sexta-feira, abril 09, 2021

COVID-19: Caso da AstraZeneca abala confiança, mas maioria dos portugueses quer ser vacinada

 


O caso AstraZeneca trouxe dúvidas sobre a segurança das vacinas contra a COVID-19, mas apenas 5% dos inquiridos recusam serem inoculados e 10% dizem que talvez não o sejam. Num estudo com quatro países europeus, portugueses são os mais confiantes. As conclusões são de um estudo da Deco ProtesteEm meados de março, foram levantadas suspeitas sobre a segurança da vacina da AstraZeneca contra a COVID-19. A Agência Europeia de Medicamentos foi informada sobre 30 episódios tromboembólicos, isto é, sobre a formação de coágulos sanguíneos, em cerca de cinco milhões de indivíduos vacinados. Raros, mas potencialmente graves, estes casos levaram à suspensão temporária da vacina em vários países, entre os quais Portugal, seguindo o princípio de precaução até que fosse estabelecida, ou não, uma relação de causa-efeito.

A Agência Europeia de Medicamentos concluiu que os benefícios na prevenção da hospitalização e da morte por COVID-19 eram superiores aos riscos, além de não ter sido provada nenhuma relação entre tais episódios e a toma da vacina. Mas, para muitos europeus, sujeitos às declarações de alguns responsáveis políticos e a uma sobre-exploração dos casos na comunicação social, o mal estava feito, e a desconfiança alastrou-se a todas as vacinas.

"Para apurarmos a dimensão deste mal-estar, entre 26 e 30 de março, realizámos um inquérito online em Portugal, em Espanha, em Itália e na Bélgica junto da população entre os 18 e os 74 anos, sendo que, dos quatro países, o último foi o único que não suspendeu a administração da vacina da AstraZeneca. Obtivemos 4.005 respostas válidas, 1001 das quais com origem no nosso país. Os resultados espelham as opiniões e as experiências dos participantes no estudo", informa a Deco Proteste.

A confiança na vacina da AstraZeneca ficou abalada para 63% dos portugueses. Mas não foi a única a sofrer o embate. Entre os nossos conterrâneos, 41% também reportaram um impacto negativo sobre as restantes. Não significa, porém, que os portugueses recusem a vacinação. Apenas 5% estão certos de uma tal decisão e 10% hesitam, com mais probabilidade para o “não”.

Neste estudo a quatro, a total confiança nas vacinas em geral, e nas que pretendem prevenir a COVID-19 em particular, é superior nos portugueses. Mesmo 55% dos que reportaram efeitos negativos em relação à confiança na vacina da AstraZeneca estão dispostos a avançar para a inoculação sem pensar duas vezes.

em abril, depois da recolha dos dados para o nosso estudo, a Agência Europeia de Medicamentos admitiu uma possível ligação entre a vacina da AstraZeneca e casos raros de formação de coágulos, mas sublinhou que os benefícios continuam a superar os riscos.

Portugueses mais informados estão mais confiantes

O caso AstraZeneca tem abalado a confiança na segurança de todas as vacinas, contra a COVID-19 ou não. Mas também a organização do plano de vacinação, a prestação da Agência Europeia de Medicamentos e a defesa da saúde dos cidadãos pelo Governo e pela Direção-Geral da Saúde estão debaixo de escrutínio. Cerca de três em dez inquiridos confessam que o caso AstraZeneca teve um impacto negativo na forma como avaliam cada um destes aspetos.

"Ainda assim, e apesar de os números terem crescido ligeiramente face a um inquérito que realizámos em janeiro deste ano, apenas 35% alegam bons ou muito bons conhecimentos sobre os efeitos secundários das vacinas contra a covid-19. Quanto mais elevado o nível educacional dos participantes no estudo, maior é esta proporção. os meandros do plano de vacinação estão ao alcance de 42%, enquanto a eficácia das vacinas é do domínio de quase metade (48 por cento)", explica a Deco Proteste.

Os menos informados ou com um nível educacional mais baixo foram os que mais concordaram com a decisão do Governo de suspender a vacina da AstraZeneca.

