Diz a jornalista do Público ALEXANDRA CAMPOS
que “as piores previsões não se confirmaram. Em 2014, o número de nascimentos
deverá ser semelhante ao de 2013, contrariando a tendência verificada nos
últimos três anos, em que sucessivas quedas abruptas na taxa de natalidade fizeram
soar campainhas de alarme e colocaram na agenda política o fenómeno do declínio
demográfico. Este ano, entre Janeiro e Novembro, o número de “testes do
pezinho” (exames de rastreio feitos aos bebés nos primeiros dias de vida)
indica que nasceram em Portugal apenas menos 58 crianças do que no mesmo
período do ano anterior. Ao longo destes 11 meses, foram rastreados 75 985
recém-nascidos, enquanto no mesmo período do ano passado tinham sido estudados
76 043, especifica Laura Vilarinho, responsável pela Unidade de Rastreio
Neonatal, Metabolismo e Genética do Instituto de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que
acompanha a evolução dos nascimentos com base nestes testes de diagnóstico
precoce. Depois de um primeiro semestre que fazia pensar numa nova quebra da
natalidade em 2014, o aumento verificado nestes últimos meses compensou a
descida, e, se em Dezembro não houver surpresas, teremos um ano idêntico do de
2013. “De Janeiro a Novembro, o número de testes é semelhante ao do ano
passado”, constata Laura Vilarinho, satisfeita com esta “recuperação”. Poderá
dizer-se que estamos perante uma mudança de tendência? Cautelosa, Laura
Vilarinho lembra que a queda da natalidade em Portugal não é um fenómeno
recente e que só depois de o total de nascimentos ter ficado abaixo dos 100 mil
por ano é que começou a ser um tema de discussão e preocupação. Quando o
programa de rastreio neonatal se iniciou, em 1979, nasciam cerca de 160 mil
crianças por ano em Portugal, ou seja, quase o dobro do que acontece
actualmente (em 2013 nasceram 82 787 bebés). Outros especialistas ouvidos pelo
PÚBLICO defendem também que ainda é cedo para retirar conclusões. “Poderá ser o
princípio de uma inflexão. Mas provavelmente é conjuntural. Nos anos
anteriores, houve um adiamento da maternidade, uma contenção, mas não podíamos
continuar sempre a baixar. A expectativa de que as circunstâncias iam mudar não
se verificou e as pessoas não esperaram mais, concretizaram o seu desejo de ter
filhos”, ensaia, em jeito de explicação, a demógrafa e professora catedrática
no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa
Ana Fernandes. A especialista sublinha, porém, que a taxa de natalidade “não é
tudo” e que é preciso olhar para a taxa de fecundidade – ou seja, o número de
filhos por mulher em idade fértil”