Temos
vindo a assistir ao longo de 2019 a uma tremenda (e crescente) pressão dos
meios de comunicação social no sentido do Estado, que espatifa milhares de
milhões de euros na banca e outros sectores falidos, poder encontrar formas de
apoio ao sector que impeçam o descalabro e o acentuar do caos financeiro com a
multiplicação de empresas à beira da falência e das ruína, com todas as consequências
de ordem social daí resultantes.
Não
há, seguindo creio, um estudo que nos dê uma ideia concreta do retrato actual do
sector, do nível de endividamento das empresas - sabe-se que há televisões que
devem milhões aos bancos e que reestruturam a sua dívida, bem como que existem empresas
de média que têm vindo a reduzir drasticamente os seus quadros e a qualidade do
produto final exactamente porque não dispõem de recursos necessários para
responder em todas as frentes com a qualidade desejada. Julgo que não será
exagerado afirmar que mais de 90% das empresas de comunicação social em Portugal
estão em situação difícil e lutando pela sobrevivência e que muitas disfarçam a
realidade graças à injecção de capital por parte dos proprietários privados que
não querem assumir, por enquanto, o fracasso de projectos empresariais nesta
área tão complexa.
Há
quem se melindre, eu sei, quando se afirma que a comunicação social é hoje uma área
de negócio como qualquer outra, e que nada a diferencia, em termos dos investidores
e da estabilidade empresarial, de qualquer outra área de actividade.
Claro
que o Estado reage com desconfiança a estas pressões – que contam com a
solidariedade activa e persistente do Presidente da República, ele próprio um
profissional da comunicação social no passado. Durante anos, por razões sobretudo
políticas e orçamentais, o Jornal da Madeira ocupava primeiras páginas informativas
de jornais, televisões e rádios, regionais e nacionais. Muitas empresas concorrentes
estavam contra qualquer tipo de apoio público ao JM, (apesar do GRM ser
detentor da quase totalidade do capital social da empresa) reclamavam o fim
desses apoios públicos, exigindo um novo modelo que garantisse a igualdade de
oportunidades e de condições. A verdade é que bastaram dois ou três anos para
que tudo mudasse no panorama da comunicação social, cujas dificuldades não
poupam a própria Região. Não há um dia que seja em que, quer em editoriais,
debates televisivos ou radiofónicos, quer em textos de jornais, se alerte para
a importância da comunicação social para a consolidação da democracia, para a degradante
situação das empresas do sector e para a urgente necessidade de ser reaberto,
sem complexos, paixões ou vergonhas, um debate que por puro puritanismo político
foi mantido encerrado nos últimos 15 ou 20 anos. Falo do apoio público do estado
ao sector, da concessão de apoios financeiros, de programas para apoiar
diferentes áreas de intervenção dos média que exigem cada vez mais recursos humanos
e financeiros para mudanças constantes que são urgentes e decisivas.
O
digital veio acabar com muita coisa e acabar sobretudo com algum acomodamento
que havia por aí, b em como com certas manias de grandeza dos meios de
comunicação social tradicionais que desvalorizaram ou fecharam os olhos erradamente
ao avanço lento, desordenado, desregulado, perigoso, populista, justiceiro,
insultuoso, muitas vezes ordinário do chamado ”jornalismo popular”
consubstanciado nas redes sociais com o Facebook e a blogoesfera na cabeça
deste movimento.
O problema é que o sector além de pagar mal aos novos
jornalistas, na sua maioria saídos das universidades, devido a uma gritante
escassez de recursos humanos adopta uma postura de exploração horária indevida,
provocando uma sobrecarga de trabalho e um imenso stress nas redações com tudo
o que de negativo daí resulta. A realidade salarial em vez de estimular a procura
do sector por jovens licenciados, afasta-os para outras oportunidades de trabalho,
no sector da comunicação social ou fora dele. A comunicação social para além da
sua crise financeira e de uma crise de credibilidade colectiva, padece de um
mal que não é só seu, o da injustiça salarial que impede a renovação de quadros
com tudo o que de positivo resultaria daí. Por outro lado os média privados
parecem estagnados, já que os proprietários recusam investir em níveis que
seriam os desejados. Operações de cosmética, meramente pontuais, não resolvem
os problemas numa altura, ainda por cima, em que a pressão do digital e a
presença cada vez maior das redes sociais no quotidiano das pessoas, afecta os
média de uma maneira geral, provocando reduções drásticas de vendas e, por tabela
e por força disso, reduções igualmente acentuadas de receitas publicitárias em queda
perigosa. Isto porque a realidade financeira do universo empresarial português,
no que à publicidade diz respeito - ressalvando as empresas maiores - também
tem vindo a distanciar-se da publicidade mais tradicional e que os jornais apreciavam.