Quanto aos produtos da Janssen, da Pfizer e da Moderna, o nível de confiança é semelhante: em todos os casos, apenas 6% dos inquiridos mostram um forte receio face aos efeitos secundários.

Maioria dos portugueses à espera da vacina

#Apesar da comoção social, se fossem convocados para serem inoculados na próxima semana, 59% dos portugueses que ainda não a tomaram aceitariam a proposta sem reservas e mais 26%, apesar das dúvidas, provavelmente seguir-lhes-iam o exemplo. Aliás, face ao inquérito de janeiro deste ano, são agora mais 9% os que dizem querer vacinar-se. Quanto mais bem informados se afirmam os inquiridos, maior é a predisposição para receber a vacina. Por outro lado, esta vontade é também superior na faixa etária acima dos 64 anos", -se na nota.

Os números recolhidos em Portugal são um pouco mais favoráveis do que os registados em Espanha e contrastam com os referentes a Itália e Bélgica. No país vizinho, 52% não teriam dúvidas em receber a vacina, enquanto na Bélgica este valor é de apenas 47% e em Itália de 45 por cento. Aliás, em Itália, a vontade de ser vacinado recuou 8% face ao estudo de janeiro.

Os 41% de portugueses que têm algum tipo de hesitações apontam o receio dos efeitos secundários como principal justificação (59 por cento). Não pertencer a um grupo de risco pesa na decisão de 36 por cento. a desconfiança em relação a algumas vacinas contra a covid-19 é manifestada por 32 por cento. Os motivos mais relacionados com uma postura antivacinas ou com teorias da conspiração, como interesses ocultos ou suspeição face ao processo de desenvolvimento e aprovação das vacinas, são muito menos invocados. E os que dizem não confiar em vacinas em geral ou que a covid-19 não é muito diferente de uma gripe sazonal são ainda mais residuais.

"O nosso estudo revela, contudo, que o caso AstraZeneca abala sobretudo as certezas, e não tanto as ações. Mesmo 55% dos que nos informaram terem sofrido um impacto negativo na confiança face à vacina da AstraZeneca, se chamados para inoculação na próxima semana, compareceriam sem vacilar. Cerca de 29% teriam de pensar um pouco, mas o mais certo seria apresentarem-se igualmente", indica.

Certificado verde parece boa ideia, mas...

Com a fadiga pandémica instalada, todos procuram formas de voltar a uma vida normal, e o Digital Green Certificate ("certificado verde digital"), uma proposta da Comissão Europeia, parece agradar. Além de atestar a vacinação, garante a recuperação de quem teve covid-19 e um teste RT-PCR negativo.

São cerca de sete em dez os portugueses que pensam ser uma boa medida para se poder circular na União Europeia novamente. "E voltamos a ser os mais entusiastas: entre espanhóis, italianos e belgas, esta proporção oscila entre cinco e seis por cada dez", escreve a Deco Proteste.

A maioria dos portugueses também concorda que pode ser uma forma de evitar a propagação da doença (63 por cento). No entanto, ainda não é claro se a vacina inibe a transmissão da doença.

O entusiasmo com o certificado verde, popularmente conhecido como "passaporte das vacinas", não afasta perplexidades, e 62% apontam uma possível discriminação financeira entre quem recebeu a vacina e quem espera por ser inoculado, que, para circular no espaço europeu, terá de sujeitar-se a quarentenas ou pagar testes do seu bolso. Claro que, se os testes forem gratuitos, todos os cidadãos ficam em de igualdade.

Este resultado sugere que, embora, à primeira vista, o certificado possa ser uma boa solução, existem aspetos a limar. Aliás, a discriminação seria ainda maior se, tal como cerca de metade defende, sobretudo seniores dos 60 aos 74 anos, o passaporte fosse também pedido à entrada de restaurantes, cinemas, ginásios e outros espaços fechados. A medida poderia, por exemplo, excluir as camadas mais jovens da população, que ainda não tiveram acesso à vacina. E que também estão desejosas de escapar à fadiga pandémica (Sapo)

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