quarta-feira, junho 19, 2013

Opinião pessoal: “TRAPALHADA DO COSTUME”

O que se passou com o pagamento do subsídio de férias aos funcionários públicos mais do que uma trapalhada - mais uma - de um governo de coligação absurdo e patético, constitui não apenas uma vingança pela decisão do Tribunal Constitucional que mandou que tal pagamento fosse processado este ano, contrariando o que o Orçamento de Estado para 2013 determinava, mas também um ajuste de contas com os funcionários públicos particularmente com o perceptível aumento da contestação que nas últimas semanas tem vindo a ocorrer e tende a agravar-se.
Uma questão processual, segundo o governo, impede esse pagamento em tempo útil, de acordo com o que estabelece uma lei geral em vigor - pagamentos em Junho. Basicamente o Orçamento de Estado para 2013 não incluía nenhuma rubrica para pagamentos de subsídios adicionais (férias e 13º) aos funcionários públicos e pensionistas. Um problema que uma nova lei aprovada à pressa pretenderá resolver.
Depois foi insinuado que o governo de coligação estava teso, sem dinheiro para encontrar solução em tempo útil para este problema, cumprindo o que a lei determina nesta matéria. Passos Coelho, o próprio, veio desmentir tal versão. Afinal havia (há) dinheiro. O problema é que não há forma de fundamentar legalmente tal pagamento porque ele não estava previsto inicialmente! A oposição não perde tempo, na esteira dos sindicatos do sector: se afinal há dinheiro, segundo o próprio governo, entidade pagadora, por que razão não são tais pagamentos efectuados em Junho como determina a lei ainda em vigor e ainda não alterada?!
Marques Mendes, ex-líder do PSD, afirmou recentemente num programa de televisão onde emite comentário, que a esmagadora maioria dos membros deste governo de coligação não percebem patavina de política e que de política sabem tanto como ele (Marques Mendes) de lagares de azeite. Subscrevo integralmente. Aliás, o problema principal desta maioria e deste governo é esse, uma desastrosa política de comunicação e uma ainda pior falta de credibilidade no esclarecimento atempado das pessoas, com recurso a argumentos verdadeiros e pacificamente aceites por todos, independentemente de concordarem ou não com eles. E não com trocadilhos, com mentiras, manipulações ou meias-verdades - veja-se o que se passou com a recente greve dos professores onde até hoje continuamos sem saber se o ministro Maduro é o mentiroso da história ou se afinal os maus da fita são os sindicatos.
Cada vez mais este governo parece ser constituído, aos olhos das pessoas, nomeadamente nas suas insignificantes segunda e terceira linhas, por uma cambada de cinzentos e patéticos totós, misturados com alguns "yuppies" feitos à pressão, uns e outros sem experiência e currículo profissional, que de políticos nada têm, mas que têm todos a mania que são os donos da razão, que só eles conhecem os nossos problemas, que só eles conseguem as soluções para os males do país e dos cidadãos, que obedecem cegamente às ordens incapazes de retorquir seja o que for, que se julgam os donos da verdade absoluta que procuram impor aos cidadãos em geral, não admitindo o contraditório, nem sequer a existência de diferentes pontos de vistas. Está à vista de todos que nem com remodelações apressadas a coisa vai lá, da última das quais resultou a promoção a ministro e também de uma espécie de manager comunicacional, de um docente universitário residente no estrangeiro (ou com ligações a universidades estrangeiras), desconhecido no país, e que de comunicação social, assessoria ou de marketing político e imagem percebe patavina!
O problema - retomando a questão dos subsídios de férias dos funcionários e pensionistas - é que o Governo de coligação enviou para a Assembleia da República - que não passa de uma correia de transmissão do autoritarismo político instalado agora em Portugal - uma lei que constitui o símbolo da bandalhice deste poder e que altera tudo o que vigora neste momento. Desde logo os duodécimos pagos aos funcionários públicos desde Janeiro, em vez de se reportarem ao 13º mês, passarão a referir-se ao subsídio de férias, remetendo o governo para Novembro ou Dezembro o pagamento do subsídio de Natal ou 13º mês. Há contudo uma questão de fundo e que tem a ver com o facto de o governo recusar o pagamento em Junho, cumprindo a legislação em vigor, optando aguardar pela promulgação presidencial (?) de uma lei que nem sequer tinha sido ainda votada pelo parlamento nacional, qual sopeira da vontade da maioria autocrática que em 2011 tomou de assalto o poder em Portugal, já que os deputados da maioria, permanentemente sujeitos a pressões, chantagens e ameaças (veja-se o que aconteceu com os processos levantados pelo PSD aos 4 deputados da Madeira só porque votaram contra uma proposta de Lei de Finanças Regionais que é uma descarada roubalheira à Madeira), não tomariam outra atitude que não fosse a de votar a lei governamental sem piar.
Ora havendo alguma perspectiva política neste governo de coligação enfraquecido, ilegítimo e sem qualquer base popular de apoio comparável à que apesar de tudo ainda conseguiu em Junho de 2011, que declaradamente não existe - e estava-me nas tintas se a oposição, que aparece agora a reclamar o pagamento imediato do subsídio de férias, tentando apoderar-se de eventual mais-valia resultante desta pressão que pelos vistos não poupa nem PSD nem CDS, onde são cada vez mais os sectores que acham que o subsídio em causa deveria ser pago imediatamente - se existe algum momento para recuperar parte do destroço causado por esta austeridade criminosa e infindável, seria agora.
Acusado, com toda a razão, de perseguir os funcionários públicos e de não respeitar os pensionistas e reformados, este governo de coligação deveria decidir, já que o problema, pela voz de Coelho, não é dinheiro, pagar o referido subsídio de férias em duas partes, Junho e Julho, remetendo para Agosto o acerto fiscal resultante desse pagamento. E mantendo o 13º mês pago em regime de duodécimos como já acontece. Para isso Cavaco Silva teria que recusar promulgar o diploma patético que, sobre esta matéria, a maioria pretende impor, para que, através desse malabarismo legislativo, se quiserem de mais este "chico espertismo" rafeiro possa uma vez mais roubar cidadãos, enganar os portugueses e vingar-se de decisões judiciais que contrariam a visão rasteira deste governo de coligação desacreditado e em lenta e silenciosa agonização.

Pena é que a Madeira não tenha condições para financeiras para fazer o mesmo. E nem sequer cometo a hipocrisia idiota de desvalorizar o facto de sabermos todos que os funcionários públicos, os pensionistas e os reformados representam (ou representavam?) uma parcela importante da base eleitoral dos dois partidos da actual maioria, muitas vezes muito partilhada com o PS. No fundo acudia-se as pessoas numa altura em que lhes faz falta e dispensavam-se estes truques escabrosos, estas maldades infindáveis e estes sentimentos de vinganças tontas que caracterizam a postura de um governo de coligação que vai inevitavelmente a caminho do abismo e do fundo do poço. Com tudo o que isso representará para os próprios partidos da coligação ainda no poleiro. (JM/LFM)