A aposta é cada vez mais no digital, multiplicam-se
projectos de jornalismo digital, muitos deles que começam a dar timidamente os
seus primeiros passos - na Madeira temos um exemplo desses, o Funchal Notícias
e alguns blogues que continuam a tentar ser meios de informação alternativos ou
complementares dos tradicionais – projectos digitais privados que apesar de
esbarrarem ainda em dificuldades de afirmação, que decorrem de limitadíssimas
disponibilidades financeiras, precisar de reforçar esta aposta no digital,
desde logo nos recursos humanos, pelo que a chamada imprensa tradicional, nomeadamente
os jornais e revistas, começam a sentir dificuldades.
Curiosamente, ou talvez não, os jornais que mais se vendem
em Portugal e os canais de televisão mais em ascensão no mercado nacional são
aqueles que deixam mais espaço ao chamado jornalismo populista onde o crime, a intriga,
o sangue, a corrupção, o mundo do futebol, são os que mais atraem as pessoas.
A publicidade
Um estudo recente
da Marktest mostrou que a NOS Comunicações foi em Outubro o maior anunciante,
seguido da Altice Portugal e do Modelo Continente na terceira posição. Entre os
20 maiores investidores publicitários, estavam 6 empresas do grande consumo, 5
da grande distribuição, 2 do sector automóvel, 2 da restauração, 2 das
telecomunicações e 3 de outros sectores. Os maiores investidores privilegiaram
a televisão - para onde canalizaram 91,6% dos seus orçamentos - à Internet
dedicaram 4,4% dos montantes e aos outros meios só 4% do valor gasto em
publicidade.
Para percebermos as dificuldades da imprensa refira-se
que entre Janeiro e Outubro deste ano, a maior fatia do investimento em
publicidade foi canalizada para a televisão, com 82, 3%, enquanto a Internet
captou 7,6% dos montantes totais, a imprensa 4,1%, e 6% para outros meios.
Num recente encontro no qual estiveram presentes Sofia Branco e Marcelo
Rebelo de Sousa, foi abordada a ”regulação praticamente inexistente, a escassa
auto-regulação e autocrítica, os modelos de governação incipientes, as novas
formas de consumo de notícias, a canibalização de receitas publicitárias por
gigantes tecnológicos” como algumas das causas que conduziram a comunicação social
a uma prolongada crise financeira e de credibilidade. MRS colocou o tema na
agenda, o sindicato dos Jornalistas foi atrás dele, e bem, lançando propostas
para reflexão, mas tudo indica que o governo de Costa vai recusar qualquer
medida de apoio, ou seja, fará um enorme manguito a tudo isto e a esta pressão
toda.
Centeno vai fazer um manguito
Por isso, e como nota final, sou favorável da adopção de medidas de apoio financeiro do Estado aos jornais e outros meios de comunicação social em dificuldades, e que seja celebrado um contrato de Legislatura definindo os vários modelos desses apoios - financeiros e outros - contrato esse que defina obrigações e deveres de ambas as partes e que não signifique qualquer envolvimento do estado nos meios de comunicação social privados, seja directa, seja indirectamente, seja às descaradas, seja usando a pressão nos canais mais "discretos". E que qualquer programa, por exemplo de publicidade não sirva de pretexto para colocar os meios de comunicação social, dada a dimensão das suas necessidades, totalmente dependentes dos favores de ministérios ou de entidades públicas controladas pelo governo. Confio que MRS poderá ser um regulador importante neste contexto, apesar de eu não acreditar que Mário Centeno - que não tem simpatia pela comunicação social, ao contrário de Costa que vive da sua mediatização - esteja disposto a ceder seja o que for na sua fobia criminosa de apresentar perante a Europa um excedente orçamental já em 2020, tudo para que algum tacho no estrangeiro lhe possa sorrir, tal como aconteceu com o Vítor Gaspar de má memória e que foi um dos maiores hipócritas que passaram pelo Ministério das Finanças. Um asqueroso que fugiu para o FMI onde mete na pança 25 mil euros mensais mais mordomias, depois de ter adoptado medidas de perseguição dos portugueses, indiscriminadamente, que serviram apenas para que o PS chegasse ao poder. Porque no que à banca diz respeito esse Gaspar tal como este Centeno são mãos largas de milhares de milhões de euros para tapar buracos deixados por uma corja de bandalhos corruptos que deviam estar todos presos por terem andado a roubar e a enganar pessoas e o próprio Estado (LFM)
Sem comentários:
Enviar um comentário