quarta-feira, novembro 10, 2021

TAP com paz social sob ameaça

 A tempestade na TAP está longe de estar ultrapassada — a companhia aguarda expectante a aprovação do plano de reestruturação por Bruxelas, ainda em fase de investigação aprofundada — numa altura em que a paz social na transportadora pode estar sob ameaça. Os sinais de agitação entre os trabalhadores vão crescendo, nomeadamente entre os pilotos e os tripulantes. Na próxima segunda-feira arranca uma concorrida eleição para o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC). Há três listas a eleições: A, F e R. A primeira propõe para presidente da direção David Paes, um antigo presidente do sindicato. Na lista F a presidência será de Tiago Faria Lopes, candidato do Chega por Cascais nas eleições autárquicas. A R é uma lista de continuidade e propõe para presidente António Costa Ramalho, ex-presidente da mesa da Assembleia Geral da última direção.

A expectativa face ao resultado é grande, nomeadamente em relação ao perfil da próxima direção — se será mais apaziguador ou mais reivindicativo? Uma questão relevante, uma vez que se trata de uma classe conhecida pelo seu poder para parar a companhia, e onde há neste momento um grande descontentamento com o acordo de emergência assinado em 2020 e os cortes de 50% na remuneração — com uma parte dos pilotos a recusar-se fazer horas extraordinárias. Uma recusa que tem estado, aliás, a condicionar as ofertas de voos da TAP, especialmente para os destinos e nas datas em que há mais procura. A TAP não obstante nega quaisquer constrangimentos por falta de pilotos ou tripulantes. “Os horários são construídos com base na resposta às necessidades dos mercados e na utilização eficiente dos nossos bens. Não há problemas de mão de obra”, assegura fonte oficial.

O descontentamento dos pilotos não é caso isolado, há também tripulantes a apelar à greve por considerarem que estão a fazer horas além do acordo de emergência, e que por isso deviam estar a ser pagas como extraordinárias. Um apelo para já sem consequências. Há também queixas dos trabalhadores da área da manutenção relativamente à necessidade de inalteração dos cortes, quando a recuperação é notória. A TAP assegura que no inverno a atividade estará a 80% dos níveis pré-pandemia. A operação está a descolar com a abertura do Brasil e dos EUA.

Entre os trabalhadores a ansiedade face à aprovação do plano de reestruturação pela Comissão Europeia vai crescendo, já que é cada vez maior a convicção de que vão ser necessários mais cortes. Temem que uma tesourada de Bruxelas nos slots e no número de aviões e rotas possa implicar novos ajustamentos nos trabalhadores. O Governo espera que a resposta chegue até ao final do ano, mas pode não acontecer. A incerteza é grande. Entretanto, o jornal “Eco” noticiou que já entraram mais €100 milhões na TAP ao abrigo dos apoios covid, subindo para €564 milhões as ajudas recebidas em 2021. A dois meses do fim do ano falta receber €536 milhões — valor dependente da aprovação do plano.

PORQUÊ NOVAS CONTRATAÇÕES?

Há também celeuma face à contratação de novos diretores, quando ainda recentemente a TAP abriu a porta à saída de quadros com décadas de experiência e considerados figuras-chave, a quem acabou por pagar generosas indemnizações, e que agora está a substituir com contratações no exterior. Um indicador de que as segundas linhas, ao contrário do que defendia a anterior administração, liderada por Miguel Frasquilho e Ramiro Sequeira, não estavam preparadas para substituir quem saiu. Fonte oficial da TAP garante que os três novos diretores da companhia, nomeadamente Mário Cruz, Sérgio Ribeiro e Frederic Gossot, também terão cortes salariais. “A TAP implementou políticas de remuneração equilibradas e equitativas para os vários níveis da organização e todos os empregados são abrangidos pelas reduções salariais em vigor.” A companhia não esclareceu, no entanto, se têm ou não uma remuneração superior aos antigos diretores.

LUFTHANSA VIRA A PÁGINA

A alemã Lufthansa já reembolsou €1,5 mil milhões em ajudas estatais. Fê-lo na sequência de um aumento de capital de €2,16 mil milhões. Esta é a devolução da primeira de duas tranches de capital híbrido que a empresa recebeu em 2020 para apoio aos danos provocados pela covid. É um movimento de antecipação face ao previsto e um sinal de confiança no futuro, frisou o presidente da Lufthansa, Carsten Spohr. A segunda parcela, no valor de €1000 milhões, deverá ser paga até ao final deste ano. A gigante de aviação alemã começa a virar a página. Esta semana anunciou os resultados dos primeiros nove meses do ano, e ainda registou um prejuízo de €1,877 milhões, mas o terceiro trimestre já foi de lucro: €272 milhões. (Expresso texto da jornalista  ANABELA CAMPOS)

Sem comentários: