sábado, novembro 13, 2021

Sondagem: PCP caiu, Chega subiu com chumbo do Orçamento



Inquérito mostra impacto imediato da crise. PS ganha e PSD desce — mas com efeitos menos certos do que no PCP e Chega. Avaliação de Costa no ponto mais baixo. A rejeição do Orçamento para 2022 provocou uma mudança clara nas intenções de voto em dois partidos, fazendo descer a CDU em três pontos e originando uma subida do Chega em quatro pontos. Mais ainda: há indicações de um potencial efeito positivo sobre as intenções de voto no PS e de um negativo sobre o PSD. Segundo mostra a sondagem Expresso-SIC, esse efeito poderia atingir os seis pontos a mais no caso do PS, e quatro a menos no do PSD, só que nestes casos as variações “não são suficientemente robustas” ou estatisticamente significativas para dar esse efeito como certo.

Pela primeira vez uma sondagem procurou medir o impacto imediato (ainda que possa ser conjuntural) de uma crise política, precisamente enquanto esta decorria. O inquérito feito pelo ISCTE/ICS propôs-se a isso mesmo: sabendo-se que o PCP anunciou o (decisivo) voto contra no Orçamento para 2022 no dia 25 de outubro, a equipa fez 315 entrevistas presenciais (voto em urna) de 21 a 25 de outubro; e depois 485 entrevistas nos dias 26 de outubro a 1 de novembro. As variáveis das duas subamostras foram controladas em termos de sexo, idade, instrução, rendimento, dimensão da localidade e região de residência dos inquiridos, de forma a que o antes e o depois fosse comparável.

O exercício, ainda assim, merece cautelas, dado o momento particular em que se realizou. Ou seja, os resultados da sondagem são uma fotografia do ponto de partida para as legislativas e não pretende antecipar o resultado final das legislativas, que terá ainda muitas variáveis e incertezas pelo caminho. O PSD, por exemplo, vai ainda escolher o seu líder, entre Rui Rio (que é avaliado neste inquérito) e Paulo Rangel; o CDS fracionou-se com a decisão de não fazer congresso (um efeito que ainda não é medido aqui), e a longa campanha até às legislativas de 30 de janeiro ainda nem começou.

Ainda assim, a fotografia da linha de partida é relevante: o PS vai com 40%, o PSD com 26% (desde abril de 2021, a distância para os socialistas ampliou-se de 8 para 14 pontos percentuais). Isto enquanto o Chega sobe para o terceiro lugar com 10%, o PCP perde um ponto para 6, o BE fica com 5 (eram 9 em abril). Já o CDS, está com 1%, abaixo do PAN e do IL (2%).

PS À FRENTE EM QUASE TUDO

A sondagem ISCTE/ICS, com trabalho de campo da GfK, mostra como, neste momento, é generalizada a vantagem do PS sobre o PSD em diferentes grupos sociodemográficos. Olhando para segmentos de idade, sexo, rendimento, instrução e situação profissional, a vantagem do PS está acima dos 7 pontos percentuais em quase todos. As exceções estão nos inquiridos que assumem ter rendimento “confortável” e trabalhadores domésticos — os sociais-democratas têm ampla vantagem —, assim como na faixa etária dos 25 aos 44 anos, onde há um empate. “Olhando para a vantagem do PS sobre o PSD”, conclui o relatório, “essa vantagem é tanto maior quanto menor é a instrução dos inquiridos” e quanto “maiores as dificuldades sentidas em viver com o rendimento auferido pelo agregado familiar”.

Já olhando para a vantagem do PSD sobre o Chega, verifica-se que essa vantagem é especialmente maior entre os inquiridos que dizem viver de forma “confortável”, assim como entre as mulheres, entre os inquiridos com 65 anos ou mais e entre aposentados, estudantes e pessoas que fazem trabalho doméstico não remunerado. “Pelo contrário”, anotam os autores do estudo, “essa vantagem é mais reduzida entre os homens, os inquiridos com idades entre os 25 e os 44 anos, os que sentem muitas dificuldades para viver com o seu rendimento, desempregados e trabalhadores por conta própria”.

