“A taxa de
mortalidade vai aumentar porque o número de novos casos está a aumentar muito
ainda. É impossível saber até quando, porque o RT (indicador que define o grau
de transmissibilidade de infeção) não para de aumentar. Era preciso que
estabilizasse, mesmo que acima de 1. Há 15 dias prevíamos que, no fim de
outubro, estivéssemos na casa dos três mil novos casos diários. Desde a semana
passada já estamos a apontar para 3 500. Há duas semanas, pelo menos, que
estamos a ver um sinal do aumento das mortes por Covid-19. A mortalidade tem
diminuído, se dividirmos o número de mortos, pelo número de infetados, já está
na zona dos 2%, quando ao início esteve nos 4%. Mas estes 2% são de um número
maior de doentes, logo em termos absolutos aumenta na mesma”, esclarece Manuel
Carmo Gomes, professor de Epidemiologia da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa e membro da Comissão Técnica de Vacinação.
Segundo Henrique
Lopes, docente do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica,
temos vindo a seguir as linhas previstas pelo Instituto de Métricas e Avaliação
em Saúde (IHME), centro mundial de investigação independente da Universidade de
Washington, responsável pelas modelações para a Organização Mundial da Saúde.
Na Europa e conforme o que estava previsto nas modelações, revistas em agosto,
na mortalidade estamos com um grau de exatidão de 99,5 por cento. Henrique Lopes
alerta de que nas próximas semanas iremos viver “momentos complexos”: a
modelação do IHME aponta para um segundo pico entre 18 e 28 de novembro, daqui
a um mês sensivelmente, mas como estamos a percorrer a linha de previsão com
alguns dias de antecedência, será em meados de novembro.
Comparar os
extremos da distribuição do número de óbitos acentua as diferenças, pois não há
apenas uma razão para o decréscimo. “São várias os fatores que levam a uma
diminuição drástica, na ordem dos três quartos, do número de mortos por mil
habitantes. Há desde logo uma razão estrutural demográfica porque ao início
apanhou populações mais idosas, espalhando-se depois a pessoas mais jovens.
Também passámos por uma época de secura que fez com que mesmo que a pessoa
fosse infetada, a carga viral era mais baixa. Entretanto, houve grandes avanços
na abordagem em termos de médicos e de cuidados intensivos com as ventilações
não invasivas, antecipar a oxigenação, com medicação como a dexametasona, com a
posição em que se colocam os doentes”, explica Henrique Lopes. Pequenos grandes
detalhes desconhecidos em março e abril, que só agora começam a ter os seus
estudos minimamente credíveis. Trata-se de um conjunto de passos isolados, mas
que todos somados alteraram bastante a taxa de mortalidade por um milhão de
doentes, neste momento em 216.
“Hoje, 98% dos doentes estão em casa, ao início da pandemia não. O primeiro grupo de pessoas que foi levado para o Hospital Pulido Valente, em Lisboa, foi apenas para fazer isolamento, ficaram confinadas cerca de dez dias”, lembra o professor de Saúde Pública (Visão)
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