"Até lá, a troika deixa subir o défice meio ponto, voltamos aos mercados e
os juros tornam-se incomportáveis. A história vai repetir-se. Torna-se claro
e óbvio que Portugal vai regressar aos mercados lá para Setembro e que,
passados uns meses, volta a precisar de ajuda para se financiar, a fim de
evitar juros agiotas.
A ajuda voltará a ser dada sob a forma
de troika ou com outra qualquer geometria, mas é um cenário mais do que provável,
para não dizer que é certo.Todos os santos dias que passam se somam indícios
dessa inevitabilidade. São défices a crescer, recessões acima do previsto,
receitas abaixo do esperado, desemprego em ascensão, despesas sociais a
subirem, empresas a fecharem, pessoas a emigrarem, capitais a fugirem, enfim,
toda a panóplia de episódios que antecipam as rupturas económicas que depois
degeneram em dramas sociais cada vez mais graves.
Bem podem uns dirigentes europeus dar
umas loas a Portugal e assinalarem uns pontos positivos. São afirmações destinadas
a evitar agitações nos mercados europeus, mais do que propriamente para
considerar que Portugal está no bom caminho. Só não é emitido um diagnóstico
sinistro porque o nosso país está colado à economia espanhola e o que se passar
cá pode agravar as circunstâncias económicas do vizinho, gerando então um
problema incontrolável e colossal para a Europa de norte a sul.
Perante estas circunstâncias recessivas
só há uma solução possível no imediato: permitir novamente a flexibilização dos
números do défice que foram estabelecidos com a troika, conforme ontem mesmo
admitiram, juntos em Lisboa, o presidente do Eurogrupo e Vítor Gaspar. É claro
que dar isso já por adquirido seria uma reviravolta excessiva em relação ao
discurso oficial. Optou-se antes por uma acção psicológica para preparar o
inevitável.
Portanto, não há que ver. O caminho está
definido. E as etapas são claras. Agora proclama-se que a coisa não está
brilhante e que podemos precisar de uma autorização para aumentar o défice.
Dentro de um mês pede-se o tal meio por centro de tolerância. A seguir vamos
aos mercados e uns meses depois somos resgatados.
Ao longo de dois anos houve várias
alterações aos objectivos assentes com a troika, sempre motivadas pela evolução
negativa da nossa economia, que entrou numa espiral recessiva dada a
intransigência de Vítor Gaspar ao encetar uma política meramente orçamental,
descurando a economia.
Agora é evidente que já não há tempo de
inflectir o percurso de queda e que vamos chegar ao fim deste ciclo numa
situação muito pior do que aquela em que estávamos quando fomos resgatados.
A economia está morta e os portugueses estão exaustos psicológica e financeiramente, o que torna impossível um arranque da economia num prazo inferior a três ou quatro anos.
A economia está morta e os portugueses estão exaustos psicológica e financeiramente, o que torna impossível um arranque da economia num prazo inferior a três ou quatro anos.
É a verdadeira pescadinha de rabo na
boca, que só não se engole a si própria porque está morta e frita. Nós vamos
vivendo, mas a girar sobre nós próprios numa espiral tão dramática como
imparável, a menos que haja uma alteração radical de circunstâncias que
modifique todas as premissas externas e internas. Ainda ontem, Paul Krugman
dizia no seu blogue que “o importante, agora, é mudar as políticas que estão a
criar esse pesadelo”. Não sendo um santo da casa, talvez ele seja ouvido. Mas
convenhamos que é pouco provável…"
(texto
de Eduardo
Oliveira Silva,
Jornal I, com a devida vénia)