. Os investidores internacionais estão de olho nos dois eventos e o impacto das suas decisões, ou das palavras de Mário Draghi ou de Ben Bernanke, sentir-se-á. Apesar desta volatilidade acrescida nos mercados da dívida - e também nas bolsas -, a economia americana cresceu 2,4% em termos homólogos no primeiro trimestre deste ano e 3,5% no caso do Japão. A zona euro contraiu 1% no mesmo período"