O processo de venda de parte da Media Capital, proprietária da TVI, ao
empresário Mário Ferreira pode ficar fechado na próxima semana, mas isso não
impede que a Cofina tenha voltado de novo a jogo. A empresa liderada por Paulo
Fernandes, sabe o Expresso, está a tentar manter contactos com os espanhóis da
Prisa com o objetivo de adquirir o controlo da Media Capital, um negócio
interrompido a 11 de março, já com a crise provocada pela pandemia por covid-19
em pano de fundo. Na segunda-feira ao fim do dia chegou às mãos da Prisa uma carta com uma
nova oferta do grupo que detém o “Correio da Manhã”, CMTV, “Jornal de Negócios”
e “Sábado”. A Cofina ofereceu, porém, um valor abaixo da última oferta que teve
em cima da mesa, e que era de 123 milhões de euros por 95% do capital. É a
segunda vez que a Cofina revê o preço inicial, já que o cortou em 50 milhões de
euros em dezembro do ano passado, alegando falhas de informação por parte dos
espanhóis. A Prisa, que tem um litígio com a Cofina precisamente por esta ter
desistido da compra da TVI, ficou surpreendida com a nova investida. E, sabe o
Expresso, já respondeu a Paulo Fernandes recusando a oferta. Fê-lo na
quarta-feira. São pelo menos dois os argumentos dos espanhóis: estão em
negociações exclusivas com Mário Ferreira, dono da empresa turística Douro
Azul. E as relações ficaram crispadas quando, em março, a Cofina disse que
afinal não iria avançar com o negócio.
COVID-19 E “VIOLAÇÕES CONTRATUAIS GRAVES”
A Cofina justificou o fim do negócio com a “inesperada e muito
significativa degradação da situação financeira e perspetivas da Media Capital,
especialmente agravadas pelo presente contexto de emergência causado pela
pandemia covid-19”, assim como com o “comportamento da Prisa, que incorreu em
violações contratuais graves e, por último, manifestou expressamente a intenção
de não cumprir o contrato, o que afetou irremediavelmente a relação de
confiança entre as partes”.
A Prisa parece agora recusar-se a sentar-se de novo à mesa com Paulo
Fernandes, posição que caiu mal dentro da própria Cofina. Resta saber se este é
um não definitivo. Nem a Prisa nem a Cofina quiseram fazer qualquer comentário.
Não obstante, isto é um sinal de que o grupo liderado por Paulo Fernandes ainda
não desistiu de adquirir o canal de Queluz. Na realidade, o caminho que a
Cofina teria de fazer para concluir o negócio está praticamente todo feito, já
tem a aprovação dos reguladores, a Entidade Reguladora para a Comunicação
Social — ERC, a Autoridade Nacional das Comunicações — ANACOM e a Autoridade da
Concorrência (AdC), e Paulo Fernandes conhece as contas e cantos à casa. Os
pressupostos do negócio mantêm-se, apesar de os espanhóis terem avançado com
uma ação contra a Cofina, exigindo a caução de 10 milhões de euros pela
interrupção do negócio. A retirada de campo do grupo de Paulo Fernandes em
março deixou irritados os espanhóis, o que poderá tornar o caminho mais
difícil. Para já, e até 15 de maio, decorrem negociações exclusivas da Prisa
com Mário Ferreira, que iria ser parceiro da Cofina caso o negócio tivesse
avançado. O proprietário da Douro Azul fez uma proposta para a compra de 30,2%
da dona da TVI, TVI24, Rádio Comercial e da produtora Plural, um dos trunfos do
grupo.
O renovado interesse da Cofina poderá estar relacionado com o facto de a
televisão ter ganho um novo fôlego na sequência da pandemia e do confinamento a
que os portugueses têm sido obrigados. Um processo que corre paralelo com a
quebra expressiva das vendas dos jornais do grupo, nomeadamente do “Correio da
Manhã” (Expresso, texto dos jornalistas ANABELA CAMPOS E JOÃO VIEIRA PEREIRA)
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