Portugal é das
economias mais vulneráveis na Europa ao agravamento da pandemia. “A
especialização produtiva nacional é tal que quanto maiores as restrições à
circulação e os receios das pessoas, mais duradoura e profunda é a crise”,
alerta José Maria Brandão de Brito, economista-chefe do Millennium bcp. Em
causa estão, sobretudo, o turismo e o comércio, que são, precisamente, dois
sectores com forte peso na economia nacional e onde esse peso é superior à
média da zona euro.
Dados do Banco de Portugal (BdP) sobre o peso dos diferentes sectores no Valor Acrescentado Bruto (VAB), em 2017, mostram essa diferença na especialização produtiva (ver gráfico). Nos serviços, em particular, Portugal apresenta um peso superior no comércio (13,8% contra 11,1%) e no alojamento e restauração (5,9% contra 3%) e inferior nas atividades profissionais, técnicas e científicas (2,9% contra 3,5%). Ora, de acordo com o inquérito rápido e excecional às empresas, do BdP e do Instituto Nacional de Estatística, o impacto da pandemia foi transversal, mas mais negativo nos serviços e, em especial, no alojamento e restauração (quebra de 71% no volume de negócios entre abril e junho). E, nos últimos anos, o alojamento e restauração até aumentou o seu peso no VAB, nota o BdP no Boletim Económico de outubro, salientando que a maior especialização de Portugal face à área do euro neste sector “traduz-se numa maior vulnerabilidade da economia portuguesa ao impacto da pandemia”.
ABRANDAMENTO OU
NOVA QUEDA?
Resultado:
“Portugal, que já estava a recuperar menos do que o resto da Europa, será
especialmente atingido” pelo agravamento da situação sanitária, considera José
Maria Brandão de Brito.
Podemos chegar a
um cenário de nova contração da economia? Para José Maria Brandão de Brito,
esse cenário “só se coloca se houver novo confinamento generalizado, em
particular com as escolas a fecharem”. E reconhece que “é nesse sentido que se
está a caminhar na Europa”. Por isso, o economista já fala num “abrandamento
forte da recuperação na Europa, que será bastante grave em Portugal”. E
reforça: “Num cenário de agravamento da pandemia, a economia portuguesa vai
fazer sempre pior do que a europeia.”
Também Pedro
Brinca, professor da Nova SBE, afasta, para já, uma nova contração da
atividade, até porque “a economia já teve alguma margem para se adaptar à
situação de pandemia, as organizações têm planos de ação e as pessoas já se
ajustaram”. Por isso, “no quarto trimestre, deverá haver um abrandamento da
recuperação, mas não nova contração em relação aos três meses anteriores. Ainda
para mais porque a recuperação no terceiro trimestre também não terá sido muito
forte, dado que o turismo continuou muito penalizado”.
Mas, “tudo depende
da severidade das medidas de controlo da pandemia que venham a ser impostas”,
reconhece Pedro Brinca, considerando que, mesmo que haja uma nova quebra da
economia portuguesa, “nunca será da dimensão sofrida no segundo trimestre. Uma
queda do PIB de 16% não volta a acontecer”.
João Borges
Assunção diz que é prematuro atribuir uma probabilidade ao cenário de nova
queda da economia “sem saber que medidas está o Governo a pensar tomar”. Mas
adianta que “as nossas previsões de contração da economia portuguesa para este
ano, com um ponto central de 10% e um intervalo de confiança entre 9% e 12% — o
que exclui as previsões do BdP e do Governo, que nos parecem otimistas —, já
integram cenários em que a chamada segunda vaga pode causar abrandamento e
mesmo queda de atividade económica no quarto trimestre”. E remata: “Muitas
empresas, instituições e famílias não têm folga financeira para suportar uma
quebra tão inesperada, pronunciada e longa de atividade. O OE-2021 bem como o
Plano de Recuperação e Resiliência não parecem dar peso adequado a esta
dimensão em toda a sua urgência” (Expresso,
texto da jornalista SÓNIA M. LOURENÇO)
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