quinta-feira, janeiro 31, 2013

Banco mais antigo do mundo abre o pior buraco da história de Itália

Escreve a jornalista do Jornal I, Sandra Almeida Simões, que o "Monte dei Paschi di Siena está no centro das atenções. Há várias semelhanças com o BPN português. Monte dei Paschi di Siena e Mario Draghi. Banco Português de Negócios e Vítor Constâncio. São mais as semelhanças que as diferenças. Itália vive por estes dias um escândalo financeiro envolvendo o banco mais antigo do mundo. Resgate estatal, suspeitas de gestão danosa, compra de activos sobrevalorizados, operações com produtos complexos, falhas de supervisão bancária, investigações judiciais e audições parlamentares compõem o enredo. A novela relembra o BPN português, onde o actual vice-governador do BCE, Vítor Constâncio, desempenhava na altura um papel de destaque enquanto governador do Banco de Portugal. Em Itália a personagem principal é Mario Draghi, actual governador do Banco Central Europeu e o anterior governador do Banco de Itália. Também à semelhança do caso português, a trama do Monte dei Paschi di Siena se escreve com ligações a políticos, com a agravante de estarem a influenciar a campanha eleitoral para a as legislativas de 24 e 25 de Fevereiro. O Monte dei Paschi di Siena, criado em 1472, foi resgatado pelo Estado italiano em pleno auge da crise financeira. Agora a instituição voltou a pedir 3,9 mil milhões de euros para fazer frente às exigências de reforço de capitais impostas pelos reguladores. Esta nova ajuda estatal torna- -se controversa numa altura em que é descoberto um buraco de 720 milhões de euros, resultado de operações de alto risco com derivados que envolvem o japonês Nomura e o Deutsche Bank realizadas em 2010. A eventual ocultação destas perdas está já a ser investigada. Também sob investigação judicial estão as suspeitas da aquisição ruinosa, em 2007, do Antonveneta, banco rival de Siena, que o Monte dei Paschi adquiriu por 9 mil milhões de euros. O preço, considerado inflacionado – pensa-se que correspondeu ao dobro do valor de mercado do Antonveneta – fragilizou o ADN financeiro do banco mais antigo do mundo e está agora no centro das suspeitas de gestão ruinosa. “Não posso dizer nada, a situação é explosiva e quente, estamos a falar do terceiro maior grupo financeiro italiano”, afirmou o promotor de Siena Salerno Tito em resposta à investigação sobre a compra do Antonveneta.
Mario Draghi não conseguiu escapar a esta teia, com as dúvidas sobre a sua supervisão enquanto governador do Banco de Itália, entre 2005 e 2011, a preencherem as primeiras páginas dos jornais. Na segunda-feira, o governador do BCE teve uma reunião de última hora com o ministro italiano das Finanças, Vittorio Grilli, para tentar atenuar o escândalo. Ontem realizou-se uma audição no parlamento italiano, onde a frase mais proferida pela actual oposição foi: “O Monte dei Paschi é o pior buraco da história da República Italiana.” No final da comissão foi entregue um documento no qual o banco central italiano garante um intenso escrutínio do Monte dei Paschi di Siena. Os argumentos multiplicam-se ao longo de sete páginas. “A acção de vigilância do Banco de Itália sobre o Monte dei Paschi di Sienna no último ano foi contínua, de intensidade crescente e articulada nas principais áreas relevantes da gestão”, assegura o primeiro parágrafo. Com as eleições italianas à porta, Silvio Berlusconi beneficia de todo este escândalo. Nas últimas sondagens, o antigo primeiro-ministro arrecadou 20% de apoio, o melhor resultado desde o início da campanha eleitoral, reduzindo a distância à coligação de centro-esquerda de Pier Liugi Bersani. Um dos trunfos de Silvio Berlusconi foi aproveitar a proximidade do Monte dei Paschi di Siena à esquerda democrática para reduzir a vantagem de Bersani nas sondagens"