sexta-feira, novembro 05, 2021

Sondagem: PS reforça liderança e Esquerda mantém a maioria



António Costa parte como favorito para as legislativas (38,5%), mas teria de encontrar parceiros no Parlamento. PSD está mais fraco (24,5%), mas o conjunto da Direita está mais forte (e fragmentada) do que em 2019, segundo sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF. Se as eleições legislativas fossem hoje (e não a 30 de janeiro, como já sabemos que será), o PS seria o vencedor (38,5%), sem maioria absoluta, mas com 14 pontos de vantagem sobre o PSD (24,4%), segundo a sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF. A Esquerda continuaria a ser maioritária no Parlamento, com o BE em terceiro (8,8%), à frente do Chega (7,7%). Seguem-se Iniciativa Liberal (4,7%), CDU (4,6%), PAN (2,8%) e CDS (2%).

Confirma-se, por agora, um dos cenários que o presidente da República antecipou, quando insistiu para que o Parlamento não chumbasse o Orçamento do Estado. Haveria eleições e a possibilidade de tudo ficar mais ou menos na mesma. Recorrendo à expressão usada por vários analistas, um pântano político.

As próximas semanas serão fundamentais, no entanto, para perceber se haverá novas dinâmicas políticas. Sobretudo à Direita, e em particular no PSD, que escolherá o seu líder e candidato a primeiro-ministro a 4 de dezembro.

Sem maioria absoluta

Enquanto isso não acontece, quem ganha é António Costa: o PS está quase um ponto percentual acima do resultado do último barómetro, em julho passado, e com mais dois pontos do que o resultado das legislativas de 2019 (tem agora 38,5%). Não é suficiente para a maioria "estável, reforçada e duradoura" que o primeiro-ministro pediu aquando do chumbo do Orçamento. A única vez que os socialistas conseguiram maioria absoluta, com Sócrates, em 2005, foram necessários 45% dos votos.

Garantida neste retrato está apenas uma maioria de Esquerda no Parlamento. Mesmo que a relação de forças não seja exatamente a mesma que saiu das últimas legislativas. O Bloco de Esquerda resiste melhor ao "abraço de urso" do PS e até cresce um ponto relativamente a julho passado, mesmo que ainda esteja a algumas décimas do resultado das últimas eleições (marca 8,8%). Os comunistas estão em pior posição: continuam atrás dos liberais e quase dois pontos abaixo de 2019 (a projeção é de 4,6%).

Nuvens negras à Esquerda

Tudo somado, os três partidos que formaram a "geringonça" valem neste momento quase 52%, o mesmo que nas últimas legislativas e mais 13 pontos que a soma dos quatro partidos à Direita. Mas há nuvens negras no horizonte: Costa tem pela primeira vez um saldo negativo na avaliação dos portugueses; enquanto Catarina e Jerónimo pioram substancialmente a sua imagem junto dos eleitores, no que pode ser um primeiro sinal de castigo.

Outro dos potenciais parceiros dos socialistas, o PAN, não sai bem da fotografia do momento. É o partido que mais perde relativamente ao barómetro de julho (quase dois pontos) e está a meio ponto do que conseguiu nas últimas legislativas (tem agora 2,8%). Ao contrário do ano passado, o esforço para viabilizar o Orçamento (com a abstenção) não lhe rende intenções de voto.

Direita fragmentada

Comparando com a composição atual do Parlamento, as diferenças à Direita, em caso de eleições, seriam substanciais. A soma daria mais quatro pontos do que há dois anos mas num cenário fragmentado, graças à capacidade de crescimento das novas forças políticas (Chega e Iniciativa Liberal). A Direita clássica (PSD e CDS) ficaria enfraquecida (perde mais de cinco pontos), enquanto a Direita liberal e radical conquistaria uma força razoável (ganha quase 12 pontos).

A situação mais difícil de avaliar nesta altura é a do PSD. Está com 24,4% (não é a primeira vez que desce para este patamar), ou seja, com menos três pontos que nas últimas legislativas. Mas também está em processo de luta interna pela liderança e portanto numa situação de indefinição. Com uma nova liderança (Rangel) ou um líder reforçado (Rio) poderá ser bastante diferente.

Chega e liberais crescem

O Chega mantém-se nos 7,7% que já tinha no início do verão. Ou seja, mais seis pontos percentuais do que o conseguido em 2019, quando elegeu o seu único deputado. A repetir-se nas urnas o resultado da sondagem, teria uma numerosa bancada parlamentar (na região de Lisboa, por exemplo, seria a terceira força política).

A Iniciativa Liberal perde quase um ponto face a julho, mas com mais três pontos e meio do que há dois anos, quando também elegeu, pela primeira vez, um deputado. Os liberais passariam a contar com um grupo parlamentar mais generoso (ficariam em terceiro na Área Metropolitana do Porto, atrás de PS e PSD).

O CDS continua em último. O resultado é fraco mas melhor do que os últimos meses, em que não passava de um ponto percentual.

Indecisos

12,5%

É a percentagem de eleitores indecisos. Para efeitos da projeção de resultados, os indecisos são redistribuídos proporcionalmente tendo em conta indicações adicionais como a votação anterior ou o posicionamento político à Esquerda ou à Direita.

Um retrato do momento

Nunca como agora foi tão importante alertar para o facto de uma sondagem ser apenas um retrato do momento em que é feita. No caso desta, o trabalho de campo foi feito depois do chumbo do Orçamento e do ajuste de contas no Parlamento. Ou seja, quando já se sabia que seriam convocadas eleições antecipadas (mas antes dessa decisão ser formalizada) e qual a razão para a crise política. Mas é essencial acrescentar que faltam três meses para a ida às urnas. E que as opiniões e inclinações de voto dos portugueses se vão alterar. Ainda não há evidências de castigo eleitoral aos partidos da antiga "geringonça", mas há sinais (veja-se o cartão vermelho na avaliação a António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa). É igualmente fundamental ter em conta que a sondagem foi realizada num período de luta interna e indefinição à Direita, em particular no PSD, único partido em condições de se apresentar como alternativa aos socialistas. É impossível dizer, nesta altura, que impacto terá uma nova liderança (Paulo Rangel) ou um mandato reforçado (Rui Rio) junto dos eleitores. A crise só está no princípio. Resumindo, esta sondagem é um retrato destes dias de tempestade, não uma tentativa de adivinhar os resultados das eleições de 30 de janeiro (Jornal de Notícias, texto do jornalista Rafael Barbosa)

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