"Passos Coelho fechou a célebre conferência sobre a reforma do Estado (agora já com os jornalistas todos presentes) com uma frase deveras interessante de analisar: "O país não pode parar só por não haver consensos". Aparentemente, a frase faz sentido e revela um homem determinado; porém, se pensarmos segunda vez é uma frase profundamente errada. As reformas que o país tem de fazer não podem ser feitas 'apesar do país'. O mandato que o Governo tem não pode ser 'contra o país'. As reformas que constitucionalmente precisam de consenso têm de ser obtidas com o consenso necessário. A frase de Passos é, por isso, totalmente desprovida de sentido, a menos que implicitamente haja a ameaça de um golpe palaciano ou pior. À arte de transformar uma sociedade nos limites do que é possível chama-se governar. Talvez se o primeiro-ministro pensasse mais nisto, e menos em voluntarismos sem sentido, fosse capaz de arranjar soluções e reformas de que, verdadeiramente, necessitamos. E em vez de seguir, isolado, não se sabe para onde, conseguisse alguns aliados. Mas a escolha está feita, e com ela mais uma oportunidade perdida" (texto de Henrique Monteiro, no Expresso, coma devida vénia)