GOVERNO JÁ É AVALIADO NEGATIVAMENTE

Se os resultados desta fotografia de partida parecem, à primeira vista, bons para o PS, nem todos os indicadores permitem a António Costa respirar fundo. Por exemplo, a avaliação da atuação do Governo piorou em relação à sondagem de abril, situando-se pela primeira vez em território negativo — com uma queda de 11 pontos nas avaliações positivas (para 42%), a par com a subida das avaliações negativas de 10 pontos, situando-se agora em 48%.

Mais: a avaliação do próprio primeiro-ministro está agora no seu ponto mais baixo: cai de 6,2 para 5,4, numa escala de zero a 10. É a maior descida do painel, embora todos sejam penalizados na avaliação dos inquiridos: Catarina Martins perde 0,3 (ficando nos 4 pontos, o valor mais baixo de sempre); Jerónimo de Sousa cai 0,1 (para 3,7). Inês Sousa Real, do PAN, tem apenas 3,2, mas é penalizada por ter o mais baixo nível de reconhecimento dos vários líderes políticos.

Já à direita, Rui Rio — em plena disputa interna — desce de 4,9 para 4,3, ainda assim um valor superior ao que tinha em setembro de 2019, antes das legislativas. Rio é, aliás, o único com nota positiva entre os eleitores à direita, com 5,5 valores. O que compara com 6,3 de António Costa entre os eleitores à esquerda. O líder socialista, curiosamente, é avaliado menos negativamente por estes eleitores de direita do que algumas figuras desse quadrante político: André Ventura (3,9), Francisco Rodrigues dos Santos (3,8) e João Cotrim Figueiredo (3,7).

Intocável na liderança continua Marcelo Rebelo de Sousa: não só é a figura política cuja atuação é mais bem avaliada pelos inquiridos (7,1), como obtém a mesma classificação em ambos os quadrantes políticos.

LÍDERES

5,4, é a avaliação média de António Costa, numa escala de 0 a 10. É uma descida de 0,8 pontos, a maior de todos os líderes políticos no ativo

4,3, é a avaliação média de Rui Rio, em tempo de recandidatura, uma quebra de 0,6. Rio é ainda o único líder com imagem positiva entre eleitores de direita

INTENÇÃO DE VOTO: COMO VOTARIA SE AS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS FOSSEM HOJE?

Projeção dos resultados excluindo abstencionistas (17%) e após imputação de indecisos e recusas (14%). Entre parêntesis, resultados do total da amostra (com recusas, indecisos e abstenção). A variação, em pontos percentuais, é relativa ao resultado da votação na última sondagem, publicada em abril

ORÇAMENTO DO ESTADO: COMO VARIOU A INTENÇÃO DE VOTO

Recolha entre 21 de outubro e 1 de novembro. Comparação entre as intenções de voto recolhidas antes e depois de 25 de outubro, dia em que o PCP votou contra o OE. Variação em pontos percentuais


FICHA TÉCNICA 

Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 21 de outubro e 1 de novembro de 2021. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4 grupos), Instrução (3 grupos), Região (5 Regiões NUTII) e Habitat/Dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de Região e Habitat, foram selecionados aleatoriamente pontos de amostragem onde se iniciaram caminhos aleatórios para a seleção de domicílios onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. Foram selecionados 82 pontos de amostragem, realizadas 2997 tentativas de contacto, das quais se apurou que 194 correspondiam a situações não elegíveis. Foram obtidas 800 entrevistas válidas (taxa de resposta de 29%, taxa de cooperação de 40%). O trabalho de campo foi realizado por 34 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses residentes no Continente com 18 ou mais anos, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 9). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 800 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. Todas as percentagens são arredondadas à unidade (Expresso, texto do jornalista DAVID DINIS e infografia de SOFIA MIGUEL ROSA)

Sem comentários: