Li no Jornal I, num texto da jornalista Margarida
Bon de Sousa que Luís Amado e Teixeira dos Santos deverão fazer parte da nova
administração. Saem Faria de Oliveira, que ontem formalizou a renúncia, Rebelo
de Sousa, Lavrador e Norberto Rosa. A gestão do dossiê BPN terá sido a
principal razão para a remodelação de alguns administradores da Caixa Geral de
Depósitos. A decisão será tomada amanhã, sendo Luís Amado um dos nomes mais
apontados para suceder a Faria de Oliveira, o actual chairman, que pretende
dedicar-se em exclusivo à Associação Portuguesa de Bancos, tendo até optado
pelo vencimento desta última em vez de receber o salário da Caixa Geral de
Depósitos. Da lista dos remodeláveis constam ainda o advogado Pedro Rebelo de
Sousa, não executivo, que já vinha há alguns meses a manifestar vontade de
sair; Norberto Rosa, executivo, que teve momentos de alta fricção com a
secretária de Estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque, por questões
relacionadas com o BPN; e Rodolfo Lavrador, igualmente administrador executivo,
pelos maus resultados no Brasil e em Espanha. Lavrador, com fortes ligações a
António Guterres e a Faria de Oliveira, esteve para sair e acabou por ser
reconduzido por influência directa de Miguel Relvas, a pedido de José Luís
Arnault, tendo sido muito comentada na casa a sua passagem da área socialista
para a ala social-democrata.
Teixeira dos Santos
Para
além de Luís Amado, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de José
Sócrates, também o seu ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, é apontado
para a futura administração da Caixa. O número dois de Sócrates até já tinha
sido dado como certo no cargo de administrador numa outra empresa, a Portugal
Telecom, em representação da CGD, em Março de 2012. Mas
o governo acabou por recuar, depois da forte oposição manifestada pelo CDS-PP e
pelo seu presidente, Paulo Portas, naquele que foi o primeiro incidente público
entre os dois partidos da coligação. Nesse mesmo mês, Portas acabou por ter de
entrar no congresso do PSD ao lado de Passos Coelho, garantindo que o governo
estava "sólido e coeso". O nome de Teixeira dos Santos para a PT terá
então recebido o aval de Faria de Oliveira num encontro que este manteve com
Vítor Gaspar, noticiado pelo "Expresso" na mesma altura, e até o
apoio do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.
Segredo dos deuses
A
ordem de trabalhos da assembleia geral de amanhã está guardada a sete chaves no
Ministério das Finanças. Mas o i sabe que a reunião deverá ser marcada
principalmente pela substituição dos quatro administradores, uma vez que as
contas já terão sido dadas a conhecer ao accionista Estado.
Governance
Faria
de Oliveira já tinha posto o lugar de presidente não executivo da CGD à
disposição do ministro das Finanças há vários meses, logo após ter sido nomeado
presidente da Associação Portuguesa de Bancos. No entanto, Vítor Gaspar recusou
nomear outro gestor para as funções, acabando por adiar a assembleia geral do
banco público de 9 deste mês para amanhã. O actual modelo de governance deverá
ser mantido, ou seja, será nomeado um novo conselho de administração de onde
emanará a comissão executiva. José de Matos, vice-chairman e CEO da
instituição, deverá manter-se no cargo, sendo considerado um homem da confiança
pessoal de Vítor Gaspar. Recorde-se que a actual administração está a funcionar
com um elemento a menos desde a saída de António Nogueira Leite, há mais de
quatro meses, que nunca chegou a ser substituído. E que a remodelação acontece
antes do término dos actuais mandatos, que só acabariam no final do ano.
Divergências
A
relação de Faria de Oliveira com o actual governo foi marcada por algumas
divergências públicas: o papel da CGD no financiamento à economia, nomeadamente
o apoio às PME, que agora vai ser definido pelas Finanças numa carta de missão
que enquadrará os objectivos da futura administração; e a defesa, pelo
presidente do banco, de um acordo que integre o Partido Socialista no actual
governo sem passar por eleições legislativas.
BPN
A
condução do processo de venda do BPN ao BIC começou por estar a cargo da Caixa
Geral de Depósitos, através do administrador Norberto Rosa, sendo assessorado
juridicamente por Maria João Ricou e Duarte Abecassis, advogados da Quatrecasa
e Gonçalves Pereira. No final de 2011, e devido ao impasse, a então secretária
de Estado do Tesouro e Finanças, Maria Luís Albuquerque, acabou por assumir as
negociações directas com Fernando Teles e Mira Amaral. O Ministério das
Finanças acabou mesmo por dispensar os serviços do escritório de advogados,
tendo este sido um dos maiores pontos de clivagem que agora levam à
substituição de alguns dos principais protagonistas da Caixa"