Temos falado muito (mais ouvido falar...) da pobreza, na Madeira, no País e na Europa. Confesso que a pobreza e a miséria me incomodam. E muito. E incomodam muito mais quando se percebe, seja em que dimensão geográfica vivermos, que ela também decorre da incapacidade política e governativa para encontrar soluções socialmente equilibradas que atenuem esse sofrimento.
Quando me falam em pobreza, miséria, privação extrema, sofrimento levado aos limites, etc, tudo isso cruzado com a pretensa "justiça divina", é óbvio que o somatório de pequenos factos contraditórios acabam por nos afastar de quaisquer atitudes religiosas mais complacentes (antes marcadas por uma impensável incondicionalidade, sem exigências de retorno), indiferentes ao facto de terem sido construídas ainda na infância mas que ao poucos se desvaneceram, principalmente quando nos apercebemos da falta de uma lógica e da injustiça de situações que vemos na nossa caminhada.
O que me incomoda mais, demasiado, é o facto de ficar com a percepção de que sempre que ouvimos os políticos dos nossos dias - esgotadas outras bandeiras eleitoralistas e mais propensas ao populismo baratucho - falarem a espaços de pobreza, eles apenas o fazem porque foram confrontados com dados estatísticos, sem disfarçarem uma intencionalidade eleitoralista subjacente. Oportunismo eleitoralista que é negativamente proporcional à sinceridade medida pelas acções concretas e não pelo discurso demagógico e populista, mais ou menos fácil, enraizado numa incontornável tendência de caça ao voto. Quando já nem sequer estamos a um ano de nova consulta popular, é óbvio que quanto maior for a "preocupação" (meti aspas...) dos políticos - então na oposição esse discurso populista é olhado como um potencial "maná dos céus" que acaba sempre por falhar, e ainda bem... - menor é a realidade concreta de eficaz combate a essa pobreza que mancha uma sociedade e ofende a dignidade humana que por alegada intercepção divina a todos devia estar garantida.
O problema é que os políticos não elaboram um quadro da realidade social, limitam-se a usar indicadores estatísticos de terceiros, não cruzam informações, não localizam geograficamente os problemas, limitam-se a actuar com base na dedução e na facilidade, maior ou menor, do discurso mediatizado, na esperança que ele possa render uns votitos, sem que exista uma sincera preocupação em reduzir o número de cidadãos na pobreza ou nos limites dela. (LFM)
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