sábado, novembro 20, 2021

Década perdida? Portugueses sem fé



São poucos os que se assumem pessimistas convictos (13%), mas as previsões dos portugueses para a entrada de Portugal na próxima década estão longe de serem animadoras. E em 2030 como estará o país? Mais desigual (66%), mais desertificado (56%), com mais impostos (77%), mais precário (54%) — assim responderam os inquiridos da sondagem ICS/ISCTE, realizada entre outubro e novembro para o Expresso/SIC. Ainda restam otimistas, sobretudo entre os mais jovens (61%, entre os 18 e os 24 anos), os que têm completo o ensino superior (60%) ou as mulheres (45%). Há também mais otimismo entre os socialistas (54% contra 34% de eleitores PSD), e à esquerda (48% contra 37% dos eleitores à direita), mas no geral pouco influenciam os resultados. Esses mostram, no mínimo, um acentuado ceticismo quanto aos nove anos que faltam para a nova década.

Setor a setor, fica claro como o quadro geral não é de esperança: há muito mais respostas negativas do que positivas sobre a qualidade de vida dos idosos, também sobre o nível de vida das famílias, sobre o afastamento da economia face aos países mais desenvolvidos ou a qualidade dos serviços públicos. Sobram a educação e a qualidade de vida das crianças — onde os otimistas e pessimistas são em igual número. E o SNS, onde o pessimismo vence, mas com apenas 5 pontos de diferença face aos que mantêm fé num futuro melhor.

No que à economia e política diz respeito, 52% esperam um aumento das divisões políticas, 54% mais desemprego (a mesma percentagem que espera mais precariedade) e 69% o crescimento da dívida pública.

Questionados sobre as apostas que gostariam de ver como prioritárias na hora de investir o dinheiro do Estado, os portugueses dividem-se entre os defensores das apostas a longo e a curto prazo. Mas é claro que a ciência e investigação estão longe de serem prioridade, face a pensões e apoios sociais, por exemplo.

Quanto ao futuro, só dois fatores parecem seguros: 86% estão convictos de que Portugal continuará na UE, 85% de que o regime continuará democrático. Mesmo que a aproximação do país aos mais ricos da Europa continue a parecer uma miragem em que só 15% acreditam.

FICHA TÉCNICA

Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 21 de outubro e 1 de novembro de 2021. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4 grupos), Instrução (3 grupos), Região (5 Regiões NUTII) e Habitat/Dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de Região e Habitat, foram selecionados aleatoriamente pontos de amostragem, onde se iniciaram caminhos aleatórios para a seleção de domicílios onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI. Foram selecionados 82 pontos de amostragem, realizadas 2997 tentativas de contacto, das quais se apurou que 194 correspondiam a situação não elegíveis. Foram obtidas 800 entrevistas válidas (taxa de resposta de 29%, taxa de cooperação de 40%). O trabalho de campo foi realizado por 34 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses residentes no Continente com 18 ou mais anos, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 9). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 800 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. Todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto dos jornalistas Filipe Garcia e Sofia Miguel Rosa)

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