segunda-feira, janeiro 14, 2013

Aparelho distrital do PSD receia desastre nas eleições autárquicas

Segundo o DN de Lisboa, “dirigentes sociais-democratas espalhados pelo País admitem dificuldades acrescidas para o partido nas próximas eleições. Como a esperança é a última a morrer, há quem acredite que a conjuntura pode entretanto alterar-se. O aparelho distrital do PSD treme com a sucessão de más notícias provenientes do Governo – a última da quais o relatório do FMI com propostas radicais para concretizar o corte de quatro mil milhões de euros na despesa pública acordado entre o Governo e a troika. Vários dirigentes do partido pelo País fora manifestam preocupação com as consequências nas próximas eleições autárquicas.
No distrito de Setúbal, um presidente de uma concelhia, Paulo Edson da Cunha, do Seixal, já escreveu a todos os seus congéneres e ao próprio Passos Coelho dizendo que as medidas do Executivo ameaçam traduzir- se numa “derrota histórica” para o partido nas autárquicas de outubro. Pedro do Ó Ramos, presidente da distrital, distancia- se, porém, desta visão, dizendo que “não vincula o partido” a posição expressa por Carlos Carreiras ( candidato à câmara de Cascais), que exigiu a demissão do secretário de Estado adjunto Carlos Moedas depois de este ter considerado o relatório do FMI como “muito bem feito”. Falando ao DN, Luís Gomes, líder do PSD Algarve e presidente da Câmara de Vila Real de Santo António, admite que o seu partido poderá perder autarquias, mas para já prefere minimizar esse cenário. “Em face do condicionalismo provocado pela insatisfação das pessoas ao nível nacional, é possível que acabe por haver uma redução de câmaras para o PSD. Mas cada um por si terá de fazer o melhor e se o fizer é possível inverter esse cenário.” Segundo reconhece, o recrutamento de candidatos está agora mais difícil. E daí o apelo: “Não é apenas em tempo de vacas gordas, como se costuma dizer, que se deve entrar na política com a oferta de um pedestal.” “Não basta haver só bons falantes.” As divisões que o relatório do FMI têm provocado nas hostes sociais- democratas, são, para o presidente da distrital “laranja” de Coimbra, apenas “motivo de estudo e de reflexão”. E nada mais do que isso, pois, defende Marcelo Nuno Gonçalves Pereira, “o caminho tem de ser pensado sem maniqueísmos em que de um lado estão os bons e do outro estão os maus”. Já Ulisses Manuel, deputado e líder do PSD em Aveiro, não esconde que a tomada de decisões impopulares por parte do Governo poderá ter reflexos eleitorais. “Em algumas locais, o clima nacional pode ter mais impacte, mas os eleitores farão essa avaliação no momento.” No círculo eleitoral pelo qual Carlos Moedas foi cabeça de lista nas últimas legislativas, Beja, o presidente da distrital, Mário Simões, reconhece que o País está a viver “tempos complicados” e por isso deixa um “apelo a todos os militantes do PSD para que guardem recato num ano dificílimo para o País e para o partido”. O seu homólogo de Évora, António Costa da Silva, também faz os mesmos apelos à calma interna, dizendo que “tudo o que acentue os problemas é absurdo”. “Está em causa apenas uma proposta do FMI.”
Nas distritais do PSD do Minho tenta- se por todos os meios passar uma mensagem de confiança na capacidade popular para distinguir entre as candidaturas autárquicas e a ação do Governo. Em Braga, onde o PSD detém cinco das 14 presidências de câmara, Paulo Cunha, líder distrital, afirma que “infelizmente, no contexto em que vivemos, provavelmente não existem alternativas às medidas adotadas, que não são queridas ou desejadas”. Porém, acrescenta que tudo está a ser feito para “no futuro próximo termos melhores condições de vida”. Em Viana do Castelo, o seu homólogo, Eduardo Teixeira, assume que “serão umas eleições complicadas”. No PSD do Porto, o discurso é parecido com o do Minho. “Os portugueses sabem distinguir o que é nacional do que é local”, diz o presidente da distrital, Virgílio Macedo. E “a conjuntura pode alterar- se”... Já na Madeira – onde o PSD domina as onze câmaras – não se poupam palavras contra o Governo. Luís Filipe Malheiro, da comissão política regional, trata Moedas com um “um yuppie” que “não consegue saltar dos manuais de economia para a vida política”. E acrescenta: “Qualquer especulação e pânico que se instale na sociedade [...] terá repercussões negativas nas autárquicas. O eleitorado não vai penalizar o atual Governo com a abstenção. Vai votar contra os partidos da coligação e colocar- se ao lado dos partidos da oposição, sobretudo os reformados e pensionistas mais os utentes do sistema nacional de saúde e os jovens. Há medo em relação ao futuro, e o discurso de propaganda deste Governo é de uma enorme incompetência.”
Marques Mendes enquadrou as críticas de Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais e fervoroso apoiante do Governo, a Carlos Moedas, por causa do relatório do FMI, no “medo” que os autarcas do PSD começam a ter com o resultado das eleições autárquicas. Carreiras pediu a demissão do secretário de Estado adjunto por este ter ter elogiado o relatório do FMI e ao tê- lo considerado “muito bem feito”. “Este tipo de atitude vai começar a generalizar- se. São autarcas do PSD a tentarem salvar a pele, evitando a colagem ao Governo que lhes pode trazer uma derrota eleitoral”, sublinhou o antigo líder social- democrata na TVI24”.