"A estratégia de comunicação do Governo começa a cansar de tantas vezes usada. E é criticada mesmo dentro do PSD e do CDS. A decisão de divulgar a receita do FMI esta semana estava tomada há dias entre os mais próximos do primeiro-ministro. Passos Coelho encerra na próxima quarta-feira uma conferência que ele próprio promoveu sobre a reforma do Estado e a ideia era usar o relatório do FMI para abrir a discussão com estrondo, cabendo ao Governo moderá-lo. A estratégia não é nova e há até no Executivo quem a compare à técnica dos vendedores de tapetes: “Começam por lançar propostas absurdas para depois acabarem num acordo razoável”. É o que o Governo tem feito. Foi assim com a proposta da meia hora a mais de trabalho, que insistiram em entregar no Parlamento para depois recuarem na concertação social. Foi assim com os primeiros números postos nos jornais sobre os funcionários públicos que não veriam os contratos renovados (50 mil), para logo a seguir o ministro Miguel Relvas vir dizer que afinal eram só 15 mil. E foi assim com os cálculos para as indemnizações (12 dias por ano de trabalho), que o Governo teimou em aprovar em Conselho de Ministros incendiando os parceiros sociais para, em menos de dois dias, manifestar abertura para negociar.
“Num tempo em que o valor das palavras se perdeu, aposta-se no choque térmico”, explicou ao Expresso um responsável do Governo. “Parte-se de um anúncio maximalista e caminha-se para um resultado minimalista”, confirma um ministro. A estratégia está longe de ser pacífica no Executivo e nos dois partidos da coligação. Num vídeo no Facebook, o eurodeputado do CDS Diogo Feio arrasava esta semana a forma como o Governo geriu a divulgação do relatório do FMI: “Ano Novo, comunicação velha. Não se compreende como é que este relatório vem a conhecimento público sem mais”. Também Marques Mendes, no seu comentário semanal, considerou que “lançar um relatório destes de supetão, sem preparar a opinião púbica, é um murro no estômago”.
Mas não foram os únicos a ficar em choque com a forma como se permitiu que a discussão dos cortes ficasse colada a receitas do FMI com medidas radicais. Aliás, um dos receios dentro da coligação, é que a forma como o Governo lançou a questão tenha posto em causa todo o processo daqui para a frente. “Corremos o risco de que todas as medidas que estão no relatório do FMI sejam rotuladas por igual, tanto as mais radicais como aquelas que o Governo quer aplicar”, lamenta um dirigente centrista. A reação epidérmica dos parceiros sociais, mas também do PS, parecem ser um sinal disso” (fonte: Expresso, trexto de Â.S. com F.S.C, com a devida vénia)