domingo, junho 02, 2013

Ex-ministros de Sócrates na calha para a CGD



Li no Jornal I, num texto da jornalista Margarida Bon de Sousa que Luís Amado e Teixeira dos Santos deverão fazer parte da nova administração. Saem Faria de Oliveira, que ontem formalizou a renúncia, Rebelo de Sousa, Lavrador e Norberto Rosa. A gestão do dossiê BPN terá sido a principal razão para a remodelação de alguns administradores da Caixa Geral de Depósitos. A decisão será tomada amanhã, sendo Luís Amado um dos nomes mais apontados para suceder a Faria de Oliveira, o actual chairman, que pretende dedicar-se em exclusivo à Associação Portuguesa de Bancos, tendo até optado pelo vencimento desta última em vez de receber o salário da Caixa Geral de Depósitos. Da lista dos remodeláveis constam ainda o advogado Pedro Rebelo de Sousa, não executivo, que já vinha há alguns meses a manifestar vontade de sair; Norberto Rosa, executivo, que teve momentos de alta fricção com a secretária de Estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque, por questões relacionadas com o BPN; e Rodolfo Lavrador, igualmente administrador executivo, pelos maus resultados no Brasil e em Espanha. Lavrador, com fortes ligações a António Guterres e a Faria de Oliveira, esteve para sair e acabou por ser reconduzido por influência directa de Miguel Relvas, a pedido de José Luís Arnault, tendo sido muito comentada na casa a sua passagem da área socialista para a ala social-democrata.
Teixeira dos Santos
Para além de Luís Amado, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de José Sócrates, também o seu ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, é apontado para a futura administração da Caixa. O número dois de Sócrates até já tinha sido dado como certo no cargo de administrador numa outra empresa, a Portugal Telecom, em representação da CGD, em Março de 2012. Mas o governo acabou por recuar, depois da forte oposição manifestada pelo CDS-PP e pelo seu presidente, Paulo Portas, naquele que foi o primeiro incidente público entre os dois partidos da coligação. Nesse mesmo mês, Portas acabou por ter de entrar no congresso do PSD ao lado de Passos Coelho, garantindo que o governo estava "sólido e coeso". O nome de Teixeira dos Santos para a PT terá então recebido o aval de Faria de Oliveira num encontro que este manteve com Vítor Gaspar, noticiado pelo "Expresso" na mesma altura, e até o apoio do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.
Segredo dos deuses
A ordem de trabalhos da assembleia geral de amanhã está guardada a sete chaves no Ministério das Finanças. Mas o i sabe que a reunião deverá ser marcada principalmente pela substituição dos quatro administradores, uma vez que as contas já terão sido dadas a conhecer ao accionista Estado.
Governance
Faria de Oliveira já tinha posto o lugar de presidente não executivo da CGD à disposição do ministro das Finanças há vários meses, logo após ter sido nomeado presidente da Associação Portuguesa de Bancos. No entanto, Vítor Gaspar recusou nomear outro gestor para as funções, acabando por adiar a assembleia geral do banco público de 9 deste mês para amanhã. O actual modelo de governance deverá ser mantido, ou seja, será nomeado um novo conselho de administração de onde emanará a comissão executiva. José de Matos, vice-chairman e CEO da instituição, deverá manter-se no cargo, sendo considerado um homem da confiança pessoal de Vítor Gaspar. Recorde-se que a actual administração está a funcionar com um elemento a menos desde a saída de António Nogueira Leite, há mais de quatro meses, que nunca chegou a ser substituído. E que a remodelação acontece antes do término dos actuais mandatos, que só acabariam no final do ano.
Divergências
A relação de Faria de Oliveira com o actual governo foi marcada por algumas divergências públicas: o papel da CGD no financiamento à economia, nomeadamente o apoio às PME, que agora vai ser definido pelas Finanças numa carta de missão que enquadrará os objectivos da futura administração; e a defesa, pelo presidente do banco, de um acordo que integre o Partido Socialista no actual governo sem passar por eleições legislativas.
BPN
A condução do processo de venda do BPN ao BIC começou por estar a cargo da Caixa Geral de Depósitos, através do administrador Norberto Rosa, sendo assessorado juridicamente por Maria João Ricou e Duarte Abecassis, advogados da Quatrecasa e Gonçalves Pereira. No final de 2011, e devido ao impasse, a então secretária de Estado do Tesouro e Finanças, Maria Luís Albuquerque, acabou por assumir as negociações directas com Fernando Teles e Mira Amaral. O Ministério das Finanças acabou mesmo por dispensar os serviços do escritório de advogados, tendo este sido um dos maiores pontos de clivagem que agora levam à substituição de alguns dos principais protagonistas da Caixa"