Comissão de
Trabalhadores notifica ministérios das Finanças e da Cultura e partidos com
assento parlamentar da eleição, pelos trabalhadores, de Alexandre Leandro para
o cargo de vogal não-executivo. Conselho Geral Independente diz que não há base
legal para o fazer, mas trabalhadores ameaçam avançar para tribunal. A Comissão
de Trabalhadores (CT) da RTP enviou uma carta aos ministérios das Finanças e da
Cultura, ao Conselho Geral Independente (CGI) da estação pública e aos partidos
com assento parlamentar (à exceção do Chega e da Iniciativa Liberal) para lhes
dar conhecimento da eleição de Alexandre Leandro, no dia 24, para o cargo de
vogal não-executivo do conselho de administração da RTP. As eleições contaram
com a participação de 55% dos trabalhadores.
“A Comissão de Trabalhadores da RTP vem por este meio dar conhecimento aos dois Ministérios que tutelam a empresa da eleição do trabalhador Alexandre Manuel Parreira Leandro, por sufrágio direto e secreto, no dia 24 de fevereiro passado, para o cargo de vogal não-executivo, em representação dos trabalhadores no próximo Conselho de Administração”, lê-se na missiva, a que o Expresso teve acesso.
O secretariado da
CT diz assim que Leandro, antigo editor de imagem e diretor de Paulo Dentinho,
e atual responsável pela formação de jornalistas e delegações da RTP, “aguarda
a convocatória para tomar posse desse cargo, no cumprimento das disposições
legais e constitucionais em vigor”.
Recorde-se que, na
semana passada, o CGI escolheu a dupla Nicolau Santos (jornalista e atual
presidente da agência Lusa) e Hugo Figueiredo (atual administrador da RTP) para
a administração da estação pública de rádio e televisão, faltando ainda a
nomeação de um vogal com o pelouro financeiro, por parte do ministério das
Finanças. Um processo que foi, aliás, alvo de críticas por parte da CT da RTP,
que “condena a falta de transparência de todo este processo”, considerando
“inaceitável que um conselho de administração cessante pague a uma empresa
externa para esta escolher, afinal, um membro desse conselho e provavelmente
dois para o conselho seguinte”, realçou em comunicado, referindo-se a Hugo
Figueiredo e a Ana Dias, atual vogal responsável pela área financeira.
A CT pretende que
o conselho de administração da RTP integre ainda um representante dos
trabalhadores – neste caso, Alexandre Leandro. Os trabalhadores invocam a
Constituição, que prevê que a CT possa “promover a eleição de representantes
dos trabalhadores para os órgãos sociais de empresas pertencentes ao Estado ou
a outras entidades públicas, nos termos da lei”.
Ao Expresso,
Leandro recorda que, embora esta seja uma situação “pouco comum em Portugal”,
não é estranha noutros países. “Todas as grandes empresas na Alemanha têm um
administrador eleito pelos trabalhadores”, afirma.
Já o CGI,
presidido por José Vieira de Andrade, professor catedrático de Direito na
Universidade de Coimbra, tem um entendimento diferente. Recentemente, o
organismo declarou que, embora a Constituição e o Código do Trabalho prevejam a
presença de trabalhadores nas empresas do Estado, os estatutos da RTP –
aprovados pela Lei nº 39/2014 – não preveem esse cenário.
De acordo com o
CGI, a RTP não é “uma entidade pública empresarial”, mas uma “sociedade anónima
de capitais públicos” e, nesse caso, são os estatutos “que determinam qual é o
órgão social em que consubstancia a representação dos trabalhadores e o
respetivo número de representantes”.
Concretamente, os
estatutos preveem que o conselho de administração da RTP deve ser composto por
três membros indigitados pelo CGI, incluindo “apenas administradores
executivos”, e reservam a representação de trabalhadores não para a gestão da
empresa, mas para outros órgãos sociais como o Conselho de Opinião, acrescenta.
Organismo que, aliás, contará com Augusta Henriques, jornalista e apresentadora
dos noticiários da tarde da Antena 1, também eleita no passado dia 24.
Já os
trabalhadores contestam a visão do CGI, defendendo a presença de um quarto
membro – e atribuindo ao novo presidente da RTP, Nicolau Santos, ‘voto de
campeão’, para desempate – na administração da empresa alegando que, embora
este vogal não-executivo não esteja previsto nos estatutos, a Constituição
abre-lhe a porta. Recordando que “ao CGI não cabe aprovar o membro eleito pelos
trabalhadores”, estão dispostos a avançar para tribunal para que os
trabalhadores estejam representados na gestão da empresa.
“Estamos dispostos
a avançar para que isto seja resolvido em tribunal. Não esperamos que vá à
barra do tribunal, mas que o juiz tome uma decisão com base na jurisprudência”,
adianta Alexandre Leandro, alegando que o que se passa agora na RTP não é caso
único em Portugal (Expresso, texto da jornalista Maria João Bourbon)
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