sábado, maio 07, 2011

Atraso torna medidas mais dolorosas

Diz o Correio da Manhã que "a troika apresentou ontem o programa e avisou o próximo governo que “tem de o assumir”."Se Portugal tivesse pedido ajuda mais cedo, as medidas seriam "menos restritivas" em algumas áreas, nomeadamente no "campo fiscal". São palavras de Juergen Kroeger, representante da Comissão Europeia (CE) na troika (composta por BCE, FMI e CE), que ontem em Lisboa, em conferência de imprensa, apresentou o plano de ajuda a Portugal. Também o enviado do FMI, Poul Thomsen, defendeu, na mesma ocasião, esta tese. Segundo disse, "o atraso complica sempre as coisas e torna-as mais dolorosas". Note-se que o primeiro-ministro, José Sócrates, conforme já confessou, fez o possível para adiar o pedido de ajuda externa, convencido de que Portugal teria condições para resolver sozinho os seus problemas. Mas, a avaliar por aquilo que disseram Kroeger e Thomsen, acabou por tornar as coisas mais difíceis. Thomsen classificou o programa de "muito duro, mas justo", salientando que teve em consideração as preocupações sociais "para proteger os mais vulneráveis". Frisando a importância do "programa português", os três representantes da troika (além de Kroeger e Thom-sen, esteve também Rasmus Ruffer, do BCE) aproveitaram para lançar sérios avisos ao próximo governo, desejando que tenha "um grande apoio no Parlamento". "O próximo governo tem de assumir este programa", disse Kroeger, segundo o qual "o sucesso depende da aplicação rápida do programa". Se assim acontecer, "não será necessário que haja mais medidas de austeridade", acrescentou. A troika alertou ainda que haverá "visitas regulares de acompanhamento" à aplicação do programa, estando já agendada uma para "o próximo trimestre". Dos 78 mil milhões de euros de ajuda, dois terços (52 mil milhões) serão emprestados pela União Europeia, cabendo ao FMI o último terço, no valor de 26 mil milhões de euros. Segundo Thomsen, a taxa de juro do montante a emprestar pelo fundo será de 3,25 por cento nos primeiros três anos e de 4,25 por cento nos seguintes. A este valor há ainda que somar o spread, que deverá ser inferior a 200 pontos-base. Rasmus Ruffer, representante do BCE, considerou que o PEC 4 foi "um bom ponto de partida", sobretudo a nível fiscal, mas que "não era suficientemente profundo em reformas estruturais".
PSD DISPONÍVEL PARA CUMPRIR COMPROMISSOS
O líder do PSD manifestou "total comprometimento com os compromissos e os objectivos" incluídos no memorando que define o processo de ajuda externa a Portugal, tendo ontem mesmo enviado uma carta aos elementos da troika a vincar essa posição. Passos Coelho acrescentou, porém, que "haverá matérias relativamente às quais o PSD, se vier a estar no Governo, se reserva para encontrar alguma flexibilidade com medidas de substituição que garantam exactamente que os objectivos que constam no programa sejam concretizados". O líder social--democrata diz terem sido feitos "contactos para clarificar" o programa, que qualificou de "bastante duro".
SÓCRATES PEDE CINCO EUROS EMPRESTADOS
A visita de José Sócrates à Ovibeja ontem de manhã ficou marcada pelo empréstimo de cinco euros que o primeiro-ministro teve de pedir ao presidente da Câmara de Beja, Jorge Pulido Valente. Desafiado a comprar uma t-shirt do movimento cívico ‘Beja Merece’, que defende a manutenção da ligação directa por comboio Intercidades entre Beja e Lisboa, o primeiro--ministro acedeu, mas, por estar sem carteira, quem teve de pagar a conta foi o autarca Jorge Pulido Valente, do PS. A descontracção foi, aliás, a nota de destaque na visita de cerca de uma hora do chefe do Governo pela principal feira agrícola do Alentejo, na qual, entre muitos beijinhos e abraços aos populares mais afoitos, evitou falar sobre a ajuda externa a Portugal. "Teremos tempo de falar", disse apenas José Sócrates, que só abriu uma excepção, para deixar uma garantia aos agricultores alentejanos: "Nada do acordo que acabámos de assinar [com a troika] compromete ou põe em causa aquilo que são os nossos calendários em Alqueva. Decidimos um calendário para finalizar o projecto até 2013 e vamos fazê-lo", garantiu o primeiro-ministro demissionário.
MEXIA AVISA QUE FACTURA PODE AUMENTAR
A redução dos contratos de valor garantido para os produtores eléctricos prevista no plano acordado com a troika poderá levar a um aumento da conta da luz para os consumidores, avisou ontem António Mexia, presidente da EDP. "A EDP não abdica, não pode abdicar, daquilo que é o valor do contrato, e este não é de ontem. É para ser olhado ao longo de todo o seu período de vida", sublinhou o presidente da eléctrica, adiantando que estes contratos "contribuem para a estabilidade do sistema", o que se tornará "cada vez mais importante à medida que no futuro aumentem os preços dos combustíveis". Quanto à finalização da privatização da eléctrica, Mexia afirmou esperar que isso seja feito de uma forma "que permita à companhia controlar o seu destino" e sustentou que o "o Estado não precisa de ter 25 por cento na empresa para contribuir para a estabilidade accionista".

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