O risco de contágio nos aviões existe, como há sempre nos espaços fechados, mas é mais fácil de controlar a qualidade do ar nas aeronaves do que no metro e nos autocarros. Portugal tinha a lotação dos voos limitada a dois terços, uma regra que deixou cair, adotando as orientações europeias. A 2 de maio, o Governo publicou uma portaria para limitar o transporte aéreo de passageiros a dois terços da lotação, por causa da pandemia de covid-19. Um mês depois, a 1 de junho esta regra cairá, e vai deixar de haver lotação de voos. Portugal seguiu as recomendações internacionais que fizeram eco da contestação das companhias aéreas, mas a dúvida subsiste: porque é que no metro e no autocarro é preciso deixar um lugar vago e nos aviões não? O risco de contágio não é o mesmo?
Nos aviões, cai a regra da lotação, mas é obrigatório o uso de máscara, há limpeza e desinfeção mais rigorosa e mais alargada do que antes da pandemia, e filtros de ar específicos, idênticos aos que há nos blocos operatórios. A TAP assegura que "implementou procedimentos adicionais de limpeza e desinfeção específicos para o combate ao coronavírus" e afirma que os filtros de limpeza do ar são uma garantia de mitigação dos riscos, renovando o ar 20 vezes por hora. O facto de se tratar de um espaço fechado e pressurizado obriga a regras e mecanismos de controlo da qualidade do ar mais apertados, e nesse sentido mais monitorizados.
“O risco num avião, com máscara e limpeza, dado o sistema de renovação do ar, deve ser baixíssimo", diz o professor catedrático de epidemiologia e presidente do Conselho Nacional de Saúde, Henrique Barros. Investigador do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, Pedro Simas concorda. Sublinha que "existe sempre risco de infeção num espaço fechado" embora "dentro de um avião seja mais fácil de controlar do que num autocarro ou no metro, por exemplo". Ambos os especialistas afirmam que as autoridades europeias são competentes para decidir a reabertura do espaço aéreo e a lotação das aeronaves. E a Comissão Europeia tem dito que não há razões para limitar a lotação dos aviões.
As entradas de passageiros nos aeroportos e nos aviões são habitualmente mais sujeitas a controlo do que no metro ou no autocarro, onde as pessoas entram livremente, e sem barreiras, pelo que o potencial risco nestes últimos casos também é maior.
“Permanece uma grande confusão de conceitos, entre o risco de infeção, os grupos de risco e o risco para os serviços de saúde. Para quem não está no grupo de risco, o risco de infeção não tem risco de doença grave ou de morte", explica Pedro Simas. E afirma: "As pessoas não podem pensar que ao serem infetadas vão ter doença grave ou até morrer. O problema está, sim, nos lares e nos grupos de risco e é nesses que nos devemos concentrar e proteger."
TAP promete "desinfeção preventiva"
"Para além da rigorosa higiene e limpeza de rotina que a TAP sempre fez nos aviões, a companhia implementou procedimentos adicionais de limpeza e desinfeção, específicos para o combate ao coronavírus", assegura a transportadora. E avança que os serviços de terra "estão agora responsáveis por três tipos de limpeza: a de rotina, que sempre se fez, e a que se juntaram, entretanto, a desinfeção preventiva – obrigatória em todos os voos provenientes de zonas de alto risco, e que a TAP tem realizado em todos os aviões que chegam a Lisboa, independentemente da origem".
A transportadora sublinha ainda que há uma desinfeção aprofundada após o contacto com um caso suspeito, validado pela autoridade de saúde. "Nesse caso, será desinfetado o lugar ocupado pelo passageiro doente e os dois lugares mais próximos – à frente, atrás, à esquerda, à direita e na diagonal – e a casa de banho, reforçando a limpeza e desinfeção de todas as superfícies frequentemente manuseadas por ele."
A TAP diz também que usa um "novo produto desinfetante, de longa duração, na limpeza feita em cada voo, capaz de eliminar, de forma rápida e eficaz, todas as bactérias, fungos e vírus encapsulados, como é o vírus da COVID-19, contribuindo também para a melhoria da qualidade do ar. Todos os produtos biocidas estão homologados pelas autoridades, em linha com as especificações de segurança aeronáutica e dos fabricantes dos nossos aviões. Além disso, o material de limpeza (panos, esfregonas, etc.) utilizado, assim como os respetivos códigos de cor, são diferentes para cada zona do avião, por forma a reduzir a contaminação cruzada".
A companhia diz que nada lhe escapa, e aponta um a um os locais higienizados. "Assentos, encostos de cabeça, apoios de braço, cintos de segurança, comandos e monitores, mesas, bolsas e folhetos de segurança são completamente higienizados. A desinfeção é feita também nos tetos, bagageiras, luzes de leitura e saídas de ar, painéis laterais, janelas e paredes. Os lavabos são desinfetados em profundidade, incluindo o teto e compartimentos para o lixo, portas e puxadores."
Ar renovado a cada 2 a 3 minutos
"Os aviões da TAP estão equipados com um sistema de reciclagem do ar vertical, que renova totalmente o ar da cabina a cada 2/3 minutos, 20 vezes numa hora", avança a companhia. "Este sistema vertical funciona por seções, de cinco filas de bancos, o que garante ar fresco em todas as zonas do avião, ao mesmo tempo e com a mesma qualidade", acrescenta.
A TAP explica ainda que "este sistema utiliza filtros HEPA (High Efficiency Particulate Air), idênticos aos utilizados nos blocos operatórios, conseguindo extrair 99,999% dos vírus, mesmo mais pequenos, incluindo vírus com apenas 0,01 micrómetro". E a companhia diz que "as tripulações estão também formadas para atuar sobre a identificação, abordagem e tratamento de casos suspeitos de doença infetocontagiosa a bordo, onde se inclui o COVID-19, e dispõem, em todos os voos, do equipamento e consumíveis necessários para o efeito". A TAP sublinha que já antes da pandemia "cumpria os mais altos padrões de limpeza das aeronaves – aliás, já era um dos pontos melhor avaliados pelos seus clientes" (Expresso, texto das jornalistas Anabela Campos e Vera Lúcia Arreigoso)
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