O jornal britânico Daily Mail coloca Portugal como o país europeu com maior número de casos de covid-19 por milhão de habitantes, numa lista em que figuram os países preferidos dos britânicos para passar férias. Ministro dos Negócios Estrangeiros português diz ao DN que "a situação epidemiológica de um país não pode ser discutida com base num dia e num indicador", tal como fez o diário. Com o verão à porta, as férias estão entre os temas que mais interesse despertam a quem esteve três meses em confinamento por causa da pandemia de covid-19. O tabloide britânico Daily Mail optou por escrever um artigo, publicado nesta terça-feira, no qual compara as taxas de infeção de covid-19 por milhão de habitantes entre os principais destinos de férias dos ingleses. A conclusão da análise ao indicador de novos casos diários, realizada durante um dia, aponta que apenas dois países têm taxas mais elevados do que o Reino Unido: os Estados Unidos da América e Portugal, com quem o executivo britânico está em negociações para facilitar as viagens de verão. Augusto Santos Silva, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, fala em "informação não contextualizada", em entrevista ao DN. Segundo o governante, "a situação epidemiológica de um país não pode ser discutida com base num dia e num indicador". Augusto Santos Silva lembra que ao comparar a evolução da pandemia em Portugal com a de outros países não pode ser dissociado que os portugueses estão entre aqueles que mais testes de despiste do novo coronavírus realizam por milhão de habitantes. Neste momento, são recolhidas 83 mil análises por cada milhão de cidadãos. Há ainda outros indicadores a ter em conta como o número médio de contágios que cada infetado provoca ao longo do tempo (RT), os óbitos, internamentos em enfermarias e em cuidados intensivos, por exemplo.
As contas do diário britânico - que se encontra entre os mais vendidos no Reino Unido com uma tiragem superior a 1,17 milhões - não incluem estas dimensões. Numa infografia criada pelo próprio Daily Mail, Portugal é apresentado como o país onde há mais risco de contágio na Europa, mas onde deverá ser possível, diz o jornal, passar férias, para além de Itália, que reabriu nesta semana as fronteiras ao Espaço Schengen.
Portugal é colocado à frente de países como Espanha, França, Itália, Emirados Árabes Unidos, África do Sul, Grécia, Holanda, entre outros, como tendo uma taxa superior de infeção. E até do próprio Reino Unido, que esta quinta-feira, registou mais 1 805 casos de coronavírus e 176 mortes. No total, este país tem agora 281 661 casos (quinto número mais elevado do mundo) e 39 904 vítimas mortais (segundo maior do mundo). No mesmo dia, Portugal contabilizou mais 331 novos casos e oito mortes. No total, desde que a pandemia começou, registaram-se 33 592 infetados e 1455 óbitos no país.
Proporcionalmente, o número total de casos notificados desde o início da pandemia por milhão de habitantes coloca Portugal em 23.º lugar no ranking mundial, com 3235 infetados por milhão, de acordo com os dados disponíveis na plataforma EyeData desenvolvida pela agência Lusa. Atrás de Espanha (6151 de casos por milhão), dos Estados Unidos (5813), do Reino Unido (4209), de Itália (3869), dos Emirados Árabes Unidos (3775).
O ministro dos Negócios Estrangeiros levanta ainda a questão da região destino da maioria dos ingleses durante o verão: o Algarve, que tem "números muito baixos comparativamente com os do resto do país". Neste momento, a região Sul apresenta 376 casos de covid-19 e 15 mortes, segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde.
Governos português e britânico estudam facilitação de viagens entre os dois países
Augusto Santos Silva defende que não há risco acrescido em viajar para Portugal, pelo contrário, o país tem respondido "muito bem [à pandemia] em comparação com outros países da União Europeia". Por isso, o executivo português e o britânico estão a negociar uma "ponte aérea" que permita aos turistas do Reino Unido e aos emigrantes portugueses no país evitar a quarentena de 14 dias imposta no regresso a casa, disse o ministro à radio inglesa BBC 4, nesta semana. Ao DN destaca a importância dos turistas ingleses para a economia nacional, tendo em conta que representam a maioria dos estrangeiros que escolhem a região do Algarve como destino de férias. Por isto, o ministério e a embaixada portuguesa no Reino Unido enviaram uma carta à ministra do Interior britânica, Priti Patel, a pedir a criação de um grupo com representantes governamentais das duas nações para discutir as atuais regras que obrigam ao isolamento no regresso à Grã-Bretanha. Ao contrário do que acontece em Portugal continental, que não exige quarentena aos viajantes que chegam a território nacional. Madeira e Açores impõem.
"Respeitamos a decisão do Reino Unido", afirma Augusto Santos Silva, sem deixar de mencionar que considera a medida "excessiva" e um incentivo a "dificuldades severas à mobilidade entre os países". Contactada pelo DN, porta-voz da embaixada britânica em Portugal disse que a ideia da "ponte aérea" encontra-se "em fase de estudo pelo governo britânico e ainda não se sabe quais são os países abrangidos", sem deixar de registar "o interesse e a preocupação de Portugal" (DN, texto da jornalista Rita Rato Nunes)
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