"O mundo está a abarrotar de crises, desde um terramoto e tsunami no Japão à revolução e repressão no Médio Oriente. Todavia, para um pequeno segmento da população, é tempo de festa. Os ricos estão a começar a gastar outra vez; quanto mais ostensivo o consumo, melhor. Acabadas as exortações aos banqueiros, nos dias negros de 2008 e 2009, para refrearem comportamentos extravagantes e se comportarem mais dentro da normalidade, banida a limusina em favor do táxi e reduzidas as farras de Natal, os milionários, ou melhor, os bilionários, estão de volta e em força. Muitos dos novos ricos são asiáticos. Não tenho a certeza do que isso significa exactamente. Os ricos têm sempre dinheiro para gastar, seja nos tempos fáceis, seja nos difíceis. Embora a sua vantagem seja ainda maior numa altura em que as famílias da classe baixa - e média - estão em dificuldades, os senhores feudais dos tempos modernos querem passar uma imagem de solidariedade para com os apuros da classe trabalhadora.O facto de os gastos extravagantes estarem de regresso pode ser um sinal de que - tragédia humana no Japão à parte - o pior já passou para a economia global. Seguem-se alguns exemplos de que os ricos estão hoje em dia a gastar mais: Nº 1: Cão come ração ou cão come marisco? Na semana passada, um barão chinês do carvão pagou a quantia recorde de 1,5 milhões de dólares por um mastim (cão de raça) tibetano vermelho chamado Big Splash - ou Hong Dong, em chinês. Os tibetanos crêem que os mastins têm as almas de falecidos monges que não conseguiram entrar no reino dos céus ou reencarnar. Mesmo que o comprador do Big Splash acredite que 10 milhões de yuan chineses seja um preço baixo a pagar por um possível lugar no céu, parece-nos ainda assim demasiado dinheiro. Big Splash terá as condições a que está habituado, com um menu de iguarias chinesas, incluindo pepino-do-mar e abalone, a complementarem a sua ração. De acordo com o American Kennel Club, os mastins tibetanos têm mandíbulas e dentes excepcionalmente fortes e uma "lendária apetência por madeira", o que pode resultar numa grande destruição em casa. Pode ser uma solução para um problema de excesso de habitação! Além disso, quando se pode pagar 1,5 milhões de dólares por um amigo peludo, substituir os rodapés de vez em quando não deverá ser problema. Nº 2: O meu Jumbo particular. Para os fãs de ténis, a publicidade aos NetJets feita por Roger Federer acrescentou aos voos privados um certo toque de estilo. Os bilionários de hoje não querem partilhar. Estão a fazer fila para comprar os seus próprios Jumbos particulares. Segundo o The Wall Street Journal Wealth Report Blog, as vendas de Boeings 747 e Airbus A380 a clientes particulares estão a bater recordes. De acordo com um post deste blogue que faz referência a um artigo de 11 de Fevereiro na Aviation Week & Space Technology, "as vendas de aviões jumbo a privados estão tão altas que a Airbus e a Boeing têm agora equipas especiais de vendas dedicadas aos potentados e aos hiper-ricos". As duas empresas venderam no ano passado 37 jumbos VIP e aumentam a lista de pedidos. Pode parecer extravagante o príncipe saudita Alwaleed Bin Talal fazer o upgrade do seu Boeing 747 para um Airbus A380, que comporta 853 passageiros, mas, por outro lado, com esta capacidade, não terá de se preocupar com estadias em hotel. Nº 3: Exibicionismo indecoroso Se deseja um lar com uma vista panorâmica do horizonte, porque não comprar um arranha-céus de 27 andares para sua residência? Foi isso que fez o homem mais rico da Índia, Mukesh Ambani, presidente da Reliance Industries Ltd., ao construir em Bombaim o que se acredita ser a residência mais cara do mundo. Antilia, o lar de 1000 milhões de dólares, com 37.000 metros quadrados, que tem o nome de uma ilha mitológica, tem nove elevadores, um anfiteatro de 50 lugares, salão de baile e heliporto. O spa inclui piscina, sauna, sala de ioga, estúdios de dança e um bar de sumos de fruta. Os primeiros seis andares do edifício foram utilizados para um parque de estacionamento - reservado apenas à família Ambani, seus convidados e empregados domésticos. Com uma estimativa de metade da população de Bombaim a viver em barracas, não deve ser difícil a Ambani, à sua mulher e aos seus três filhos contratarem um corpo de 600 empregados para os servir. Nº 4: Aviões, comboios e helicópteros. Embora seja habitual em algumas zonas da Ásia a família da noiva oferecer um dote ao noivo, não é todos os dias que o futuro esposo recebe um helicóptero Bell 429 no valor de quatro milhões de dólares. Segundo relatos da imprensa, o casamento em si custou qualquer coisa entre os 22 e os 55 milhões de dólares, o que o torna o mais caro já registado. O filho e a filha de duas famílias indianas abastadas e bem relacionadas celebraram as suas núpcias numa festa de sete dias com 2000 dos seus amigos mais próximos. "A espuma parece mesmo estar a formar-se de novo na esfera Dom Perignon", disse num email Robert Frank, que escreve para o blogue do Journal"s Wealth. Espuma! Ora aí está uma palavra que eu já não ouvia há muito tempo. Pouco antes de se demitir do cargo de presidente da Reserva Federal dos EUA, em 2006, Alan Greenspan admitiu haver alguma dessa espuma no mercado imobiliário. O resto, como se costuma dizer, é história” (por Caroline Baum, fundadora do Good Reading Magazine, publicado no Publico, com a devida venia)
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