quinta-feira, outubro 29, 2020

Covid-19: As razões para as mortes não estarem a aumentar, apesar do crescimento de infeções nesta segunda vaga

Os mais recente dados disponíveis indicam que a taxa de mortalidade não está a acompanhar a subida de casos. Mas nem tudo são boas notícias. O fenómeno é global: tanto a Europa como os Estados Unidos enfrentam agora uma segunda vaga da pandemia de Covid-19, registando subidas diárias de infeções pelo SARS CoV-2 – mas, segundo a estatística esse aumento não se verifica nas taxas de mortalidade. “A nossa estimativa atual é que esse valor possa aumentar um pouco, mas de forma alguma a valores próximos dos que vivemos anteriormente e é pouco provável que isso mude”.

Quem fala assim é Jason Oke, especialista em estatística do Departamento de Ciências da Saúde do Instituto Nuffield, no Reino Unido, que tem estado a acompanhar as taxas de mortalidade de Covid-19. Segundo as suas pesquisas, no final de junho, a taxa de mortalidade era ligeiramente inferior a 3%, no Reino Unido. Em agosto, tinha descido até aos 0,5% – e atualmente, situava-se nos 0,75 por cento. “Pensamos que é muito devido ao facto de os novos pacientes serem mais novos, mas também por outros fatores, como o tratamento”, sublinhou.  Não é um exclusivo da Europa; nos Estados Unidos verifica-se o mesmo. Segundo um estudo da NYU Grossman School of Medicine, publicado no Journal of Hospital Medicine, enquanto em abril 6,7 % dos casos resultou em morte, agora a mesma taxa não alcança os 2 por cento. 

Doentes mais jovens e melhor tratamento  

A razão mais óbvia para o menor número de mortes é a idade, dado que, na primeira vaga, os mais atingidos foram os mais idosos, depois de o vírus ter alastrado nos lares e hospitais. Entre janeiro e maio, a média das pessoas infetadas estava nos 54 anos, enquanto durante junho e julho já tinha baixado para os 39, dados do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças. “Não quer dizer que não contagia pessoas mais velhas, se isso acontecer claro que esse valor aumenta outra vez”, sublinha à CNN Julian Tang, virologista clínico e professor da Universidade de Leicester. “O que verificámos foi que a variação na gravidade da doença deve-se também à idade do hospedeiro”. 

Além disso, todos são unânimes em reconhecer que agora há melhores tratamentos disponíveis e os prestadores de cuidados de saúde são mais experientes. Mudou igualmente a forma como os doentes são tratados. Por exemplo, os ventiladores, tão amplamente utilizados no início, são menos utilizados enquanto o ato de deitar os doentes de barriga para baixo tornou-se mais comum – depois de se demonstrar que ajuda a aumentar a quantidade de oxigénio que entra nos pulmões de alguns doentes. Há ainda medicamentos (como o remdesivir) que se sabe encurtarem o tempo de duração da infeção e outros (como a dexametaona) que aumentam as hipóteses de sobrevivência. 

Mais testes… maior risco?  

A isto tudo, junta-se o aumento de testes efetuados – embora aqui os especialistas façam várias advertências. A mortalidade por Covid-19 é calculada com base no número de mortes de um total de infeções, o que significa que só é exata ser os números refletirem a realidade.  Ora, como explicou ainda o virologista Julian Tang, se testarmos apenas os casos sintomáticos, isso pode subestimar o número de infetados, tendo em conta que se suspeita haver uma grande proporção de assintomáticos.  “O risco é isso mascarar as taxas de mortalidade nos mais velhos: continuarão a morrer da doença, mas pode não se notar se todos os grupos etários forem avaliados em conjunto” (Visão)

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