Presumo
que andará muita gente preocupada com a evolução do Chega nas sondagens, depois
da sua estreia (e eleição de um deputado) nas legislativas de 2019. Maquiavel
(Príncipe) afirmava ser "comum nos homens não se preocuparem, na bonança,
com as tempestades".
Eu
não sei se estas sondagens, quer partidárias, quer as pré-presidenciais,
reflectem rigorosamente a forma de pensar dos portugueses ou se existe alguma
distorção deliberada por parte dois cidadãos contactados no terreno pelas
empresas que produzem sondagens que lhes são encomendadas. Mas uma coisa é
certa: o benfiquista Ventura tem-se aguentado em níveis percentuais que
surpreendem - estamos a falar de um projecto surgido em 2019, antes das
legislativas - e representam, penso eu, uma preocupação para muitos partidos.
Recordo
-. pelo paradoxo, ou talvez não... - que Ventura foi descoberto por Passos
Coelho nas autárquicas de 2013, que o candidatou à Câmara de Loures em nome de
uma coligação PSD-CDS, que ficou reduzida ao PSD, depois do CDS se ter afastado
do projecto em causa, após polémicas declarações de Ventura sobre a comunidade
cigana daquela cidade lisboeta. Se é verdade que em democracia temos de
respeitar as opções livres dos eleitores, mesmo que não concordemos com a
expressão dessa liberdade - e o fenómeno da chamada extrema-direita (?)
portuguesa não é único quando se constata o que se passa na Europa democrática
e comunitária, casos da Alemanha, Áustria, Itália, Espanha, Hungria, Holanda,
Bélgica, etc - por outro lado é mais do que evidente que é o sistema
democrático, por esgotamento dos partidos e das instituições e por frustração
de expectativas, factores que conjugados alimentam radicalismos e discursos
mais inflamados e radicais que se transformam nas imagens de marca de fenómenos
políticos que podem ser esporádicos, mas que também podem manter-se nos
espectros partidários mais do que se desejaria.
Por
isso, quando vejo os chamados partidos políticos - ditos tradicionais - optarem
por soluções demagógicas e idiotas (caso do financiamento público), quando o
que se exige dos partidos é que eles tenham condições (incluindo financeiras)
para exercerem a sua actividade, estarem permanentemente no terreno,
contactarem as pessoas em vez de cavarem ainda mais o fosso que os separa dos
cidadãos, e que não tenham motivos para justificarem ausências intoleráveis que
não se podem limitar aos períodos eleitorais, não me resta outra conclusão que
não esta assente em dois itens:
-
por um lado os partidos tradicionais, mais do que andarem envoltos no populismo
patético e absurdo de cortarem uns milhares no seu financiamento, ao mesmo
tempo que enterram milhões em PPPs ou no Novo Banco, deviam era discutir porque
falham, porque se distanciam dos eleitores, porque aumenta perigosamente a
abstenção, porque se afastam os portugueses, nomeadamente os jovens, das urnas,
porque perdem a confiança das pessoas, porque deixaram de ser importantes
quando eles deviam ser, são obrigatoriamente, os alicerces essenciais de
qualquer sistema político democrático. E os cidadãos sabem isso e querem
partidos coerentes, sérios, empenhados, presentes e junto das pessoas.
Os
portugueses nada dirão contra o financiamento dos partidos caso eles se revelem
úteis e estejam presentes, junto das pessoas como lhes compete. É natural que
alguns partidos insignificantes, que vivem apenas em função da eleição de um ou
dois representantes, que garantam a sobrevivência mediática e parlamentar,
tentem manipular e condicionar as agendas dos partidos de maior expressão e
responsabilidades e obrigações acrescidas, conduzindo-os para discussões
populistas e idiotas. Ainda por cima partidos sem expressão relevante mas que
se acham donos da verdade e da ética política, mas que na realidade são um
embuste, uma pura aldrabice desencadeada para propiciar poder (e não só) a
alguns ambiciosos que são a componente mais ridícula de qualquer sistema
político democrático fragilizado, e que, por isso, acabam com o tempo por se
autodestruírem por comprovada inutilidade.
-
em segundo lugar os partidos, em vez de continuarem sentados nos sofás do
comodismo, devem regressar ao terreno, contactar as pessoas com regularidade,
saber o que pensam e o que mais desejam, mudar o discurso, discutir
internamente tudo o que está bem e está mal, deixarem de estar reféns de visões
messiânicas descabidas de algumas lideranças, responderem mais e melhor ao que
deles esperam as pessoas.
Por
isso, conjugando essas lógicas, não me espanta que as pessoas, nestas sondagens
- qual a diferença entre a sondagem e a realidade nas urnas? - se refugiem em
opções que acabam por ser mais um alerta e um aviso aos demais partidos, do que
a expressão de uma convicção verdadeira.
Termino
citando de novo Nicolau Maquiavel: “Um príncipe deve, portanto, aconselhar-se
sempre, mas quando ele entender e não quando os outros quiserem; antes, deve
tirar a vontade a todos de aconselhar alguma coisa sem que ele solicite.
Todavia, deve perguntar muito e ouvir pacientemente a verdade acerca das coisas
perguntadas. Até, achando que alguém, por qualquer temor, não lhe diga a
verdade, não deve o príncipe deixar de mostrar o seu desprazer" (LFM)
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