Embora os Governos
de todo o mundo recomendem atividades ao ar livre para diminuir a probabilidade
de contágio de Covid-19, o consenso não é claro entre os cientistas, com um
intenso debate em aberto sobre o tema.
Nenhuma autoridade
de saúde, nomeadamente a própria Organização Mundial da Saúde (OMS), nega que
existam infeções transmitidas pelo ar, ou seja, por respirar partículas virais
que permanecem suspensas no ar após terem sido expelidas por uma pessoa
infetada ao falar ou tossir. Mas a controvérsia permanece, com muitos dos
especialistas a defender que a principal via de infeção são as gotículas que
entram em contacto direto com a pessoa.
A propósito, a
revista científica The Lancet publicou um artigo, citado pelo El País, que
compila as 10 razões científicas que sustentam porque é que o Covid se
transmitir pelo ar. Para os cientistas que assinam o artigo, de universidades
como Oxford, Califórnia e Toronto, esta conclusão “é preocupante pelas
implicações para a saúde pública”, já que não é a mesma coisa que lidar com
umas gotas que caem no solo.
Eventos de alta
propagação
Situações em que muitas pessoas são infetadas no mesmo ambiente são consideradas uma das principais causas da pandemia. A análise de infeções massivas em cruzeiros, restaurantes, lares e instalações prisionais sugere que a via aérea desempenha um papel determinante nestes casos, “que não pode ser explicado adequadamente por gotículas ou superfícies contaminadas”, segundo os cientistas.
Contágio de longo
alcance
A Nova Zelândia
confirmou um contágio entre duas pessoas que se chegaram sequer a cruzar,
causado por má ventilação de um hotel onde estavam várias pessoas em quarentena.
Transmissão
assintomática ou pré-sintomática
O contágio por
parte de pessoas sem sintomas sustenta, segundo os cientistas, “um modo de
transmissão predominantemente aéreo”, uma vez que “medições diretas mostram que
falar produz milhares de partículas para o ar”.
Ambientes
interiores
Desde o início da
pandemia que se sabe que os ambientes interiores são cerca de 20 vezes mais
propensos a causar infeções do que ao ar livre. E que o risco é
significativamente reduzido pela ventilação interna, o que sugere a existência
de uma rota de transmissão aérea, que se dissolve com o ar circulante.
Infeções em
hospitais
Contágios em
centros médicos, onde se aplicam estritas precauções contra o contacto direto,
mas não tanto contra o contágio por partículas microscópicas em suspensão que
podem ser inaladas.
Ar contaminado
Experiências
determinaram que o SARS-CoV-2 permaneceu infecioso no ar por até três horas e
cinco metros de um paciente. Há outros estudos que não conseguiram apanhar
amostras aéreas que pudessem ser cultivadas, ou seja, que mostram a capacidade
de se espalhar. Essa é uma das principais questões que levanta dúvidas: a
ausência de evidências sólidas de vírus que se espalham pelo ar. Os signatários
do artigo reconhecem que a amostra de vírus transmitidos pelo ar é um desafio
técnico e dão um exemplo: “O sarampo e a tuberculose, duas doenças
principalmente transmitidas pelo ar, nunca foram cultivadas a partir do ar
ambiente”.
Filtros de ar
Os cientistas
encontraram evidências do coronavírus em sistemas de ar condicionado ou
condutas de ar dos edifícios, “lugares que só poderiam ser alcançados por
partículas”. Além disso, o uso desses vestígios de coronavírus em filtros de ar
está a ser inclusivamente investigado como um sistema de alerta para a presença
de infeções numa determinada região.
Animais enjaulados
Vários estudos
testaram infeções entre furões e outros animais que estavam em gaiolas
separadas e que só podem ser explicadas pela transmissão aérea.
Provas contra
Os cientistas
admitem um “calcanhar de Aquiles”, como refere o El País. É verdade que muitas
pessoas não ficam infetadas depois de partilharem o ar com pessoas infetadas,
como acontece com outras doenças mais contagiosas pelo ar, como o sarampo.
“Esta situação pode ser explicada por uma combinação de fatores”, justificam,
avançando como causa as diferentes cargas virais dos indivíduos e das condições
ambientais.
Outras vias de
transmissão
Os cientistas
reconhecem que há evidências, mais limitadas, sobre as outras duas possíveis
vias de infeção: gotículas respiratórias e contacto com superfícies. As
autoridades de saúde reconhecem que o último, tocar em objetos contaminados, é
raro, senão muito improvável. As gotículas explicariam melhor os contágios por
proximidade, ainda que o ar seja também uma evidente via de transmissão, pois
concentram-se em maior quantidade perto da pessoa que as expele (Executive
Digest)
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