segunda-feira, novembro 29, 2021

Um em cada quatro jovens portugueses já tentou ou pensou pôr termo à vida


Os jovens em Portugal, hoje: Quem são, que hábitos têm, o que pensam e o que sentem. Um estudo que revela ainda que as jovens mulheres são mais propensas a infligir dor nelas próprias. Com a saúde mental cada vez mais na ordem do dia, um recente estudo vem agora revelar que um quarto dos jovens portugeses já tentou ou pensou suicidar-se. A conclusão está no retrato Os jovens em Portugal, hoje: Quem são, que hábitos têm, o que pensam e o que sentem, coordenado por Laura Sagnier e Alex Morell, e apresentado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos esta tarde em Lisboa. Com um universo de 2,2 milhões de jovens com idades entre os 15 e os 34 anos, o estudo revela que 23% já tentou ou pensou pôr termo à vida, sendo que o número agrava-se nas jovens mulheres: 29%, face aos 17% no caso dos jovens homens. 

“Entre os jovens, o facto de ‘tentar acabar com a sua vida ou pensar nisso’, ‘infligir lesões no seu corpo de forma intencional’ ou ‘sofrer algum transtorno de alimentação’ tem sobretudo relação com: o sexo, a orientação sexual, a relação com os pais e o tipo a que pertence segundo os seus valores e formas de ser”, lê-se no estudo.

Vários fatores em causa

Para Laura Sagnier, economista espanhola e coordenadora do estudo, um dos fatores que pode estar na base destes números é a pressão constante que os jovens sentem e colocam em si mesmos para serem bem-sucedidos.

“Como cada vez a sociedade está mais formada, porque cada vez mais [os jovens] passam pela universidade, então todo este conhecimento gera muita mais expectativa na vida e por isso coloca-se mais pressão”, diz a economista, sendo que reconhece que “a pressão sobre o físico” é a que mais chama a atenção pelos impactos que tem: “afeta tudo”. Segundo o estudo, mais de metade dos jovens portugueses não está satisfeito com o próprio corpo.

“Neste estudo vemos dados muitíssimo preocupantes no que tem a ver com o ter pensado em acabar com a própria vida. É horrível pensar que 23% dos jovens o tenha pensado uma vez, é um em cada quatro”, lamenta Laura Sagnier, em entrevista telefónica com a CNN Portugal.

Mas há outros fatores a considerar no facto de um em cada quatro jovens já tenha tentado ou pensado em pôr termo à vida, uma vez que “a proporção dos jovens que ‘tentaram acabar com a vida ou pensaram nisso’ dispara” entre os que “não se sentem satisfeitos com algum dos dois progenitores ou com nenhum deles”, são homossexuais, bissexuais ou assexuais ou “os seus valores e forma de ser pertencem a alguma das duas tipologias de inseguros (sejam ‘solitários’ ou ‘modernos’). Trata-se de 5% dos jovens, entre os quais a percentagem dos que tentaram acabar com a vida ou pensaram nisso é de 62%”, esclarece o estudo.

Agredir o corpo de propósito

Também são as mulheres que se mostram mais vulneráveis a cenários de auto-agressão. De acordo com os dados apresentados, 16% das jovens mulheres já se magoaram fisicamente com intenção, enquanto nos homens a percentagem é de 8%. No total, um em cada dez jovens portugueses (12%) já infligiu agressões no seu próprio corpo de forma intencional

De acordo com o estudo, “entre os jovens que ‘infligiram lesões no seu corpo de forma intencional’, 67% referem também que ‘tentaram acabar com a sua vida ou pensaram nisso’”.

“O estudo deixa claro que não é justo falar de jovens como um todo, porque há muitas realidades distintas entre estes jovens. De facto, a investigação permite concluir que há situações de vida muito difíceis para estes jovens, o que é importante porque cada uma dessas situações requer uma receita distinta, não de trabalho, mas de tudo o que a comunidade educativa e a família de origem, que são os principais responsáveis pela educação destes jovens”, diz Laura Sagnier (CNN-Portugal, texto da jornalista Daniela Costa Teixeira) 

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